Sexta-feira partimos de Lisboa no voo das 7h com destino a Berlim. As previsões do tempo apontavam temperaturas mais baixas do que em Portugal e, talvez, alguma chuva. Algo que ajudava a alimentar aquela ideia de que a capital alemã é uma cidade cinzenta e fria.

Contudo, a primeira imagem que veio contrariar esta ideia surgiu ainda do ar. Enquanto o avião fazia a aproximação ao aeroporto de Berlim-Brandemburgo, íamos observando as enormes áreas verdes e grandes lagos que abraçam os arredores da maior cidade da Alemanha.

Berlim é “green”

Cerca de um terço da área de Berlim é coberta por parques, jardins, lagos e rios, sendo que o verão é a altura ideal para aproveitar estes espaços – no outono também devem ficar belíssimos.

Mesmo no centro da cidade há um pulmão verde que se chama Tiergarten: 210 hectares de um parque que está para Berlim como o Central Park está para Nova Iorque. A sua presença é uma constante quando se percorre o coração de Berlim, uma vez que o Tiergarten está divido em cinco partes, estendendo-se desde a icónica Potsdamer Platz ao Portão de Brandenburgo e, a partir daí, até a estação Zoologischer Garten.

Chegamos, então, ao primeiro ponto G da viagem: Berlim é “green”. Foi uma das frases que nos ocorreu enquanto abríamos a janela do nosso quarto de hotel e encarávamos a copa das árvores que envolvem as ruas.

Berlim é “green”
Muitas árvores pintam a cidade com uma cobertura verde durante o verão créditos: Alice Barcellos

Podíamos ter optado por pedalar pela cidade que tem uma excelente rede de ciclovias, com o bónus de o hotel onde nos hospedamos (o SANA Berlin) disponibilizar bicicletas. No entanto, com o tempo a ficar curto e para tirar partido da ausência de trânsito devido às férias escolares, apanhamos um táxi para a primeira paragem deste roteiro.

Da Neue Nationalgalerie à East Side Gallery

Era altura de começar a explorar, de facto, a cidade e com tanta oferta é difícil decidir onde ir e o que fazer. Há aqueles pontos obrigatórios que toda a gente quer visitar e há aqueles pequenos imprevistos com os quais nos esbarramos quase sem querer e que acabam também por marcar a viagem.

Mais de 170 museus povoam a capital alemã e a nossa primeira paragem foi num deles, a Neue Nationalgalerie. Numa construção moderna, de 1968, obra do arquiteto Mies van der Rohe, o ferro e o vidro criam uma estrutura que parece flutuar. Durante a visita, flutuamos também por galerias amplas que nos mostram mestres dos “ismos” de vanguarda: cubismo, expressionismo, surrealismo e dadaísmo. Picasso, Miró, Kandinsky, Paul Klee, Munch, entre outros grandes nomes da arte do século XX.

Após passar pelo agradável café, terminamos a visita na exposição da artista contemporânea Isa Genzken que provoca e instiga com esculturas e instalações que fazem questionar a própria arte. Ficamos com a imagem da rosa gigante, a Pink Rose de Isa Genzken, colocada em frente à Neue Nationalgalerie, e é com ela que nos despedimos de lá.

Pink Rose de Isa Genzken
Pink Rose de Isa Genzken créditos: Alice Barcellos

Caminhamos até Potsdamer Platz, uma das praças mais icónicas da cidade, que nos obriga a olhar em redor e apreciar a arquitetura moderna dos altos edifícios que circundam a área. É uma das zonas mais recentes de Berlim, uma vez que depois de ter sido totalmente destruída durante a II Guerra Mundial permaneceu sem nenhuma construção na época da Guerra Fria, sendo um ponto de passagem do Muro de Berlim.

Com a queda do muro, em novembro de 1989, o lugar tornou-se num dos mais desejados da capital para a construção de novos e arrojados edifícios que ajudaram a contar um novo capítulo da história berlinense. Permanece, contudo, a marca no chão que mostra por onde passava a famigerada barreira que dividiu a cidade durante 28 anos. Há também uma exposição de algumas partes do muro e uma curiosidade mais ligeira: o primeiro semáforo de Berlim foi colocado na Potsdamer Platz, em 1924. É possível observar este “sobrevivente” até hoje.

Potsdamer Platz
Potsdamer Platz e o pormenor daquele que foi o primeiro semáforo de Berlim créditos: Alice Barcellos

Impossível é visitar Berlim e não tropeçar na história em quase cada esquina. A cidade é um livro aberto de um dos períodos históricos mais sombrios da humanidade e cabe ao visitante escolher quais as páginas deste livro deseja ler. Podemos, até, optar por só folhear algumas páginas, mas vamos acabar sempre por querer saber mais e ficarmos surpreendidos com tudo o que aconteceu naquelas ruas.

Tal como a paragem quase obrigatória no Checkpoint Charlie, o famoso posto de controlo militar que divida a Berlim Ocidental da Oriental e que foi palco de um dos momentos mais críticos da Guerra Fria, a crise de 1961. Atualmente, milhares de turistas posam para a “foto da praxe” no posto militar, mas quantos se lembram ou sabem o peso que carrega aquela pequena guarita que é hoje um dos lugares mais visitados da capital alemã?

Checkpoint Charlie
Checkpoint Charlie é um dos lugares mais turísticos de Berlim. Dica: do terraço do McDonald's, mesmo ao lado da atração, é possível ter uma vista diferente créditos: Alice Barcellos
Muro de Berlim
Conhecida como "O Beijo", é uma das pinturas mais famosas no Muro de Berlim. Foi feita em 1990 pelo artista russo Dmitri Vrubel e retrata um encontro entre dois líderes comunistas, Leonid Brezhnev e Erich Honecker créditos: Alice Barcellos

O peso da história não nos derruba, mas comove quando chegamos à East Side Gallery e percorremos os 1300 metros do muro que continuam de pé, todavia, ao invés de separar, unem os visitantes naquela que é considerada a maior galeria de arte a céu aberto do mundo.

Ali, nas margens do Spree, um músico de rua animava o final de tarde, mas por pouco tempo. O céu começava a ficar cada vez mais carregado e a chuva apanhou a maioria dos visitantes desprevenidos. A cidade vestiu-se de cinzento, mas, no dia seguinte, esperava-nos um enorme arco-íris.

Berlim é “gay”

Neste fim de semana, tivemos a oportunidade de assistir a um dos grandes eventos da cidade: a Berlin Pride Celebration, também conhecida como Christopher Street Day Berlin – uma referência à rua nova-iorquina onde em 1969 se deram manifestações contra a violência policial nos bares LGBT+ da cidade.

Na sua 45.ª edição, que decorreu a 22 de julho, entre 350 a 500 mil pessoas desfilaram pelas avenidas do centro da cidade, dando voz à luta LGBT+ por igualdade de direitos e pelo fim do preconceito. "Be their voice – and ours! For more empathy and solidarity" foi o mote deste ano (seja a voz deles – e a nossa! Por mais empatia e solidariedade, numa tradução livre).

É uma das marchas pride mais famosas do mundo e transforma o centro da cidade numa verdadeira rave a céu aberto com vários pontos de vendas de bebida e comida, camiões que percorrem as ruas com música eletrónica a todo o volume, concertos e milhares de pessoas a festejar e a serem o que quiserem ser naquele momento.

Berlin Pride Celebration
Berlin Pride Celebration 2023 créditos: Alice Barcellos
Berlin Pride Celebration 2023
Berlin Pride Celebration 2023 créditos: Alice Barcellos

“Muitas pessoas de outras partes do mundo vêm a Berlim para afirmarem-se como são”, lembrava Sebastian Weidtkamp, diretor do hotel SANA Berlin, que nos acompanhou durante a visita pela cidade e que nos ajudou a driblar as multidões que enchiam ruas e avenidas.

Ter a oportunidade de presenciar a Berlin Pride Celebration é confirmar o motivo pelo qual a cidade é considerada uma das mais tolerantes e inclusivas do mundo. Estava encontrado mais um ponto G: Berlim é, orgulhosamente, “gay”. Além de ser uma manifestação, a data já faz parte do calendário das muitas festas, festivais e celebrações que acontecem durante o verão na cidade. Portanto, quem optar por visitar Berlim nesta época vai encontrar sempre algo a decorrer, isso para não falar na vida noturna, que acontece durante todo o ano.

Sendo um dia especial e com algumas limitações no trânsito para conhecer a cidade, a eficiente rede do metro levou-nos à Ilha dos Museus, outro importante centro cultural berlinense que reúne cinco espaços museológicos de renome mundial. São eles: Altes Museum, Neues Museum, Alte Nationalgalerie, Bode-Museum e Pergamonmuseum.

Optamos por visitar o Museu Pergamon, um dos mais concorridos, sendo, por isso, importante comprar bilhete com antecedência. O espaço guarda tesouros da Antiguidade de diversas civilizações. O Altar de Pérgamo, que dá nome ao museu, encontra-se, contudo, em processo de restauro e, neste momento, não está em exposição. A partir de outubro, o Pergamonmuseum vai encerrar de vez para obras e só deve reabrir em 2027.

Ilha dos Museus
Artista de rua na Ilha dos Museus, Berlim créditos: Alice Barcellos

A Ilha dos Museus faz parte do Património Mundial da Unesco e é onde também se pode apreciar e visitar a Berlin Dom, a Catedral de Berlim, com os seus relvados convidativos a um momento de relax. A partir dali uma caminhada poderia levar-nos a outras atrações importantes da cidade como a Alexanderplatz ou o Portão de Brandemburgo.

Esta última já estava tomada pela multidão vestida com as cores do arco-íris que se iria juntar à Pride Celebration. Depois de matar a fome com uma currywurst, (salsicha temperada com caril, molho de tomate e batatas fritas), mudamos de direção e seguimos até às margens do rio Spree.

Um passeio de barco é uma boa forma de ter uma visão geral da cidade e foi o que fizemos, mas antes uma paragem na estação de Friedrichstraße que ficou conhecida como “Palácio das Lágrimas”. Era a última paragem antes da Berlim Oriental e foi lugar de muitas despedidas e lágrimas, histórias de famílias separadas e pessoas que nunca mais se encontraram. Atualmente, guarda um espaço museológico de entrada livre onde ficamos a conhecer relatos na primeira pessoa daquela época. Um dos lugares fora do roteiro “obrigatório”, mas que surpreende pela mensagem que passa.

Berlim é “good”

Se for visitar Berlim num fim de semana, fique já com esta informação: domingo as lojas não abrem. Pelo menos, a maioria do comércio de rua está fechado. Os alemães levam a sério os períodos de descanso e visitar Berlim na época das férias de verão foi entrar também neste modo mais “slow” de viajar, mesmo estando numa grande metrópole.

Assim, para desfrutar de um domingo tranquilo e rodeados de natureza rumamos até ao Lago Wannsee, que fica a pouco mais de 10 minutos de comboio do centro. Um lugar calmo, com muito verde, onde famílias aproveitavam um tradicional Biergarten (o Loretta Biergarten), lugar ideal para ter uma experiência gastronómica alemã.

O Lago Wannsee conta com vários espaços de lazer, praias fluviais, parques e trilhos para caminhadas e bicicletas. É o local ideal para sentir-se longe da cidade, mesmo estando dentro do centro urbano. E é o que muitos berlinenses faziam naquele domingo. Desfrutavam do bom tempo, quer fosse a beber uma cerveja, quer fosse a fazer uma caminhada, a pedalar ou a conviver em família às margens do lago.

A vida pode ser boa em Berlim, pensamos, chegando, assim, ao terceiro e último ponto G desta viagem: Berlin is good. E sabemos que um destino é bom, ou, pelo menos, foi bom para nós, quando vamos embora com vontade de regressar.

O SAPO Viagens visitou Berlim a convite do grupo SANA