Desafiados para passear na companhia de burros, vamos com entusiasmo até Flieth, uma localidade situada na Reserva da Biosfera Schorfheide- Chorin, na zona rural de Uckermark, a joia verde alemã e que fica a cerca de 76 quilómetros da capital deste país.

Na quinta do projeto Celine Aktiv Reisen, espera-nos Katrin Van Zwoll, responsável pela organização dos passeios pela natureza e apaixonada pelos seus burros. Katrin recebe-nos com alguns petiscos saudáveis feitos com produtos da loja da quinta gerida pelo marido.

Após o banquete de receção no espaço onde habitualmente se servem refeições para os hóspedes, Katrin mostra-nos a quinta. Entramos na loja, uma pequena mercearia que serve os locais e os turistas que por ali passam. A loja tem parceria com pequenos produtores da área e também produção própria como são exemplo os molhos para temperar carnes e alguns dos sumos.

Para os hóspedes, a quinta prepara refeições mediante marcação e até cestas para levarem durante o passeio e fazerem piqueniques no meio da natureza.

Entretanto, Katrin apresenta-nos um dos alojamentos disponíveis para quem quiser ficar a dormir na quinta. É uma pequena caravana de madeira antiga com capacidade máxima para duas pessoas. Enquanto nos mostra o interior da caravana, explica que o espaço conta com vários tipos de pacotes, que podem ir de duas a cinco noites e que, no mínimo, só aceita reservas para duas pessoas.  “Muitas pessoas (que reservavam alojamento sozinhas) dormiam na quinta pelos motivos errados, pois procuravam soluções para questões de saúde mental e esse não é o nosso propósito”, justifica, acrescentando que receava passar a ideia que aquele era um lugar perfeito para se fazer um retiro espiritual ou terapia contra, por exemplo, a depressão, quando o espaço não tinha esse fim nem habilitações para tal.

É que o Celine Aktiv Reisen é um lugar simples que quer apenas celebrar a natureza e aproximar-nos da mesma. Para além dos burros, existem patos, galinhas, cabras, ovelhas e um cãozinho muito simpático que está sempre à espera de ganhar um pedaço de comida. Aqui, sentimo-nos, de facto, num lugar rural que nos ajuda também a saber mais sobre a Alemanha, as suas gentes e cultura. 

Conhecido o espaço e os animais, começamos a prepararmo-nos para o passeio. Katrin dá-nos indicações de como andar com os burros e parece fácil: ir sempre à frente do burro e do lado direito, colocar a mão na testa do animal se o tivermos de parar e chamá-lo sempre pelo nome. À partida não parece complicado: “é quase o mesmo que ir passear o cão”, pensamos – apesar do burro ser de uma espécie diferente. 

Partimos então à descoberta das paisagens daquela área de Uckermark com otimismo, convencidos de que só temos de seguir as instruções de Katrin para passearmos os burros com sucesso. Por esta altura e sem intenção, os burros que ali estão são, para nós, quase que animais robots programados para responder a certos estímulos. Não pensamos em variáveis simples que podem afetar o sucesso da tarefa como o facto de não nos conhecerem e de cada burro ter a sua personalidade.

Mas o que é que nós sabemos sobre burros?

Ao refletirmos, vemos que parte da familiaridade que sentimos em relação a este animal deve-se aos ditados populares. Ora, se se diz, teimoso como um burro, deduzimos que o são, de igual modo, se usamos tantas vezes a expressão  “burro de carga”, é porque são bons para o efeito.

Lembramo-nos de ditados e expressões mas nunca – pelo menos no meu caso – de passar tempo com e ao pé deste mamífero. Recordo-me de no verão passado dar festinhas a um, mas foi só isso e sempre que me cruzei com este animal da família dos equídeos não passou disso. 

Mas estes dizeres populares não são ditos ao acaso e têm um fundo verdade. No passado, antes da urbanização e modernização dos transportes de carga, os burros eram demasiado úteis ao homem e, por isso, muito estimados. 

Atualmente é que nos distanciamos e passeios como os proporcionados pelo espaço Celine ajudam-nos a reaproximar e a despertar o nosso interesse.

Pelas ruas de Flieth e burro ao lado

O passeio com os burros começa por um bairro pitoresco com casinhas que parecem saídas de um conto de fadas devido às flores que enfeitam as entradas e quintais. Caminhamos pela estrada alcatroada e os poucos carros que passam nos acenam com simpatia. E lá seguimos, em fila indiana e a tentar passear os burros. 

Com uma e outra hesitação de um ou outro burro, seguimos o passeio. A ideia é percorrer um percurso de cerca de cinco quilómetros que nos permitirá conhecer parte da diversidade paisagística da Reserva em que predominam os prados verdejantes. 

Passada a "civilização", continuamos por um trilho que nos levará até à colina de onde vamos avistar os lagos Ucker. No topo da colina, envoltos em silêncio e a respirar um ar puro que nos faz sentir a milhares de quilómetros da cidade, apreciamos a vista enquanto, em baixo, os burros descansam. 

Demoramos mais tempo a chegar à colina do que o que prevíamos por causa dos nossos companheiros especiais de viagem. Partimos para esta aventura a julgar que passear o burro é como passear um cão, mas não – estávamos enganados. 

Uma lição de humildade

No meu caso, tive como companheira a burra Emma e definiria o início da nossa relação como “complicada”. É que a Emma não seguia as minhas ordens e “batia com o pé” sempre que queria parar. Era como ela queria ou era como ela queria – não dava mais hipóteses. 

Celine Aktiv Reisen

Morada: Suckow 41 17268 Flieth - Stegelitz, Alemanha

Tel.: +49 (0) 170 24 500 55

E-Mail: info[at]celine-aktiv-reisen.de

Site: www.celine-aktiv-reisen.de

Íamos sempre em último e mais atrás, o que, primeiro, me chateou. Assim, ia tentando puxar a Emma, mas ela não cedia, nem quando a chamava num tom mais autoritário. Honestamente, parecia mesmo não querer saber. Dona do seu umbigo, colocava-se à direita e, por vezes, quando ficava atrás de mim “empurrava-me” com o focinho para eu andar. E foi assim e com alguma frustração que acabei por ceder. Deixei a Emma liderar, marcar o passo e o ritmo do passeio. 

Antes da colina, nova paragem. Não há pressa. A Emma, estranhamente, está ao meu lado. Faço-lhe festas e ela parece apreciar. Aproveito para observar a paisagem. Ainda bem que a Emma decidiu parar. Caso contrário, já estávamos no topo da colina e nem teríamos apreciado a viagem. 

Atenta, e por outras palavras, Katrin explica que o passeio é também uma lição de humildade para o homem, pois, de algum modo, nos coloca  ao nível do burro. Percebemos que podemos caminhar lado a lado e que nem sempre vamos comandar e que, por vezes, para chegarmos ao destino final precisamos de ceder e descer alguns degraus para nos ligarmos ao que está ao nosso lado. 

*O SAPO Viagens viajou a convite do Turismo da Alemanha

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