As pessoas que se vão cruzando contigo pelo caminho também são parte da riqueza do teu gap year (e de qualquer viagem) e quantas vezes um “boa tarde”, um sorriso e uma dose de compaixão e empatia não nos dizem muito mais do que descobrir uma nova cidade de uma ponta à outra. Quando combinados então, são a receita ideal. O concelho de Proença-a-Nova representa esse papel na perfeição.
Há vila, há aldeias e serra, muita serra. Há dialetos próprios, palavras estranhas que nos fazem rir, mas que começamos a adotar com o tempo, há um café a cada esquina, há empresas em crescimento, há discotecas com história, há adegas por metro quadrado, há padarias e há carrinhas do pão, há biblioteca e respetivos polos, há um aeródromo, há rios, há ribeiras e há praias, há ciência, há literatura, há vida na rua e dentro de casa, há cozinhas de fora e cozinhas de dentro, há bonés, boinas, chapéus e lenços em cada cabeça, há banhos de mangueira e banhos de rio, há maranho e muito mais comida boa. Mas acima de tudo, há pessoas. Proença-a-Nova é um mundo que se caracteriza pelos seus e chegou a hora de o conheceres.
Conhecer este mundo, mas em segurança e, idealmente, ao ar livre. Não que a prática seja novidade. Os jovens do concelho já o faziam habitualmente, correndo pelas cinco praias fluviais que por lá podes encontrar. São elas a praia fluvial da Fróia, a praia fluvial do Malhadal, a praia fluvial da Aldeia Ruiva, a praia fluvial do Alvito da Beira e a praia fluvial da Cerejeira. Não é de estranhar ver jovens de mochila às costas ao início da tarde e ao cair da noite, a pé ou de bicicleta, a caminho das praias ou já de regresso a casa. Estradas sinuosas, estreitas, só com uma faixa e serra abaixo dão origem a pequenos paraísos azuis e verdes, onde se respira a natureza em pleno.
Fica a nota de que a praia fluvial da Fróia é apta para pessoas com mobilidade condicionada e que a praia fluvial da Aldeia Ruiva está encerrada em 2020, para obras.
Em jeito de resumo, dizemos-te que este concelho é composto por quatro freguesias - Proença-a-Nova e Peral, Montes da Senhora, S. Pedro do Esteval e Sobreira Formosa e Alvito da Beira - cujas aldeias se desenrolam em histórias, saberes e figuras. Não conseguindo falar de todas, destacamos a freguesia de Montes da Senhora por ser aquela onde, não só alguns dos nossos membros passaram a infância e a adolescência, mas também pelos seus vários “Montes” (Monte Baixo, Monte de Cima, Monte Trigo, Monte Barbo e Aldeia Cimeira). Terra de encanto e de cerejas, com a serra do Chão do Galego de um lado, a Sobreira Formosa do outro e a Nossa Senhora do Pópulo sempre de vigia, pede uma visita e um “boa tarde” a quem passa e a quem espreita.
Nos Montes da Senhora, onde o comércio local é cada vez menos, em resultado de uma população cada vez mais reduzida, passam diariamente a padeira e a peixeira, com as suas carrinhas abastecidas na vila. Os cafés na zona baixa da aldeia são pontos de encontro na hora de “ver a bola” ou de “jogar à sueca”, tradição de domingos à tarde. Se de manhã as mulheres se encontram junto à oliveira no largo da igreja depois da missa, à tarde são os homens que por lá combinam, para mais uma partida no café central. É também junto ao largo da igreja matriz que se encontra um dos polos da biblioteca municipal, ainda em funcionamento, e que vem proporcionar aos filhos e netos das gerações que por lá vivem, um pedaço de cultura, de informação e de sossego, diferente do acesso a tudo o que existe nas vilas mais próximas. A internet ali chega pouco, mas também não há vontade de que chegue muito mais que isso. Está tudo bem assim.
Saindo dos Montes da Senhora e voltando a percorrer a diversidade que se encontra neste concelho, não podíamos deixar de fazer referência às Aldeias de Xisto, que tantos turistas vão atraíndo no nosso Portugal. É junto à praia fluvial da Fróia, a caminho da Sobreira Formosa, que podemos visitar a Aldeia Oliveiras, onde as suas casas de xisto recuperadas permitem desfrutar da natureza e conviver com as populações vizinhas. Conserva ainda o chafariz que abastecia a aldeia de água há muitos anos.
Chegado à vila, à bela Proença-a-Nova, nada como provares o prato típico da Beira Baixa, o Maranho. No restaurante O Gostinho da Aurora vais encontrar um prato repleto de maranhos e de batatas fritas, considerado um dos melhores do concelho. Depois de encheres a barriga, podes sempre descansar no Parque Urbano Comendador João Martins, um dos espaços verdes da vila.
Como um gap year não se faz só de passagem, a aprendizagem e o contacto são duas ferramentas importantes para a reflexão que procuras na tua vida. Nas Moitas vais encontrar o Centro de Ciência Viva da Floresta, que garantiu o selo Clean & Safe do Turismo de Portugal e pertence à rede nacional de Centros de Ciência Viva. Este Centro dedica-se exclusivamente à floresta já que o munícipio de Proença-a-Nova é um dos que mais fixa CO2 em Portugal e vem dar a conhecer a todos o papel fundamental que as florestas desempenham no equilíbrio ecológico do planeta. Dinamiza atividades e visitas tanto para miúdos como para graúdos, laboratórios e cafés de ciência, onde o contacto com investigadores nos proporciona uma visão diferente e mais racional do mundo.
É também nas Moitas que termina a Grande Rota da Cortiçada, pelo lado Este do concelho, que percorre Proença-a-Nova na íntegra e que através de percursos marcados e trilhos, dá a conhecer aos caminhantes e montanhistas alguns dos pontos cénicos da zona, ribeiros, moinhos e fornos que tão bem caracterizam este povo. Os mais desejosos de adrenalina podem terminar a caminhada com um salto de paraquedas no aeródromo das Moitas ou mesmo deixarem-se ficar por uns meses e começarem um curso.
Como podes ver, tens um mundo à tua espera se escolheres passar por este cantinho beirão de Portugal durante o teu gap year. Só não te esqueças de ir dizendo “boa tarde” a quem passa.
Imagem de destaque: Praia Fluvial do Malhadal - @Tomás Ribeiro
Texto por: Joana Firmino Ribeiro
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