O elo de ligação é uma bonita ponte românica, com um arco perfeito, que dá passagem à Ribeira de Alvoco. A ponte e, em particular, a ribeira são os elementos marcantes de Vide. Na paisagem, no clima, nos tempos livres...
Diz João Orlindo, presidente da Junta de Freguesia, que a ribeira “é a alma da aldeia. Uma das margens é na serra do Açor e a outra margem na serra da Estrela.
Atravessando a ponte, que tem cerca de 15 metros, passamos da serra do Açor para a serra da Estrela ou vice-versa.”
A Ribeira de Alvoco tem cerca de 40 km. Nasce na serra da Estrela. “É água que cai na Torre e passa em Vide através da ribeira de Loriga ou da ribeira de Alvoco. Por outro lado, Vide é a única aldeia em que a ribeira passa no meio”.
É para a ribeira que há 300 anos olham a bonita torre da igreja, as janelas e as varandas dos prédios. Um muro alto, em cada margem, protege Vide da fúria da Ribeira de Alvoco em dias de grande pluviosidade.
Os edifícios de dois e três pisos acompanham o curso de água e alguns revelam a tradição do xisto. “Maioritariamente as casas são de xisto e foram rebocadas e pintadas. Vide em meados do século XX era uma aldeia de xisto.
A partir da década de 50, com a migração para Lisboa, com a entrada de muito dinheiro com a atividade da resina, de facto, toda a gente queria uma casa branca. Rebocaram e pintaram de branco.
Numa época posterior, talvez devido à influência de Piodão, a aldeia histórica, está a 10 km, começou a haver uma preocupação de reativar o gosto pelo xisto e temos várias casas reconstruídas em xisto.”
Uma das habitações mais antigas e também mais interessante fica ao lado do Lagar do Ribeiro que foi musealizado. Com algum esforço a casa consegue manter a varanda coberta com um alpendre para nos mostrar como eram hábitos passados.
“É, talvez, a casa mais antiga de Vide, numa perspectiva de arquitectura tradicional. Com o xisto e uma varanda coberta. No tempo em que as janelas não tinha vidro o alpendre permitia que estivessem abertas quando chovia e que também entrasse luz natural para dentro de casa.
No verão, quando das noites muito quentes, as pessoas podiam descansar nessas varandas e até socializar de varanda para varanda. Como as ruas eram estreitas, elas podiam falar, no escuro, não havia eletricidade. Tinha essa função. Esta casa está datada de 1734.”
A casa mais antiga de Vide está no lado da serra da Estrela. As ruas são estreitas, sinuosas e adaptam-se à encosta. Um pouco mais acima começam os socalcos para aproveitamento agrícola. Começa a afirmar-se a outra marca, de Aldeia de Montanha.
Vide é uma aldeia de montanha por várias razões. Em primeiro lugar pela sua natureza. Fica entre as serras do Açor e da Estrela. A freguesia de Vide tem 24 aldeias, o ponto mais baixo são 270 metros de altitude e o ponto mais alto é de 1340 metros. Há uma amplitude significativa. Outra razão é porque se insere num projeto mais vasto, da Adiram.
Neste momento há 46 aldeias designadas como Aldeias de Montanha e que estão a tentar trilhar um caminho que tem sido desenvolvido por outro projeto que é o das Aldeias de Xisto. "A nossa particularidade, enquanto Aldeia de Montanha, é que sejam as comunidades a dinamizar e a fazer reviver as tradições dessas aldeias”, conta ainda João Orlindo
Um dos projetos é o Lagar do Ribeiro, movido a água e foi restaurado. Oferece ainda objetos e imagens associadas às pessoas e atividades tradicionais.
O enquadramento natural e o desenvolvimento de projetos que ajudam a descobrir a serra da Estrela propiciou também vários trilhos. “Vide tem a sorte de ter vários percursos pedestres. Tem percursos no âmbito das Aldeias de Montanha. Tem o que liga Torre a Vide, o percurso circular de Vide que é a Rota do Meandros. Depois, é atravessado pelo QR22, a grande Rota das Aldeias Históricas que liga Linhares a Piódão.”
Em três lugares da serra do Açor, Ferraduras, Carvalhinhos e Fontes do Cid, temos outro tipo de património relevante. São gravuras rupestres feitas na rocha por picotagem. “São gravuras da Idade do Ferro. Comprovadamente há 4 mil anos, de forma sazonal ou em permanência, havia comunidades humanas que viviam por aqui. Do pastoreio. Deixaram algumas gravuras.... Tivemos uma associação de arqueologia que se interessou em determinado tempo por estas gravuras. A Adruse, uma associação de desenvolvimento regional, financiou um centro interpretativo.”
Não muito longe, igualmente na serra do Açor, encontramos, por exemplo em Chão de Égua, gravuras rupestres feitas com a mesma técnica das de Vide
No verão a Ribeira de Alvoco propicia na freguesia de Vide várias praias fluviais e naturais.
Vide está no melhor de dois mundos faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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