O bolo chama-se russo mas é diferente do que é produzido nas pastelarias.
Na descrição de Rita Assunção, “é um bolo de amêndoa e noz e recheado de doce de ovos. Há também a possibilidade de ter natas batidas se alguém desejar.
Talvez seja o bolo mais vendido durante o ano. Temos de o ter quase sempre. Ao longo do ano vamos alternando, mas raro é o dia em que não temos o bolo russo.”
Rita Assunção refere-se à Casa de Chá de Santa Isabel que fica próximo do Largo do Rato em Lisboa. É um espaço acolhedor, com uma decoração discreta, em alguns recantos com temas religiosos e com pequenas divisórias num salão grande.
A casa é também conhecida por Vicentinas e Obra de Nossa Senhora do Amparo. Na fachada estão duas placas a recordar esse tempo.
Abriu as portas em 1956 e tem duas particularidades que são permanentes: voluntariado e as receitas são aplicadas em iniciativas sociais. “O lucro desta casa reverte a favor de um projeto chamada Família a Família que responde às necessidades do nosso tempo. Temos pessoas de classe média, formadas e que nunca na vida pensaram que iam precisar de ajuda”.
Diz ainda Rita Assunção que alguma destas pessoas ocultam as privações porque “de repente caíram no desemprego ou em baixos salários e no aumento das rendas de casa e não se conseguem sustentar.
Essas pessoas não têm onde pedir ajuda institucional porque auferem rendimentos ligeiramente superiores ao mínimo. Neste momento ajudamos 19 famílias.”
Na origem da Casa de Chá, quando pertencia à Nossa Senhora do Amparo, o objetivo era apoiar meia centena de mulheres com tuberculose. O apoio era conseguido com passagens de modelos no salão e depois com peças de roupa produzidas pelas mulheres nas respetivas casas. Também eram produzidos uniformes de colégios.
Mais tarde uma das pessoas que pertencia à Obra de Nossa Senhora do Amparo foi a Londres, provou os scones e teve a feliz ideia de trazer a receita e servir com chá durante os desfiles. Com o tempo o espaço transformou-se numa Casa de Chá. Deixou de haver passagem de modelos mas permanecia a venda de peças de roupa feita por costureiras em casa.
Foi o passo que deu notoriedade à Casa de Chá e em particular aos scones. No entanto, mais tarde o projeto passou por dificuldades e encerrou.
A partir de 2011 a gestão é da Paróquia de Santa Isabel que passou a abrir as portas também para almoços e eventos e manteve as receitas dos scones. “É uma receita feita à mão no sentido de que não se coloca sempre a mesma quantidade dos ingredientes. Quem trabalha na cozinha sabe que os ingredientes naturais mudam como também a temperatura ambiente e é muito diferente fazer scones no Verão ou no Inverno.”
O bolo russo, a sugestão para a mesa de Natal, também é fiel à receita manuscrita que foi encontrada na Casa de Chá. A origem é desconhecida, talvez conventual, mas sabe-se que é muito antiga, assegura Rita Assunção, “pelo testemunho de pessoas com muita idade, duas até comemoraram aqui os 100 anos, lembram-se de haver sempre este bolo.”
Nestes dias mais frios é frequente vermos grupos a lanchar e por vezes o salão fica lotado, mas há sempre a possibilidade de encomendar. Por outro lado, já não há a passagem de modelos, mas ainda encontra trabalhos em tecido com o mesmo objetivo: ajudar o Natal dos outros.
Um Natal solidário com a Casa de Chá de Santa Isabel faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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