O farol agiganta-se no meio da areia escura e fina. É um lençol negro que ondula em direção ao mar. Ganha maior densidade quando nos aproximamos das arribas e vemos a encosta rochosa que avança em direção ao Atlântico.
Há alguns passadiços que nos ajudam a caminhar e a evitar caminhos arriscados, mas há quem ultrapasse as barreiras e se aventure.
Os visitantes vão descobrindo esta terra nova ao caminharem pelas encostas dos cones lávicos ou mais próximo do mar.
Muitos andam a olhar para o chão, como se tivessem perdido alguma coisa mas, na verdade, sente-se como as areais e as pedras se tentam acomodar ao seu novo universo.
Por enquanto, esta área tem um tom cinzento, mas a vegetação começa, lentamente, a controlar a ira do vulcão.
As erupções submarinas, em 1957, tiveram lugar a 1km da costa. Primeiro formou-se um ilhéu que, pouco depois, submergiu. Dias mais tarde surgiu nova ilha que também teve o mesmo destino. Um mês depois, a lava formou uma nova ilha, mais consistente e que através de um istmo conseguiu a ligação à ilha do Faial.
Este processo acrescentou 2.5 km2 ao Faial mas, entretanto, a erosão do mar já reduziu o avanço da ilha em cerca de metade. Conta João Melo, diretor do Parque Natural da ilha do Faial, que estamos perante um laboratório porque “a vegetação começa a conquistar a “terra nova”. De certa forma, a área que está a ter uma grande transformação resultante da erupção vulcânica “retrata a história dos Açores” porque o arquipélago resulta da atividade vulcânica.
Ao andarmos na areia percebemos como é fina e a sedimentação está em curso. O antigo farol que agora é miradouro e que resistiu às lavas, esse sim, revela robustez. Tudo o resto parece volúvel e até o vento o acentua.
O mais natural é suceder o mesmo que teve lugar no Monte da Guia, vizinho da cidade da Horta, que tem 11 mil anos e a areia transformou-se em tufos. São fáceis de cortar e é uma das matérias primas utilizada na construção na Horta.
Próximo do farol, mas escondido, porque está soterrado, podemos visitar um edifício fantástico que é o Centro de Interpretação do Vulcão dos Capelinhos. É como se fosse o caminho para a base do vulcão. Além da riqueza arquitetónica, em particular na sala de receção, o Centro tem uma interessante coleção de testemunhos das erupções.
Ainda nas palavras de João Melo, “um dos objetos em exposição é o documento original do Azorean Refugee Act” entregue à comunidade açoriana pelos senadores John O. Pastore, de Rhode Island, e John F. Kennedy, de Massachusetts e futuro Presidente dos EUA.
A concessão de vistos alterou significativamente a demografia dos Açores. Esta foi uma das consequências mais relevantes das erupções vulcânicas que se arrastaram por alguns meses mas não causaram qualquer morte. Houve sim uma vaga solidária dos norte-americanos com a população do Faial.
A vaga emigratória foi de mais de 100 mil açorianos que mantêm viva a memória do vulcão dos Capelinhos. “Se contarmos que a emigração está na terceira geração, a comunidade açoriana nos EUA já é maior do que a população residente no arquipélago.”
Os cones de lava e escória e o Centro Interpretativo do Vulcão formam um dos principais pontos turísticos dos Açores, atraindo muitos estrangeiros.
Aqui encontra informação mais detalhada sobre vulcanologia nos Açores
Vulcão dos Capelinhos – a inédita e mais recente paisagem em Portugal faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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