O prédio de quatro andares está repleto de publicações e outros objetos antigos como estatuetas, caixas de música mecânica, relógios e gravuras. Mas a maioria são livros. Ao todo calculam um milhão de exemplares e alguns são raros o mais antigo é de 1517.
O espaço, no entanto, tem muito mais do que objetos como diz Pedro Chaminé, sobrinho do fundador, o alfarrabista Pedro Chaminé da Mota: “o alfarrabista compra, vende e guarda sentimentos.” As páginas de emoções que se folheiam num espaço como este começa logo quando se entra e se sente um ambiente único.
O próprio Pedro Chaminé refere que “o que me dá mais gosto é alguém entrar aqui, seja quem for, e dizer: que cheirinho!, porque cheira a livro antigo. Só isso faz com que eu pense que se trata de um amigo de livros e não apenas um curioso. Leva-me a aproximar dessa pessoa. Muitas vezes, sabemos que não veio para comprar mas temos prazer em mostrar a esse visitante este pequeno museu do livro que não é um museu.”
A livraria de uma alfarrabista é também um espaço de memórias, de vivências que cada objeto transporta. O antigo proprietário de cada objeto, o seu uso, ou o que poderá encantar num novo utilizador. Há também registos mais pessoais como o álbum de fotografia de uma família que o herdeiro remeteu para o lixo.
No entanto, a Chaminé da Mota decidiu preservar o documento devido aos sentimentos que transporta e, por outro lado, “pode ser consultado para se mostrar como se arquivavam as fotografias de uma família. Hoje, fica tudo dentro de um telemóvel mas no passado era muito diferente”.
Há também a afeição pelos que gostam de ler mas não têm dinheiro para comprar livros, como é o caso de muitos jovens. “Por vezes, até baixamos o preço”. Há também o caso de estudantes universitários que necessitam de fazer investigação e dizem não ter dinheiro.
“Nesses casos abrimos algumas exceções e eles fazem a consulta numa secretária que temos na parte traseira. Já na altura de Pedro Chaminé da Mota era assim e ele gostaria que este gesto tivesse continuidade. Ajudamos esses jovens e, mais uma vez, o alfarrabista tem de comprar, vender e guardar sentimentos e neste caso também criar sentimentos. Nós não sabemos o dia de amanhã".
"Hoje ajudamos os estudantes amanhã podem ser eles a ajudar-nos.”
A própria origem da livraria resulta de uma profunda afeição do fundador pelo universo dos livros. Com oito anos de idade leu o primeiro livro. Dizia que tinha sido “O Menino da Mata e o seu Cão Piloto” e nunca mais perdeu o desejo pela leitura. Até era conhecido como o menino do livro.
Segundo narra o sobrinho, “a livraria nasceu com um desafio que a mulher lhe lançou, para Pedro Chaminé da Mota abrir uma livraria”. Começaram na Rua das Flores, noutro local, até que em 1980 a família comprou o prédio onde estão atualmente.
A livraria tem uma grande diversidade de publicações. Estão organizadas por quatro mil temáticas e está localizada numa rua com grande frequência de turistas. A procura é, deste modo, muito diversa. Consegue-se dar resposta a um cliente colecionador, ocasional, com 8 ou 80 anos.
Até a quem se auto-intitula de maluco como foi o caso de um colecionador de bilhetes de autocarros que procurou, e conseguiu, aumentar a coleção com uma ida à livraria. O tempo de espera não pode ser grande.
O que me admirou quando disse a João Paulo, um funcionário da livraria, o título de um livro antigo e que procurava há algum tempo e respondeu-me de imediato que tinham a publicação.
Pedro Chaminé faz o paralelismo como “ir a casa de um amigo". "Nós sabemos onde ele mora. É a área temática na livraria. Mas não sabemos o que ele tem lá dentro de casa. Aqui vamos à temática e procuramos. Com o correr do tempo desenvolvemos as nossas capacidades. O João Paulo tem mais memória pelo título e pelo nome do autor. Eu é mais pela capa, fotográfica. Muitas vezes complementamo-nos.”
A grande maioria dos livros foram recolhidos pelo fundador e são, maioritariamente, obras de autores portugueses. Dizem que, provavelmente, é a livraria em Portugal com maior número de publicações.
Livros com afetos na Chaminé da Mota faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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