A Biblioteca Joanina foi classificada por alguma imprensa internacional como a biblioteca mais espectacular do Mundo.
Logo no inicio da visita, quando se começa a sentir o ambiente único do espaço, percebemos de imediato a razão desta distinção.
O seu director, José Bernardes, é também um dos apaixonados pela biblioteca. Nota-se pela forma como se refere à instituição que dirige: “É uma biblioteca que impressiona em primeiro lugar por ser bonita. É uma biblioteca esplendorosa em que todos os visitantes se maravilham com ela. Não há muitas assim”.
José Bernardes salienta ainda a eficácia da biblioteca: "os livros são objectos muito frágeis e as condições de preservação desta biblioteca são únicas. Há livros com cerca de 500 anos que continuam à disposição dos leitores". Neste processo de preservação contam com a ajuda dos morcegos que durante a noite eliminam insectos.
O terceiro motivo porque José Bernardes diz que a Biblioteca Joanina impressiona é porque foi construída há 300 anos com várias mensagens para a universidade e que ainda hoje continuam válidas para a comunidade académica. Por exemplo, a “biblioteca diz-nos que a universidade deve estar assente em valores".
Numa das salas são referidas a virtude e a honra e a própria universidade aparece representada com uma joeira na mão. Joeirar significa separar o trigo do joio, ou seja, uma universidade precisa de fazer escolhas.
Ao longo das três salas do piso nobre há muitas outras mensagens. “Esta biblioteca é uma casa falante. Tudo aqui fala”. Por exemplo, na primeira sala a biblioteca é representada por uma figura feminina a receber livros dos quatro continentes que se conheciam na altura: Europa, África, Ásia e América.
“Isto é espantoso porque no inicio do século XVIII, quando se representava o Mundo, a Europa tinha um estatuto de supremacia e aqui é diferente. Precisa dos saberes das outras partes do Mundo e não apenas o saber impresso".
As três salas do piso nobre estão decoradas e as paredes estão forradas de estantes com livros.
As estantes de dois andares ainda são as originais, de há 300 anos, e são de carvalho. Algumas têm escadas embutidas. Estão decoradas com folhas de ouro.
O retrato de D. João V, o patrono da obra, ganha destaque numa das paredes principais da construção em estilo barroco, ou utilizando uma imagem feliz, de um "iluminismo cristão" porque se assemelha a um templo de livros.
Algumas pessoas, quando entram, baixam o tom de voz como se estivessem num templo. “É uma casa esplendorosa devido, por exemplo à ostentação, ao efeito de profundidade nos tetos e à profusão de madeiras".
A biblioteca foi mandada construir por D. João V, tal como a Biblioteca do Convento de Mafra que é igualmente considerada uma das mais bonitas em todo o Mundo. A da Universidade de Coimbra começou a ser construída em 1717.
O reitor da altura pediu ao Rei um lugar para guardar uma biblioteca que estava à venda por morte de um lente da Universidade. D. João V não se limitou a construir uma mera biblioteca. Contratou especialistas e o edifício de três andares é um símbolo de um país que na altura rompia com o obscurantismo e apostava no conhecimento e nas artes.
A biblioteca tem mais de 60 mil volumes e tem livros publicados até ao ano 1800. O mais antigo é uma bíblia de 1140, do tempo de D. Afonso Henriques. A bíblia tem quatro volumes e é em pele. Estima-se que tenham sido abatidos cerca de mil animais para a fazer. Eram recém-nascidos para aproveitar a pele lisa.
A biblioteca tem vários tesouros como são exemplos a primeira edição dos Lusíadas, uma bíblia hebraica e alguns manuscritos, como é o caso de Almeida Garrett. Estes tesouros estão guardados no outro edifício da Biblioteca Geral que começou a funcionar em 1962. É também nesta estrutura que são consultadas as obras da Biblioteca Joanina. Por ano são requisitados cerca de 800 volumes para consulta.
A biblioteca está aberta para consulta a qualquer cidadão mas a sua actividade, desde a fundação, é dirigida à comunidade académica.
A biblioteca é um dos lugares mais visitados em Coimbra. É procurada por muitos estrangeiros que podem ver ainda os dois pisos subterrâneos que funcionaram como prisão.
Biblioteca Joanina – o templo dos tesouros faz parte do podcast da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
Comentários