Apaixonei-me por esta ilha no preciso momento em que a vislumbrei da janela do avião ao sobrevoá-la pela primeira vez. Perdi a conta ao número de voos que fiz, mas aterrar no Pico foi sem dúvida uma das experiências de aterragem mais cénicas de sempre.

O Pico é uma das nove ilhas que fazem parte do arquipélago dos Açores, pertencendo ao Grupo Central. Com a montanha mais alta de Portugal a dominar o horizonte, esta ilha vulcânica oferece paisagens de beleza dramática, com campos de lava contrastando com vinhedos únicos classificados como Património Mundial da UNESCO, tendo o mar sempre presente.

Para além das suas paisagens arrebatadoras, o Pico é também um paraíso para entusiastas de aventuras na natureza, com trilhos desafiantes pela Montanha do Pico, caminhadas onde se pode admirar a vegetação endémica impressionante da ilha, grutas vulcânicas fascinantes e algumas das melhores oportunidades de observação de cetáceos no mundo.

O Pico é uma ilha relativamente pequena, mas tem muito para visitar, pelo que recomendo pelo menos três a quatro dias para visitá-la, sendo necessário adicionar uma noite extra caso planeiem subir à Montanha do Pico.

Neste artigo, partilho os meus lugares favoritos na Ilha do Pico e algumas dicas para aproveitarem ao máximo a vossa visita a um destino tão especial.

Pico, Açores
Pico, Açores Vinhedos do Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Montanha do Pico

A paisagem da ilha é dominada pela Montanha do Pico, que é na verdade um vulcão adormecido com cerca de 750 mil anos. Erguendo-se majestosamente a 2.351 metros de altitude, é a montanha mais alta de Portugal e uma das paisagens mais icónicas dos Açores. Visível de vários pontos da ilha e até das vizinhas Faial e São Jorge, a montanha envolta por nuvens e moldada por rochas vulcânicas oferece uma vista deslumbrante a quem a contempla.

A subida ao topo do Pico é uma das experiências mais emocionantes que se pode viver nos Açores. A caminhada parte da Casa da Montanha e exige preparação física e muita adrenalina, mas as paisagens de cortar a respiração que esta aventura proporciona valerão certamente a pena. Li e ouvi relatos que ao longo do percurso o cenário alterna entre campos de lava, formações rochosas e uma vista panorâmica que se vai tornando cada vez mais ampla até se chegar ao topo, o Piquinho, acima das nuvens e com o Atlântico a perder de vista. A subida demora aproximadamente três a quatro horas, sendo recomendado ir num grupo com um guia, uma vez que pode ser bastante desafiante. Para os mais ousados, a subida noturna permite acampar e assistir ao nascer do sol a partir do cume.

Não subi ao Pico, mas fui até à Casa da Montanha, um espaço que tem como objetivo apoiar os aventureiros que sobem a montanha. As vistas deste ponto são famosas, mas no dia da minha visita havia muito nevoeiro, pelo que estavam parcialmente ocultas. Algo a terem em conta quando visitarem a ilha é que o clima é imprevisível, por isso podem experimentar num mesmo dia várias estações com sol, chuva ou nevoeiro.

Pico, Açores, Portugal
Pico, Açores, Portugal Pico, Açores créditos: Pixabay

Estradas cénicas da Ilha do Pico

Mesmo que não subam ao topo do Pico, poderão observá-lo de diferentes pontos da ilha, uma vez que a montanha é quase omnipresente. Vou por isso contar-vos um segredo. Um dos meus locais favoritos para observar o Pico foi na estrada EN2, que atravessa o centro da ilha, de Lajes do Pico a São Roque. Tinha lido que essa estrada era excelente para apreciar as paisagens, assim como a EN3,  a famosa Estrada Longitudinal que cruza a ilha de leste a oeste e que foi considerada a mais bonita de Portugal, mas estava longe de imaginar o que iria encontrar.

A estrada EN2 atravessa o coração da ilha do Pico e leva-nos a uma terra dominada por uma vegetação endémica e única que não encontrei em mais nenhum lugar. Senti-me como se tivesse sido transportada milhões de anos para o passado. Às vezes, quando viajamos, encontramos algo inesperado que quase nos corta a respiração e nos deixa sem palavras. Parei o carro no meio da estrada deserta simplesmente a desfrutar da beleza da paisagem e tirei algumas das fotografias mais espetaculares de sempre.

Lagoas do Pico

A paisagem vulcânica do Pico é também caracterizada por várias lagoas cuja visita é imperdível, como a Lagoa do Capitão, a mais conhecida da ilha situada a 823 metros de altitude, ou a Lagoa do Caiado, a maior lagoa do Pico. Nessa zona da ilha encontrarão novamente paisagens quase irreais, com a vegetação endémica impressionante da macaronésia contrastando com os típicos campos verdes com gado a pastar ao ar livre, um postal perfeito dos Açores, bem como excelentes trilhos para caminhadas.

Lagoa do Caiado
Lagoa do Caiado Lagoa do Caiado, Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Vinhedos e Vinhas da Criação Velha

Os vinhedos característicos do Pico, muitos deles com vista para o mar, são uma visita incontornável na ilha. A Paisagem da Cultura da Vinha do Pico é mesmo considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO pela sua singularidade.

A tradição vinícola no Pico remonta ao século XV. Quando os primeiros colonos chegaram à ilha, apenas uma pequena parte do solo era arável. No entanto, devido ao solo vulcânico rico em nutrientes e à persistência dos habitantes, o Pico tornou-se uma das regiões vinícolas mais importantes de Portugal e, provavelmente, uma das mais distintas do mundo. As vinhas estendem-se ao longo do chão de lava, separadas por muros de basalto construídos para as proteger.

Os vinhedos mais conhecidos são as Vinhas da Criação Velha, na costa oeste da ilha. Reservem algum tempo para passear pelos caminhos entre os muros de pedra negra que contrastam com o verde exuberante da paisagem. Parem no pitoresco Moinho do Frade, de onde terão vistas inesquecíveis para os vinhedos.

Vinhas da Criação Velha
Vinhas da Criação Velha Vinhas da Criação Velha, Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Museu do Vinho do Pico

Junto à cidade de Madalena, o Museu do Vinho também merece uma visita para saber mais sobre a indústria vinícola da ilha. Situado num antigo Convento Carmelita, o museu alberga uma excelente exposição etnográfica sobre a cultura do vinho, incluindo uma adega, uma destilaria e salas de prova e engarrafamento. Os espaços exteriores do museu são lindíssimos, com um jardim de dragoeiros e uma singular ponte vermelha que conduz a um miradouro de onde se têm vistas panorâmicas para os vinhedos e para o mar.

Madalena

De braços abertos para o oceano Atlântico, Madalena é uma vila bonita e pitoresca, com uma variada oferta de lojas e restaurantes onde se pode apreciar a deliciosa gastronomia tradicional. Passeiem pelas ruas típicas de Madalena, parem na Igreja de Santa Maria Madalena, a maior da ilha, no coração da cidade, e vão até ao porto para as melhores vistas sobre a Horta no Faial, situada a menos de oito quilómetros de distância de ferry.

Considerado um dos bares mais bonitos do mundo, não deixem de visitar o Cella Bar em Madalena. Esta construção única que ganhou um conceituado prémio de arquitetura, resulta da transformação de uma estrutura pré-existente em pedra de lava que estava abandonada, a qual foi complementada com uma nova estrutura em madeira, cuja forma tem influências de elementos naturais referentes ao mar e à cultura vinícola da região.

Cella Bar em Madalena
Cella Bar em Madalena Cella Bar em Madalena, Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Cachorro

Localizada entre a Madalena e São Roque, Cachorro é uma pequena aldeia típica, conhecida pelas suas casas de basalto e pelas formações rochosas vulcânicas junto ao mar. O nome curioso deve-se precisamente a uma dessas formações, que parece ter a forma de um cão a encarar o oceano. Esta zona é também reconhecida pelas suas condições propícias para mergulho.

Cachorro
Cachorro Cachorro, Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Lajido

Um dos locais que mais gostei de conhecer no Pico foi Lajido, cujo nome significa precisamente "campos de lava", uma das atrações desta área. Conhecida como o Lajido de Santa Luzia, esta paisagem deriva de um extenso campo de escoadas lávicas basálticas que foram emitidas no passado pelo vulcão do Pico.

A pequena aldeia de Lajido junto ao mar encanta com as suas casas de pedra vulcânica com portas e janelas coloridas. Está rodeada por vinhedos que se espraiam até ao oceano, onde a natureza é exuberante com formações rochosas vulcânicas e piscinas naturais. Lajido acolhe também o Centro de Interpretação da Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico, um excelente ponto de partida para compreender o património cultural da tradição vinícola.

São Roque do Pico

Na costa norte da ilha, São Roque do Pico é uma vila que respira história e natureza. Outrora um dos centros da atividade baleeira nos Açores, alberga hoje o interessante Museu da Indústria Baleeira, onde se pode conhecer de perto o impacto desta atividade na vida local. As piscinas naturais da zona, como as do Cais do Pico consideradas entre as melhores de Portugal, oferecem um cenário idílico para um mergulho refrescante.

Calheta de Nesquim

A pequena freguesia de Calheta de Nesquim é um dos segredos mais bem guardados do Pico. Situada na costa sudeste da ilha e com uma forte ligação ao mar, a sua riqueza histórica e cultural é visível nas casas típicas, na bonita Igreja de São Sebastião e nas histórias de pescadores que fazem parte da cultura local. Protegido por rochas vulcânicas, o porto da Calheta é um local por excelência para contemplar o pôr do sol ou simplesmente sentir o ritmo tranquilo da vida insular.

O próprio nome da freguesia tem uma história curiosa. No século XVI um barco proveniente do Brasil naufragou durante uma tempestade ao largo daquela zona. Apenas três homens se salvaram, guiados pelos latidos do cão de bordo, chamado Nesquim, que os conduziu a uma enseada (ou calheta) em segurança, saltando para terra num local que ficou conhecido como o Morro do Cão.

Lajes do Pico

Lajes do Pico é uma paragem obrigatória para quem visita a ilha, não só pela sua beleza natural, mas também pela sua importância histórica. Esta foi a primeira vila da ilha e um dos principais centros baleeiros dos Açores, pelo que vale a pena visitar o Museu dos Baleeiros, um dos mais emblemáticos da região, instalado nas antigas casas de botes baleeiros.

Atualmente, Lajes do Pico é um dos melhores locais na Europa para a observação de cetáceos. As águas profundas que rodeiam a ilha servem de rota migratória para mais de 20 espécies de cetáceos ao longo do ano, incluindo cachalotes, baleias-azuis e golfinhos.

Lajes do Pico
Lajes do Pico Pôr do sol nas Lajes do Pico, Açores créditos: The Travel in Pink

Passeios de um dia a partir do Pico

Se ficarem tempo suficiente no Pico, também é possível apanhar o ferry para explorar outras ilhas do Grupo Central dos Açores, como Faial e São Jorge, que ficam nas proximidades.

Para mais inspiração sobre viagens podem consultar o blog da Ana, the Travel in Pink ou a sua página de Instagram.