Os apreciadores de lugares abandonados têm de colocar este na lista. Imponente, o farol da Ponta dos Rosais é visto ao longe e destaca-se no noroeste da ilha das fajãs.
Esta parte da ilha conquista-nos pelos amplos espaços desertos e pelas falésias em tons acastanhados. Quando começamos a percorrer a estrada de terra batida da Ponta dos Rosais, ladeada de verde, parece que entramos numa ilha diferente.
O fim da estrada é o fim da ilha, o extremo noroeste, a 260 metros acima do nível do mar. Falésias escarpadas onde está assente o farol. Mas, antes de lá chegar, fazemos uma pausa para apreciar a vista da antiga vigia da baleia.
Subimos ao topo da torre, utilizada na altura em que se caçavam baleias nos Açores, atualmente, um miradouro espetacular para várias ilhas do arquipélago: Pico, Faial, Graciosa e Terceira – se o tempo assim o permitir –, bem como para a imensidão de oceano circundante. É mais uma daquelas vistas que ficam na memória. No andar de baixo, existem alguns painéis que explicam um pouco mais sobre a baleação nas ilhas do triângulo.
Seguimos viagem até chegar ao fim da estrada e paramos o carro. Ali está a entrada do farol intrigante. Algumas placas deixam o alerta que, caso aconteça algum acidente na área, a Autoridade Marítima Nacional não se responsabiliza. Estamos por nossa conta e, por isso, todo o cuidado é pouco.
Um farol que teve vida curta
Quando foi inaugurado, a 1 de maio de 1958, era o farol mais tecnologicamente avançado da rede portuguesa. Além da torre com 27 metros de altura, foram construídas outras infraestruturas que permitiam a subsistência de seis famílias de faroleiros que ali se estabeleceram. Em 1961 foi construída uma garagem e em 1962 foi instalado um posto telefónico. A comunidade era autossuficiente em energia e água.
Até que em 1964, uma crise sísmica obrigou a evacuação do espaço a 18 de fevereiro. O mecanismo de rotação do farol ficou avariado e a estrada de acesso bloqueada por vários pedregulhos que só foram removidos com acesso a dinamite, de acordo com informações disponíveis no site da Autoridade Marítima Nacional.
A 12 de março do mesmo ano, reparadas as avarias e findada a crise sísmica, o farol regressa à normalidade. Até que a 1 de janeiro de 1980 um forte sismo de 7,2 na escala de Richter atinge várias ilhas do arquipélago dos Açores, danificando todos os sistemas de funcionamento deste farol e provocando várias derrocadas na Ponta dos Rosais.
Desde então, o lugar está abandonado, restando apenas as estruturas das construções. No entanto, é possível identificar onde ficavam as casas, as oficinas, os celeiros e os estábulos. Apesar de ter ficado sem habitantes, o farol continua a dar luz através de uma lanterna alimentada pela energia solar, instalada em 1987.
Se for visitar o espaço, tenha cuidado, principalmente, na zona das falésias da Ponta dos Rosais, além de estar numa área protegida, as falésias são marcadas por fendas e reentrâncias. Desde o sismo, esta é considerada uma área instável pelo que é proibido construir. Não ultrapasse os limites dos muros do farol.
Na Ponta dos Rosais compreendemos porque é que foi atribuída a cor castanha à ilha de São Jorge pelo escritor Raul Brandão e também porque é que recebeu a alcunha de ilha do dragão – a forma alongada e escarpada da ilha assemelha-se a um dragão adormecido no Atlântico.
Para completar o cenário surreal, dois ilhéus de cada lado do promontório – são os ilhéus dos Rosais, santuários para muitas aves marinhas que ali nidificam.
O SAPO Viagens visitou São Jorge a convite do Turismo dos Açores
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