Miradouro das Fragas de São Simão (foto: Paulo Soares)
São Simão, o Casal entre Fragas
Porventura uma das mais belas paisagens de Portugal. O Casal de São Simão e as Fragas de São Simão, na Aguda, Figueiró dos Vinhos, dominados pelas serras que os circundam, são seguramente édens, imortalizados nas obras do Mestre Pintor José Malhoa.
Não fossem as evidências e provas da sua existência, poderia duvidar-se que tamanha beleza possa concentrar-se num território tão diminuto em quilómetros, mas tão grande em atrativos.
Começamos a nossa aventura… Um parênteses para a presença da Rota Esporo (um projeto que que visa promover uma simbiose entre a arte e o território natural) com um magnífico texto de João Louro, “Dead End”, com a belíssima frase introdutória: «É no fim, o fim da linha (“Dead End”) que a viagem começa».
Agora sim, a viagem começa: no miradouro das Fragas de São Simão, com um passadiço em madeira construído pela íngreme escarpa, num percurso de 500 metros até à Praia Fluvial. Uns insignificantes 500 metros, que um dia de intenso calor, parece triplicar - em especial na volta, porque como diz sabiamente o ditado «A descer todos os santos ajudam!».
Classificado com percurso de dificuldade média, temos as seguintes indicações antes de iniciar a jornada: percurso linear de 1730 metros, do Miradouro ao Passadiço junto à Ermida. Serão, talvez, os maiores 1730 metros percorridos, de tanto e tão belo que há para ver, entre um ponto e outro.
O declive do passadiço é impressionante e degrau a degrau vamos descendo, com paragem numa “varanda” aberta ao sol, onde uma “criança contempla a sua terra”, palavras da escultora Joana Alves, para a sua escultura “Na Terra dos Sonhos”.
Entre paraíso e sonho a ténue linha da divinal essência!
Chegamos, por fim, à Praia Fluvial Fragas São Simão onde a água da Ribeira de Alge corre e serpenteia a caminho do Zêzere, com pequenas quedas de água, cujo som nos embala. Refrescar é a palavra de ordem! Numa água límpida que segue o seu caminho, lavando e esculpindo pedra, purificando o corpo e a alma.
O bar da praia convida a relaxar e a retemperar energias para a subida que se avizinha, rumo à aldeia Casal de São Simão, do outro lado do vale. Desta feita sem passadiços, mas com um trilho ancestral devidamente identificado, percorremos os 630 metros que separam a praia da Aldeia do Xisto, ao som da água que passa, das folhas que a brisa agita e dos pássaros.
A Aldeia do Xisto, completamente recuperada, tem apenas uma rua. Mas uma rua basta para que a beleza do lugar nos arrebate. Construída em quartzito, com eira e forno comunitário, as casas particulares e de Alojamento Local, adornadas com flores e espanta-espíritos, delimitam a única via, com um fontenário datado de 1939.
Tempo para visitar a Loja da Aldeia e conhecer os produtos típicos da região, e degustar as iguarias no restaurante Varanda do Casal, um edifício cuja base respeita a construção da Aldeia, com um piso superior moderno e envidraçado para que o visitante possa continuar a admirar a paisagem verdejante da serra. Com uma ementa elaborada de produtos regionais e alimentos confecionados em tachos de barro e forno a lenha, o espaço apresenta um leque de pratos típicos, do borrego ao cabrito, passando pelo porco preto, o bucho ou o maranho. Na hora de adoçar a boca, as propostas passam pelas tradicionais tigelada no tacho ou torta de laranja.
Estamos quase no fim da linha, mas há ainda uma nova subida: da Aldeia à Ermida e desta ao passadiço.
A Ermida de São Simão, quase no topo do Monte, data do século XV e é dedicada a São Simão e São Judas Tadeu. No cume do Monte São Simão, um pequeno passadiço em madeira, leva-nos ao Miradouro, onde se lê «A partir deste miradouro é possível observar a paisagem que compreende a aldeia (...), as fragas (...) e, no fundo do vale, a ribeira de Alge. Esta paisagem harmoniosa é fruto tanto da ação da natureza como da ação do homem (...)».
Séculos de história num só lugar! O nosso desafio? Não deixem de visitar este lugar encantatório! Está na hora de calçar umas sapatilhas, pôr a mochila às costas (que não nos falte água fresca!) e deixar-se conduzir por um trilho, um passadiço, uma aldeia, uma praia inolvidáveis.
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