No cais de Escaroupim a vista abrange o rio e a aldeia.
A bonita paisagem natural e as marcas da cultura avieira que podemos observar nos barcos do cais, com palafitas, e nas casas coloridas que dão início ao polo urbano.
Um dos momentos mais interessantes a que podemos assistir no cais é ao pôr do sol. A fusão de cores no rio e no céu é agitada pelo regresso à ilha das Garças de inúmeras aves.
Outra descoberta desta zona é num passeio de barco com regresso por um dos canais repletos de árvores e com alguns barcos de pesca.
No topo do cais, a vista alcança as pequenas casas de madeira e uma ligeiramente maior, a Casa Típica Avieira. Destaca-se pelas cores vivas, assente em estacas e com telhado de duas águas. Em Escaroupim há apenas mais três ou quatro casas que preservam esta arquitetura.
Inês Rabita diz que onde podemos ver em maior número é a Casa Museu e outras mais pequenas que “servem para os avieiros guardarem as artes da pesca. Umas estão próximas do restaurante, outras da Casa Avieira.”
A casa típica tem o interior recheado com instrumentos dos avieiros. Na cozinha, na sala, sótão e nos quartos diminutos é retratada parte da vida de uma comunidade que surgia no Tejo, no inverno, em meados do século XIX e que se terá fixado em Escaroupim na década de 40.
O rio e o barco, as bateiras, foram, na fase inicial, o local de residência quase permanente.
As caraterísticas culturais, os modos de vida, instrumentos de pesca, vestuários e outros utensílios dos avieiros podemos descobrir com mais detalhe no Museu Escaroupim e o Rio.
É Inês Rabita que recebe os visitantes e que pormenoriza o que vamos ver: “temos um barco, de nome caçadeira, que os avieiros usavam para caçar. O barco onde eles viviam era a bateira. Era maior, por isso é que não temos no Museu.”
Na visita ao núcleo museológico ficamos ainda a saber que “a mulher remava e o homem lançava as redes ao rio. No Museu podemos ver as redes que usavam e que ainda hoje usam. O peixe era apanhado em viveiros. Temos um de madeira, para colocar enguias, e o viveiro de vime para colocar outros tipos de peixe."
A pesca era durante a noite “e tinham de usar lanternas. Temos aqui algumas no museu. Eles colocavam nas redes, ficavam a boiar e, assim, eles sabiam onde estavam as redes. Temos aqui também os materiais que eles construíam nos seus barcos e também a manutenção que era anual.”
As mulheres desempenhavam um papel fundamental. Alves Redol fez das melhores descrições no livro Avieiros. Das Olindas que remavam, vigiavam as redes, cozinhavam, tomavam conta dos filhos e ainda vendiam o peixe nas ruas e mercados.
Algumas das roupas tradicionais podem ser vistas no Museu. “No fim da pesca a mulher ainda ia vender o peixe aqui na zona com o peixe à cabeça. Temos ali os pesos que levavam. Durante o dia era a roupa com as saias compridas, o lenço para se protegerem do sol, porque, mais tarde, elas também se dedicaram à agricultura e usavam aqueles lenços para protegerem a face do sol.”
As fotografias e os testemunhos valorizam e acentuam o esforço de uma comunidade cujos traços identitários se perderam em muito nas últimas décadas. Até na pesca. “Ainda existe pesca, mas não como antigamente. São poucos, cada vez menos e a pesca é complementar à atividade principal. Tentam conciliar com o seu trabalho.”
Não se olhe para esta mudança com saudosismo. Não encontrei ninguém das famílias de avieiros que tivesse saudades desse tempo. As condições de vida eram péssimas e exigiam um esforço sobre-humano. Como disse Lúcia, em Caneiras, “a situação mudou para muito melhor”. Não tem comparação. A observação de alguns testemunhos no Museu Escaroupim e o Rio são prova dos dias difíceis e instáveis dos pescadores.
Escaroupim – a beleza natural do Tejo, o museu e os avieiros faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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