"Elvas é uma cidade quartel. Não é um quartel. É a cidade. Toda a logística está planeada para militares de civis". A descrição é de Margarida Ribeiro, que conhece bem a cidade, e sintetiza de uma forma clara a imagem que se tem logo na primeira impressão.
Toda a paisagem urbana é marcada por fortalezas e muralhas.
As perspetivas da cidade revelam quase sempre estruturas bélicas e a arte de fazer a guerra.
A arte exclusivamente ornamental que vemos, por exemplo, numa das portas de acesso à fortaleza com a coroa real, como também, na arquitetura de fortes e fortins.
Não é desse modo estranho que o conjunto fortificado de Elvas tenha sido classificado como Património da Humanidade em 2012.
O ponto de partida é o castelo e depois alarga-se por um perímetro de cerca de 10 km e sete baluartes. Esta expansão é também uma janela da história que vai dos castros da época do ferro, aos romanos e à presença islâmica. É com os árabes que se constrói o castelo e uma segunda cintura de muralhas no século XII.
Após a Reconquista, no século XIV, o reino de Portugal edifica nova muralha que configura, de certa forma, o atual centro histórico e o perímetro da cidade.
Refere também Margarida Ribeiro, guia em Elvas, que “as alterações posteriores tiveram a ver com a evolução da pirobalística. As muralhas da cidade não estavam preparadas para a devastação provocada pelos canhões. Eram altas, esguias e ocas. A partir de 1641 foram adossadas muralhas mais baixas, em planos inclinados e em formato abaluartado. À prova de bomba.”
Com o surgimento da artilharia surgem também as construções abaluartadas não só na cidade como também em pontos altos próximos da área urbana. Para evitar ataques com canhões. É nesta altura, a partir do século XVII, e com o conhecimento do engenheiro holandês Cosmander, que se inicia a construção do maior conjunto de fortificações abaluartadas do mundo.
Surge então a fortaleza de Santa Luzia e o esplendoroso Forte da Graça. “É uma fortaleza de estilo barroco. É um aparato, em primeiro lugar porque as portas são magnificas, tal como sucede em todas as fortalezas abaluartadas. O investimento decorativo está na porta. Depois o Forte da Graça está coroado com uma fabulosa Casa do Governador. É uma excentricidade. Dizem que só existem três casas de governador. Duas estão em Elvas e a terceira foi o conde de Lippe que exportou para próximo de Hannover.”
O conjunto, com a Casa do Governador, é de facto surpreendente, em particular quando subimos ao terraço e vemos a dimensão da fortaleza e a sua forma de estrela perfeita.
A vista em detalhe desta obra-prima da arquitetura militar fica para outra oportunidade, como também do fascinante Aqueduto da Amoreira.
Regressemos ao ponto de partida. À torre de menagem do castelo que tem também uma excelente vista para o Alentejo e a Estremadura espanhola.
O acesso ao castelo é feito por caminhos estreitos ou por portas defensivas. Temos ainda outras estruturas militares, como por exemplo os três fortins que chegaram aos dias de hoje. “Foram construídos quatro. O de S. Francisco desapareceu. Conseguimos ver os restantes, desenhados por Wellington, a fazer a defesa dos outeiros. Os fortins de S. Pedro, S. Mamede e o de S. Domingos, também conhecido por Piedade.”
Todas estas estruturas miliares têm as marcas de conflitos quase permanentes com os espanhóis – Badajoz está a 8km – e com as Invasões Francesas. Por outro lado, o investimento permanente em estruturas defensivas ajuda a perceber a importância estratégica de Elvas que, por isso, também é conhecida como a "chave do reino".
“Esta é a chave da grande porta de entrada, a mais fácil, no território português".
"Estamos quase em linha reta entre Madrid e Lisboa e não temos grandes impedimentos orográficos. Nem grandes rios, nem grandes cadeias de montanha. É o caminho ideal para um exército passar. Isto evidencia a importância de Elvas em fechar muito bem esta porta, em ser a “chave do reino”.
A chave que antes trancava as portas do reino é hoje uma das mais bonitas e interessantes portas de entrada em Portugal.
Além do património militar, destaca-se ainda o conjunto de igrejas, as ruas estreitas da judiaria, fontes ornamentadas e, por último, mas não menos importante, a gastronomia e o comércio que cativam em particular nuestros hermanos.
Elvas, “a chave do reino” faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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