Da ligação viária de Elvas a Olivença restam 5 arcos na margem esquerda e 8 arcos na margem direita do Guadiana. O rio corre aqui pouco apertado – alarga-se um pouco mais à frente –, no entanto, a extensão da ponte ainda é considerável. O tabuleiro teria 450 metros de comprimento e 5,5 metros de largura.
A altura era superior a uma dezena de metros no ponto mais alto em relação ao Guadiana.
Sensivelmente a meio ergue-se parte da parede de um torreão. É o sinal de que a ponte de 1520, mandada construir por D. Manuel I, tinha outras funções para além da ligação a Olivença. Como diz Margarida Ribeiro, guia em Elvas, “é uma ponte fortaleza. O torreão revela objetivos defensivos.”
Nesta altura portugueses e castelhanos rivalizavam o território fronteiriço. Mesmo nos séculos seguintes a instabilidade era permanente. Juntou-se o “mau humor” do Guadiana que também contribuiu para o desabamento de alguns arcos. Foram reconstruídos algumas décadas depois.
O Guadiana agora está mais fraco, mostra parte do seu leito rochoso por onde podemos andar à procura da melhor perspetiva da ponte. Recomendo a visita ao pôr do sol pela beleza da paisagem e porque se conseguem ver muitas aves.
Há dois locais de onde temos uma boa perspetiva de conjunto. No alto da margem esquerda do rio onde está a capela de Nossa Senhora da Ajuda.
O outro local é a partir da nova ponte construída no início deste século. Após o “irritante” caso de Olivença e a consequente hiper sensibilidade diplomática foi o Estado português que custeou a sua construção.
Neste jogo diplomático é interessante verificar que na margem direita do Guadiana o Estado espanhol assinala a entrada no país vizinho. Em sentido inverso não há qualquer placa a dizer “Portugal”.
Quanto à ponte antiga já houve várias tentativas para a sua reconstrução mas sem sucesso.
Ainda no tempo da Monarquia, em 1903, D. Carlos fez uma promessa. A mesma intenção foi retomada 90 anos depois na Cimeira Luso-Espanhola e em 1995 passou a projeto. Um século depois do compromisso do governo do rei D. Carlos finalmente começaram as obras.
Foram os espanhóis que iniciaram a tarefa com o objetivo de se fazer um percurso pedonal. Pouco se avançou. Surgiram vários entraves e um deles foi completamente inesperado: os narcisos que tinham ocupado o tabuleiro do que restou da ponte.
O número é considerável, decoram de amarelo a ponte no Outono e pertencem a uma espécie que corre o risco de extinção e por isso está protegida a nível internacional.5
Portugueses e castelhanos lutaram por este território. Construi-se a ponte original no século XIV para fortalecer a defesa de Olivença. Mais tarde uma nova ponte com potencial defensivo.
Os castelhanos também construíram a sua ponte fortaleza, em Badajoz e de maiores dimensões (continua a funcionar), lutaram, dinamitaram… e afinal o território acabou por ser conquistado pelos narcisos. Sinais dos tempos.
Aqui encontra um trabalho do Público com testemunhos de um historiador.
A Ponte está classificada como Imóvel de Interesse Público.
Narcisos conquistam a ponte de Olivença faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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