Hoje é o contrário. São postais ilustrados para seduzir visitantes dos dois lados da fronteira. Nos últimos anos até se faz a travessia de barco para se regressar de slide. Na Tirolina.
As duas vilas organizam eventos conjuntos e no Festival do Contrabando colocam uma ponte no Guadiana a unir as duas terras.
No dia a dia é fácil atravessar de barco e até há vários portugueses a viver no lado espanhol como é o caso de Júlio Cardoso, técnico do Turismo da Câmara de Alcoutim.
Há 20 anos que atravessa o Guadiana e hoje diz que é um hábito difícil de deixar.
Hoje atravessar o rio é também uma das atrações das duas localidades. Na Tirolina é um instante. Em 50 segundos saltamos da colina do castelo de Sanlúcar de Guadiana para um vale em Alcoutim.
As luzes das ruas acendem e apagam na mesma altura, apesar da diferença horária. Os sinos tocam com um ligeiro desfasamento. Julgo que é propositado. A maior diferença é a “siesta” que não há correspondência do lado português.
Pelo que testemunha Júlio Cardoso é muito maior a influência lusa em Sanlúcar do que o contrário. Muitas famílias são de origem portuguesa e as mais idosas até falam com o mesmo sotaque do interior da Serra do Caldeirão.
Vale a pena contemplar durante várias fases do dia o Guadiana e Sanlúcar a partir de Alcoutim.
Do alto do castelo a vista é ainda mais interessante porque conseguimos ver dezenas de veleiros que estão no Guadiana a esperar por melhores condições para atravessarem o Atlântico. Também nesta área os dois municípios desenvolveram uma acção conjunto, o 1º Encontro Internacional de Veleiros.
São embarcações provenientes de todos os continentes que “fazem do Guadiana o último porto de abrigo na Europa Continental”.
Alguns acabam por ficar aumentando o número de estrangeiros que vivem nesta região e que reforça o ambiente multicultural.
Outra nota curiosa é que muitos estrangeiros que residem no Algarve escolhem Alcoutim para visita quando recebem familiares e amigos porque consideram que é um lugar genuíno.
Nas últimas duas décadas tem sido esta a aposta de Alcoutim, ter uma oferta complementar ao sol e praia. O destaque é o castelo do século XIV e tem um núcleo de arqueologia. Sem esquecer a excelente vista.
Além do centro histórico, há ainda fora da vila o Castelo Velho de Alcoutim, as ruínas romanas do Montinho das Laranjeiras e os Menires de Lavajo.
O Castelo Velho é da presença islâmica e fica no alto de Santa Bárbara.
Os Menires de Lavajo são constituídos por dois núcleos e um deles é visitável. Fica próximo de Afonso Vicente e terá sido um espaço sagrado dois a três mil anos antes de Cristo.
O Montinho das Laranjeiras fica mesmo junto ao Guadiana e as ruínas são de origem romana. A ocupação só foi interrompida 12 séculos depois, provavelmente com a Reconquista.
O património natural do concelho de Alcoutim é uma das mais valias deste território. A serra, o interior – que é uma fusão com paisagens alentejanas – e o rio Guadiana são lugares de passagem para muitas caminhadas e roteiros pedestres que percorrem uma parte significativa do concelho.
O rio tem um estatuto especial porque foi a principal via de comunicação, uma secular rota comercial e também um pólo de cultura associada à pesca, à gastronomia e aos barcos. No Museu do Rio, em Guerreiros do Rio, encontra retratos desta cultura que, em alguns aspectos, está a desaparecer.
O “slide” transfronteiriço de Sanlúcar a Alcoutim faz parte do programa da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
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