Os órgãos são todos do mesmo organeiro, Pascoal Oldovino, de origem genovesa, e que acabou por se estabelecer em Évora. Na igreja do convento deixou três obras primas.
“Estão restaurados. Os três tocam e têm o mesmo diapasão. Podem tocar em uníssono, em simultâneo e também em diálogo.”
A descrição é do padre Manuel Ferreira, pároco da igreja de S. Francisco.
Excluindo momentos excecionais como o presente com a pandemia, “o organista residente toca todos os domingos e em outras celebrações.
Também organizamos concertos. É evidente que um concerto com três órgãos é mais raro porque não é fácil juntar três organistas para tocar.”
Um dos aparelhos está na sala régia, na tribuna superior. “É o chamado órgão positivo, tem uma caixa muito bonita que era do Convento do Salvador.”
A caixa está pintada com o colorido típico do Alentejo e até com os habituais motivos florais. É o preferido do organista residente nos concertos de Domingo.
“Abre a janela da tribuna, o som espalha-se por todo este espaço e a pessoa quase que não tem consciência de onde vem. Não vê ninguém mas sente a beleza do som.”
Numa das alas laterais da igreja está outro órgão. É um realejo, ligeiramente mais pequeno, e com cores mais discretas. Segundo o historiador Artur Goulart seria o utilizado pelo próprio construtor.
O de maiores dimensões está colocado numa parede e serve de antecâmara à capela-mor para onde rapidamente se dirige o nosso olhar devido ao mármore e à luz dos vitrais.
“O altar-mor é em mármore porque no século XVIII o cónego Landim, à semelhança do que foi feito na Sé de Évora, desmanchou a capela-mor existente e colocou esta toda em mármore. As laterais, tal qual nós vemos, não eram as primitivas. Tinham pinturas, foram retiradas e levadas para o Museu Nacional de Arte Antiga quando o convento entrou em ruína. Os altares que se encontram agora são provenientes de vários conventos da cidade de Évora.”
A estrutura que vemos hoje da igreja do antigo convento de S. Francisco resulta de uma profunda renovação realizada no século XV.
Antes, a obra teve o gosto dos frades Franciscanos chegaram a Évora em 1224 e instalaram-se nos arredores da cidade. “Nasceu primeiro uma pequena igreja e um pequeno convento. A partir de D. Afonso V, D. João II e D. Manuel I a igreja adquiriu a forma e a dimensão que hoje conhecemos.”
Algumas décadas depois chegou a ser designado como Convento de Ouro porque foi apropriado pela família real que estabeleceu o Paço Real no convento. A construção demorou cerca de 30 anos, entre 1480 e 1510 e apresenta vários estilos.
Destaca-se sobretudo o gótico, com muitas ogivas e o deslumbrante teto. Evidencia ainda sinais do estilo manuelino.
A presença real, do ponto de vista histórico, é também marcada pelo casamento de D. Pedro I que, mais tarde, viveu o dramático romance com Inês de Castro.
Outras marcas da presença real são visíveis no próprio edifício como por exemplo, a esfera armilar do rei D. Manuel e o pelicano de D. João II. Estão no arco de fecho da capela-mor e também na entrada da igreja.
Com a perda da independência o rei Filipe I entregou o convento aos religiosos e a ruína chegou depois da extinção das ordens religiosas em 1834.
Parte do edifício foi vendido em hasta pública e ficou preservada a igreja e a Capela dos Ossos, construída no tempo filipino.
A manutenção da igreja permitiu ainda a salvaguarda de muitas pinturas e uma grande diversidade de arte sacra. Algumas peças podem ser vistas no núcleo museológico que, com a coleção de presépios de todo o mundo, enriquecem o património do antigo convento.
A igreja e o convento estão classificados como Monumento Nacional
Concerto de órgãos e de fascínio na igreja de S. Francisco de Évora faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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