Simão Monsanto tem a oficina de sapataria numa travessa de Almeirim onde produz e repara calçado. A loja é na praça de touros de Almeirim e rapidamente se percebe esta relação com o campo e o campino.

Simão Monsanto
Simão Monsanto Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

O próprio Simão Monsanto faz o historial recente, narrando que “são botas para andar essencialmente no campo, mas depois passou a ser moda no dia a dia. Pelo menos era assim há cerca de 20 anos, no dia a dia só usavam este tipo de calçado nestas zonas.”

Simão Monsanto
Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

O consumo deste tipo de calçado perdeu impacto no universo urbano, mas continua a ter os clientes “fiéis” como também “cavaleiros, forcados e muitas das pessoas que andaram nas escolas agrícolas. Na vida delas nunca deixam de usar este calçado que usavam durante o curso.

Simão Monsanto
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Há uma semana atrás, fiz umas botas para um senhor de Bragança que frequentou o curso da Escola Agrícola de Santarém, há cerca de 60 anos. Na altura era cliente e nunca deixou de o ser. De dois a três anos ele manda fazer umas botas novas.”

As botas ribatejanas ao longo do tempo acomodam-se ao pé e duram muito tempo. A resistência é uma das características, como também a aparência. É uma bota com face bonita. Usa-se muito nesta zona e no Alentejo um salto que é tradicional, o salto de prateleira.

Simão Monsanto
Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

"É um salto largo e as pessoas continuam a usá-lo no dia a dia. É muito bonito”, refere Simão Monsanto, pouco depois de o ver a cortar de forma manual um salto de uma bota de mulher. É um trabalho persistente, delicado, que vai aperfeiçoando o corte e a perfeição do resultado final não espelha o esforço e a arte que exigiu.

Uma bota para todo o ano

Simão Monsanto
Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

Na exposição na loja na Praça de Touros de Almeirim temos uma grande variedade de modelos e, aparentemente, fica-se com a ideia que é um calçado dedicado ao Inverno. Errado. Há quem as use as botas ribatejanas o ano inteiro, embora, Simão Monsanto refira que para os dias muito frios é mais adequado outro tipo de calçado.

Simão Monsanto
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“Mas há quem use esta bota o ano inteiro e no verão usa-a sempre. Não é quente. São botas que as pessoas andam com elas um dia inteiro e sentem-se bem.”

Na sapataria Simão Monsanto e outro sapateiro estão quase sempre sentados a cortar ou a coser as peles.

Simão Monsanto
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Nas paredes estão pendurados dezenas de moldes em madeira, mas o segredo da personalização está registado em vários livros, alguns com cerca de 20 anos.

Simão Monsanto
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Cada folha tem o traço do sapateiro a contornar o pé que ali foi colocado. Há algumas medições, o nome e a data. Fica o registo para os fiéis clientes poderem encomendar sem terem de se deslocar à oficina do sapateiro. Agora conta também com o site para encomendas que surgem de todo o país.

Simão Monsanto
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Uma parte significativa das botas tradicionais do Ribatejo que produzem é por encomenda. “Há certas alturas em que conseguimos fazer uns pares e vai-se vendendo, porque há pessoas que não podem estar muito tempo à espera e alguns números que as pessoas levam logo”.

Simão Monsanto
Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

Os materiais não variam muito e persistem no método artesanal. “A nossa bota carateriza-se por conservarmos o estilo tradicional. Por vezes, inovamos um pouco, com algumas costuras, inova-se um bocadinho e a bota até fica bonita, mas nunca fugimos muito do tradicional.

Rareia a produção artesanal das botas ribatejanas

A Vitorino&Simão procura manter-se fiel à tradição, por exemplo com peles curtidas com produtos vegetais, sem o recurso a químicos e com métodos tradicionais. “Fazer uma bota demora perto de um dia de trabalho. Se formos contabilizar desde o início do corte da pele até a bota estar pronta para entregar ao cliente é perto de um dia. É cosida à mão. É toda feita à mão e o cozimento também é.”

Simão Monsanto
Simão Monsanto créditos: andarilho.pt

Simão Monsanto é um dos mais conceituados artesãos que produzem as botas tradicionais e cada vez há menos colegas de profissão. No Alentejo havia muitos sapateiros, assim como no Ribatejo, mas as pessoas foram desaparecendo, não havia apoios para as pessoas aprenderem, os aprendizes acabaram e as coisas vão morrendo um pouco. No Alentejo já quase que não há ninguém e o mesmo no Ribatejo. Somos quase os únicos a fazer as botas no Ribatejo.”

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Na oficina, Simão Monsanto produz ainda outro tipo de calçado, como sapatos de forcado e à vela.

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Bota tradicional do Ribatejo – a tradição do campo na cidade faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho, e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.