Este ano, a evocação tem um duplo sentido simbólico. Porque andamos a combater outras "guerras", citando responsáveis políticos sobre a pandemia e, por outro lado, porque o conflito terminou há 75 anos.

Conta Artur Costa, residente em Benfeita, que “no dia em que terminou a guerra, em 1745, a torre ainda não estava pronta nem tinha o relógio. Foi à mão que tocaram as badaladas”. A torre estava em construção há algum tempo “e encontrava-se na fase final porque já se falava no Armistício, conforme veio a suceder.”

Torre da Paz em Benfeita
créditos: andarilho.pt

Artur Costa tem um pequeno comércio muito próximo da Torre e também ajudou a tocar o sino em 7 de maio de 1945. “Tinha 12 ou 13 anos e ainda lá fui tocar. Quando acabou a guerra foi um pandemónio aqui na Benfeita. Fizeram uma festa. Vários homens reuniram-se arranjaram cabritos e fizeram uma pândega, foi uma festa do diacho.” Nos últimos anos o ambiente tem sido muito diferente. “Agora não, já não é tanto. Para já, há pouca gente e já não há o interesse por estas coisas como havia antigamente. Hoje não dão tanto valor a essas coisas como davam naquele tempo.”

Torre da Paz em Benfeita
créditos: andarilho.pt

Benfeita faz parte das aldeias de xisto e a torre é um dos melhores exemplos da sua utilização. A cor escura do xisto destaca o relógio que tem um mecanismo complexo, mas nunca falhou. “Toca todos os anos, é preciso é dar-lhe corda. É um relógio mecânico, antigo, e é preciso dar-lhe corda e estando tudo certinho, ele não esquece.”

Torre da Paz em Benfeita
créditos: andarilho.pt

O mecanismo do relógio tem muitas rodas dentadas e em algumas fizeram inscrições com várias mensagens, como por exemplo “bendigamos a paz”. Os pesos são grandes e de granito.
No topo da torre podemos ver um bonito catavento com vários ícones. Um deles é a pomba, símbolo da paz.

A torre foi está próxima de duas capelas, quase colada com a de Santa Rita e uns metros ao lado a do Senhor do Passos, e foi construída em 1945 por iniciativa de Mário Mathias, jurista e natural de Benfeita.

Torre da Paz em Benfeita
Artur Costa créditos: andarilho.pt

Segundo a descrição de Artur Costa, o responsável pela construção da torre “teve vários cargos. Esteve no Governo, no Ministério do Interior, era natural da Benfeita e muito amigo da terra. Foi também um diplomata conhecido, mais o irmão, e lembrou-se da torre para assinalar o fim da Guerra Mundial”. Mário Mathias regressou depois à Benfeita onde foi presidente da Junta de Freguesia durante 11 anos.

Além da torre, Benfeita tem o museu Simões Dias e casas de xisto, muitas caiadas de branco, por entre ruas estreitas e sinuosas que decoram a encosta da serra.

Torre da Paz em Benfeita
Praia fluvial créditos: andarilho.pt

O casario é atravessado pela ribeira da Mata, que se funde com a ribeira do Carcavão, vizinha da Torre da Paz. O vale onde está a aldeia tem muitas sombras, é ponto de passagem de turistas e no verão podem refrescar-se na praia fluvial.

Benfeita
Fraga da Pena créditos: Who Trips

Benfeita é também porta de entrada para alguns dos lugares mais espetaculares desta zona do concelho de Arganil. A mais conhecida é Fraga da Pena. Está na zona protegida da Serra do Açor e o local mais conhecido é uma cascata de 20 metros por onde cai água muito fria. Toda a envolvência é de um espaço densamente arborizado da Mata da Margaraça.

Benfeita
créditos: andarilho.pt

Na freguesia de Benfeita há ainda pequenas aldeias no meio da Serra do Açor que mantêm a arquitetura tradicional. Talvez a que mais se destaca com as casas de xisto é o Sardal.