É peculiar, às vezes até estranha, mas sempre divertida. A capital do Japão tem algo de viciante, algo de especial que nos faz voltar a ela, uma e outra vez.

Lembro-me bem da primeira vez que visitei o Japão. A cidade de entrada foi, precisamente, Tóquio e nessa altura eu não sabia, mas havia de lá voltar mais vezes. A cidade “apanhou-me” e passou rapidamente a estar no meu top 10 de viagens.

Eu tinha muito para ver e pouco tempo para o fazer, por isso, ainda meio atordoada pelo jet leg, dirigi-me até ao Palácio Imperial, a residência principal do Imperador. Queria visitar o complexo e tinham-me dito que havia um número limite de entradas permitidas por dia e que a admissão para a visita guiada era feita por ordem de chegada, por isso quis tentar entrar logo no primeiro dia, porque se não conseguisse, ainda tinha outra oportunidade.

Saí na estação de Tóquio, caminhei por cerca de 15 minutos até à Ponte Nijubashi e, pouco depois, vi os portões principais de acesso ao palácio.

Tóquio: Adorável, estranha e viciante
créditos: Travellight e H. Borges

Tive sorte e deixaram-me entrar. A visita guiada demorou cerca de 90 minutos e limitou-se ao exterior dos edifícios. Num primeiro momento foi uma desilusão para mim, mas depois percebi que foi o suficiente para ficar com uma ideia da escala do Palácio Imperial e das áreas circundantes, bem como da história de Tóquio e do Japão. O guia falava em japonês, mas havia áudio-guias que faziam a tradução para o inglês.

Do Palácio caminhei até ao Parque Hibiya. Era inicio de abril e as cerejeiras estavam todas em flor. Fiquei encantada com aquele espetáculo natural… Acho que nasceu ali a minha eterna paixão pelo Japão.

Tóquio: Adorável, estranha e viciante
créditos: Travellight e H. Borges

Regressei à estação de Tóquio e apanhei a linha JR Yamanote para a estação de Akihabara. Eram apenas duas paragens e o percurso levou no máximo 10 minutos.

Akihabara é uma área comercial conhecida pelas suas salas de jogos, lojas que vendem aparelhos eletrónicos e manga (banda desenhada japonesa) ou outros estabelecimentos, como cafés e hotéis, associados à subcultura otaku.

Otaku é um termo com vários significados. Na perceção ocidental corresponde a alguém que adora jogos de vídeo, anime (animação) ou manga, mas no conceito japonês pode incluir também pessoas com enorme interesse por tecnologia e transportes ferroviários.

Achei fascinante aquele lado da cidade e adorei ver as várias pessoas que na rua se vestiam como o seu personagem de animação favorito. Já entrar num Maid Café, foi mais esquisito…

Tóquio: Adorável, estranha e viciante
créditos: PxHere

Para quem não sabe, Maid cafés são cafés onde as funcionárias se vestem e agem como versões exageradas de empregadas domésticas francesas ou vitorianas.

Passear por Akihabara, às vezes, faz-te sentir como se tivesses sido transportada para uma estranha realidade paralela.

Há hotéis temáticos, restaurantes que têm robôs a servir à mesa, lojas como a Don Quijote, que está aberta 24 horas por dia, 7 dias por semana, e vende tudo o que se possa imaginar, desde Kit Kats de chá verde, a anime colecionável, passando por brinquedos infantis e brinquedos sexuais (vendidos uns ao lado dos outros!).

Há também máquinas de venda automática que vendem as coisas mais incríveis (e estranhas) como hambúrguers, guarda-chuvas ou (pasme-se) cuecas de senhora usadas!

O Santuário Kanda Myojin, que fica a poucos passos das Estações Ochanomizu e Akihabara, é outro motivo de interesse na área. É conhecido como o santuário que protege a cidade de Edo (atual Tóquio), há mais de 1300 anos.

Existem centenas de restaurantes em Akihabara, por isso pode ser difícil escolher, mas logo na primeira visita, fiquei fã de restaurantes yakiniku. Yakiniku é um termo japonês que se refere a carne grelhada. São estabelecimentos que têm mesas individuais, cada uma com o seu próprio grelhador. Basicamente, somos nós que grelhamos a carne (que já vem marinada e fatiada) antes de a comer.

De Akihabara, segui para Asakusa. Apanhei o Tsukuba Express na estação de Akihabara e em menos de 10 minutos estava lá. Asakusa é o centro histórico de Tóquio e abriga o famoso Templo de Senso-ji — o templo budista mais antigo de Tóquio.

Asakusa: o centro histórico de Tóquio onde podemos encontrar o passado desta metrópole
créditos: Travellight e H. Borges

Fiquei maravilhada com a bela arquitetura dos portões e do pagode de cinco andares e fiz um passeio de riquexó — uma maneira interessante de ver os pontos turísticos e explorar este bairro antigo.

Guardei o segundo dia para conhecer melhor o lado mais moderno da cidade passeando por  Shibuya, Harajuku e Shinjuku.

Primeiro visitei a Torre de Tóquio, um dos símbolos da cidade. O tempo estava nublado por isso a vista da plataforma de observação não foi grande coisa, mas, anos mais tarde, num dia de céu limpo, voltei lá e até o Monte Fuji consegui avistar.

Torre de Tóquio
créditos: Travellight e H. Borges

Perto da Torre de Tóquio, encontrei o Parque Shiba (o parque público mais antigo do Japão) e o Templo Zojo-ji.

Dali caminhei até à Estação Akabanebashi, apanhei o metro e tive de mudar de linha em Aoyama-Itchome para chegar até Shibuya. A principio enganei-me na saída e, se não fosse um simpático senhor que falava um pouco de inglês, tinha me perdido. Recordo até hoje que ele, talvez para me consolar, me disse “não se preocupe, nós que somos daqui, também às vezes nos enganamos… sabemos sempre onde entramos, não sabemos é onde vamos sair”.

Shibuya é divertido de explorar durante o dia e à noite. É um distrito comercial e de entretenimento extremamente popular, com lojas e inúmeros restaurantes, bares e clubes.

Shibuya
créditos: Unsplash

Esta área é conhecida por ter um dos cruzamentos mais movimentados do mundo, onde mais de 2.500 pessoas podem atravessar ao mesmo tempo. Há noite enormes sinais de néon iluminam os prédios em volta e oferecem uma perspetiva fascinante deste lugar movimentado da capital japonesa.

Um dos melhores lugares para ver o cruzamento de Shibuya de cima é no primeiro piso do Starbucks que fica do outro lado da rua da estação de Shibuya.

Continuei a explorar a cidade, seguindo para Harajuku. Fui de comboio de Shibuya para Harajuku e desta vez não tive problemas, não havia transbordo.

Chegando a Harajuku, caminhei até ao enorme portão do santuário xintoísta Meiji Jingu.

Dei uma volta pelo Parque Yoyogi, que fica ali perto, e apreciei o sossego daquele lugar, que contrastava imenso com o movimento caótico da cidade.

Dali segui para um jardim ainda mais maravilhoso: Shinjuku Gyoen, um dos melhores lugares para ver as cerejeiras em flor, em Tóquio. O cenário é de sonho. É um lugar mágico!

Shinjuku Gyoen
créditos: Travellight e H. Borges

Quando saí de Shinjuku Gyoen já era tarde por isso ponderei voltar para o hotel, mas acabei por ir até Shinjuku espreitar o Golden Gai, um bairro animado com mais de 200 pequenos bares espremidos por um labirinto de becos e vielas estreitas.

Apesar de estar acompanhada, não me arrisquei a ir muito longe ou a ficar muito tempo. Não achei seguro… Muito saké, muita festa, ninguém falava inglês… Não era difícil acontecer um mal entendido que me estragasse o dia.

E assim terminou a minha primeira (curta) visita a Tóquio. O interesse porém ficou, e noutros regressos descobri mais coisas incríveis sobre esta cidade onde tradição e modernidade se cruzam.

Descobri, por exemplo, que em Shibuya há mais do que um restaurante português; descobri que descendo a colina do Santuário Yasukuni, perto da universidade de Tóquio, em Jimbocho encontramos livraria após livraria com obras novas e em segunda mão em japonês, inglês e quase todos os outros idiomas.

Visitei o Parque Ueno, que abriga muitos museus de arte e ciência interessantes e também visitei o Museu Ghibli, dedicado aos famosos estúdios que criaram tantos filmes de animação que eu adoro (fica em Mitaka, a cerca de 30 minutos de comboio da estação de Tóquio).

Assisti já a um espetáculo de Kabuki, onde todos os atores são homens. Respeito muito a arte, mas definitivamente esta não é uma experiência para todos. As peças duram três ou quatro horas (ou mais) e são frequentemente interrompidas por aplausos em pé do público. Apesar dos auscultadores com tradução simultânea para o inglês, não é fácil seguir o enredo.

Ainda há tantas coisas que quero ver e conhecer em Tóquio e no Japão… Bom, que seja em breve.

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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World