Foi no recente Novembro e aconselho mesmo esta altura pois o país é tão quente que até Janeiro é ótimo viajar até lá. Era isto mesmo que procurava! Sentir-me fora da Europa e perdida no meio da Antiguidade, guiada pelas melhores empresas turísticas. Atenção que ir ao Egito é, efetivamente, seguro. Sabemos que houve um período não recomendado, mas é seguro e é das melhores viagens da sua vida. Recomendo que tudo seja organizado por agência: voos e planos com guias. Atrasos de voos e barcos é comum. Mas tudo se cumpre.

O cuidado maior para as mulheres, mas nada de alarme como muitas vezes se ouve! Levem sempre lenços e roupas que cubram ombros e pernas para entradas em locais sagrados. O Egito ainda olha, de forma pouco percetível e até leviana, para os nossos cabelos livres. Somos mulheres ocidentais vistas como exóticas para eles. Mas eles e elas são os verdadeiros exóticos e muito simpáticos. Fotografam-nos muito como se fossemos aves muitíssimo raras. E as meninas tocam-nos no cabelo, de forma suave. Graciosidade.

Egito
Pirâmides de Gizé créditos: Sandra Figueiredo

Tenho de confessar que, além de Grécia e Turquia, no lado mais Ocidental, claro, o Egito ampliou a argúcia dos meus sentidos. Aprendi imenso e enquanto vos escrevo, estou a viajar de novo. Estou a espreitar o papiro aqui mesmo na parede por detrás de mim. A reviver tudo em cenas rápidas, na mente. E sei que o fascínio vem do facto do Egito ter sido a civilização ‘professora’ das seguintes. Quero ser muito clara: o que é maravilhoso ali é o Egito antigo, não o moderno. Minha modesta opinião e para não perderem mais do que um ou dois dias no Cairo (Pirâmides, Bairro Copta e o Bazar). Na parte moderna, são confrontados com duas versões: o Cairo enorme e muito produtivo, mas um quadro ilustrativo de poluição. A segunda versão é a pobreza extensa em muitas das zonas do país. E mesmo assim a densidade dos monumentos antigos está por todo o lado. Há um contraste evidente: a sumptuosidade dos monumentos e dos deuses de pedra contra a magreza dos animais e a poluição nas ruas.

Se optarem pelo roteiro que fiz, primeiro irão ao Sul do Egito, portanto do avião entram no navio com todas as comodidades e refeições. Depois sobem, de Luxor ao Cairo, por avião. Então a sul, têm muitas tours com as quais são logo bombardeados na camioneta bem apetrechada que vos recebe no aeroporto. Eu sou extremamente dorminhoca e estava muito cansada da viagem aérea, mas tive de optar logo por uma de duas tours e descansar. Não sou apologista de diretas! Depois de uma ceia que providenciaram aos vários grupos turísticos a chegarem após as 22h, estirei-me na cama, confusa porque senti que tinha mudado de dimensão. E ainda nem tinha visto nada. Adormeci, profundamente. Acordei com vontade de dormir (jetlag!) e foi quando aconteceu a primeira cena: ver o Nilo da janela em pleno dia, como se estivesse eu submersa. Tirei ali uma das melhores fotografias, embrulhada num lençol, com o Nilo em foco. Estávamos quase a aportar em ‘Kom Ombo’, um dos templos que mais gostei e que explica a luta de Hórus e Sobek. Querem saber mais? Numa próxima! Só no Egito há muita viagem para embarcar. E não me peçam para dizer o que mais amei no Egito. Muito difícil.

Rio Nilo
Rio Nilo créditos: Pixabay

Antes de chegarmos ao templo, houve tempo para aproveitar a piscina ou só o sol seco e forte no convés do navio. Mesmo que não queiram, ficam embalados pela selva que aparece nas margens do Nilo, a vegetação seca e o sol cansado que beija este canto de África. Tentei avistar animais, mas não os via. O Nilo, por si só, é um contador de histórias. Enquanto me recostei nas cadeiras de palha, pensei em Cleópatra. Pensei na era dourada do Egito ameaçador como maior império, a dada altura, no Mundo. E senti-me tão grata pelos meus antepassados. Ora tenho de acelerar e vou focar apenas dois momentos, hoje, nesta crónica: o templo de Edfu e Luxor. O templo é dos mais bonitos que irão encontrar, com as colunas que parecem ter sido construídas do céu para a Terra, com as inscrições todas sobre a História do Mundo nas paredes. E tudo tão bem conservado. Vão muitíssimo cedo, pois logo pelas 10h da manhã os templos estão repletos de curiosos e é normal. Todos querem ver o que nos explica a vida. O berço da vida!

Egito: acordar no Rio Nilo e encontrar os tesouros de Luxor
Luxor créditos: Unsplash

Depois de Edfu, prometi Luxor? Mas Luxor tem tantos monumentos que é difícil. O templo de Luxor mantém a linha de colunas colossais, histórias nos hieróglifos e uma energia inexplicável. Os deuses desde a entrada a olharem para nós, com a sua altura impossível. Ali as histórias de amor dos faraós, verdadeiras. Luxor é um nome tão sonante e tão apropriado. Quando deixei o templo, ainda olhei para trás com receio de esquecer algum detalhe.

Quase chorei no dia seguinte quando aportei no ‘santuário’ da minha faraó preferida: Hatshepsut. Fazia um calor infernal, mas tudo o que imaginei desta mulher empoderada da sua era… tudo era real, apesar das reconstruções que têm sido feita ao Templo para o manter conservado. É absolutamente um hino à mulher.

E em Luxor há tanto mais, há Karnak que é o maior dos templos da zona. Difícil de percorrer e de fotografar pois cada caminho, cada recanto, cada coluna desenhada, tudo são oportunidades de orar, fotografar e amar. Senti Deus ali, na forma como O entendam, afinal sempre amámos Deus, seja com que nomes e formas entendermos que deva ser. Orei por vezes e agradeci aos magnânimos que souberam construir os templos mais bonitos que vi nesta vida. E sei que ainda me falta percorrer Mundo.

Egito: acordar no Rio Nilo e encontrar os tesouros de Luxor
Hieróglifos créditos: Unsplash

Em Karnak podem esconder-se na sombra das colunas maiores do lado esquerdo e refletir sobre tudo o que os olhos e ouvidos estão a captar. Têm guias ótimos que vos ajudam a se encantarem com o Egito. Têm tempo cronometrado para tour de fotografias por conta própria. São longas tours e a maratona é um brinde ao corpo que consegue chegar à altura, quase, da alma daquelas maravilhas antigas. Uma coisa muito engraçada que nos foi ali dita por um guia muito espirituoso: “Não pensem que vêm para descansar, pois é madrugar e ver cemitérios todos os dias. O Egito é isto!” E claro que à letra o é, mas a beleza está na metáfora de explorarem os segredos dos hieróglifos, dos faraós, dos templos e das especiarias (e os perfumes) dos mercados egípcios! Marquem o Egito na vossa agenda próxima, voem e sorvam cada margem do Nilo, mal seja possível. Toquem nas paredes dos templos, nas que são permitidas, e façam algo que discretamente me atrevi: encostem o ouvido a uma coluna ou a uma das paredes escritas pelos nossos antepassados… não vos digo o que ‘ouvi’. Espero pelas vossas histórias. Até já!