Saio de Huacachina em direção a Ica onde teria de seguir de autocarro para o meu próximo destino: Nazca. A grande atração de Nazca são as famosas linhas desenhadas num chão rochoso no deserto, cuja origem permanece ainda hoje um mistério. As linhas formam vários desenhos espalhados por uma vasta área, entre os quais se encontram a formiga, a baleia, o beija-flor ou o astronauta. São várias as teorias que tentam explicar a sua origem: há quem diga que foram feitas por antigas civilizações como parte de um ritual para chamar a água, que seriam usadas como calendários astronómicos e os que defendem que, tendo em conta os traços extremamente direitos, só poderiam ter sido feitas por extraterrestres. E esta aura de mistério à sua volta só as torna mais fascinantes.
A melhor forma de as ver é mesmo do ar. Fiz a minha pesquisa antes de para aqui vir e a informação que encontrei deixou-me um pouco (bastante) de pé atrás. Há us anos atrás, foram registados vários acidentes fatais com os pequenos aviões que sobrevoam diariamente as linhas. Entretanto foi desenvolvida uma legislação mais apertada de forma a controlar e garantir a qualidade dos aparelhos usados, mas de qualquer forma não estava muito à vontade com a ideia de poder ir desta para melhor sobre as linhas de Nazca…
Bem, chego à estação da Cruz del Sur em Nazca e imediatamente sou abordada por um tipo que me pergunta se quero ir fazer o voo. Não, não, o que quero mesmo agora é apanhar um táxi e chegar ao hotel, obrigadinha. Ele lá chama uma mulher que estava ali perto com um táxi. Negociamos o preço e lá vamos nós. Ou talvez não.
Começa a perguntar-me se não quero aproveitar para fazer o voo naquele mesmo dia. Ela tinha conhecimento que estavam 4 turistas no aeroporto à espera de mais uma pessoa para poderem embarcar no avião para ver as linhas. E que como era uma coisa de última hora me poderia fazer um preço mais interessante. Bem… na verdade isto até me parecia uma boa oportunidade. Já me tinham falado antes que se poderia conseguir um melhor preço comprando o voo no mesmo dia diretamente no aeroporto. Com algumas (muitas) hesitações pelo meio lá decido arriscar. Bem, seja o que tiver de ser, só se vive uma vez. Vamos lá então. Sem passar primeiro pelo hotel, seguimos diretamente para o aeroporto. Faço check-in no balcão da companhia, as malas ficam ali guardadas e passado 20 minutos estamos todos a dirigir-nos para a pista.
Quando vejo o meu avião há uma pinguinha de suor que me começa a escorrer pela testa. Hummm… isto de facto talvez não tenha sido grande ideia. O avião de 7 lugares é um dos aviões mais pequenos em que já andei e não parece ser propriamente o último grito de tecnologia. Lá nos enfiamos todos dentro do bicho. Não há ninguém ali que não se tenha benzido antes da descolagem. Até eu, que não sou absolutamente nada religiosa decidi que Deus seria uma entidade tão boa quanto qualquer outra para pedir para me fazer o favorzinho de me safar desta.
Consegui aguentar-me firme durante metade da viagem. Apesar da turbulência, o meu estômago conseguiu ainda aguentar-se por tempo suficiente para eu conseguir ver pelo menos metade dos desenhos das linhas lá em baixo em terra. A partir daí começou o pesadelo. Cada vez que o piloto inclinava o avião para que pudéssemos ver as linhas, eu sentia as poucas bolachas que tinha comido antes a quererem vir dar o arzinho da sua graça cá para fora. Agarrei-me àquele saco de enjoo como se não houvesse amanhã. Mas com alguns exercícios de concentração e respiração lá consegui deixar o saco intacto para o passageiro seguinte. No final o piloto pergunta-me “Então que tal?”. “Pois, não muito bem na realidade…”. “Pronto, mas o que importa é que estás viva!”. Certo. É uma boa maneira de ver as coisas.
Depois do voo sou levada até ao meu hotel, o Nasca Travel One Hostel, que já tinha reservado na noite anterior em Huacachina. Passo o resto do dia a trabalhar no quarto e aproveito para reservar uma tour para o dia seguinte de manhã, já que o meu autocarro só sairia para Arequipa às 19h. Tinha ouvido falar de um cemitério muito antigo nas imediações de Nazca, chamado Cemitério de Chauchilla, onde os mortos não eram propriamente enterrados, mas sim embalsamados e colocados em túmulos. No dia seguinte, às 09h30, estava a seguir rumo ao cemitério.
Ainda bem que fomos cedo, porque a partir das 10h30 já não se consegue estar ao sol no meio do deserto. O cemitério fica a cerca de 37kms de Nazca, seguindo-se pela Panamericana, a estrada que liga a América do Sul. Fui num carro privado, tendo-se juntado a mim mais um casal de ingleses que tivemos de ir buscar ao aeroporto. O cemitério não desiludiu. Foi descoberto há cerca de 20 anos atrás apenas por arqueólogos, mas antes já tinha sido saqueado várias vezes por ladrões de túmulos em busca de metais no corpo dos mortos. O cemitério é anterior à cultura Inca e, apesar de muitos túmulos terem sido vandalizados, os que ainda lá estão, estão em excelente estado de preservação, graças ao fantástico trabalho dos arqueólogos que entretanto já deixaram o local.
Quando as pessoas morriam eram embalsamadas e colocadas num túmulo dividido por paredes e coberto por um telhado. Estes túmulos encontravam-se debaixo de terra, estando o telhado ao nivel do solo. Sempre que algum membro da familia morria, era embalsamado e colocado no mesmo túmulo. Os corpos eram colocados em posição fetal, sentados, de forma a que pudessem reencarnar numa vida seguinte. À sua volta eram colocados objetos pessoais como vasos e utensílios variados. Aconselho a visita, é mesmo uma experiência muito interessante, apesar de não deixar de ser um pouco estranho ir a um cemitério tirar fotografias a mortos.
No regresso para a cidade ainda passámos por uma loja de cerâmica onde a Jenny nos mostou como é feita a cerâmica tradicional da zona. Foi interessante, e as peças são mesmo muito bonitas, adorei as cores mas consegui resistir e sair de lá sem comprar nada.
De volta ao hotel só me restou ficar a fazer tempo até ser hora de apanhar o autocarro noturno da PeruHop em direção a Arequipa, onde me esperaria um trekking de 2 dias pelo Colca Canyon. Mas como habitual… essa é uma história para a próxima crónica!
Até já!
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