Eu tinha ideia que não seria super fácil mas, sinceramente, nunca pensei que fosse assim tão difícil! Só no primeiro dia são 17km por descidas e subidas íngremes. Se os meus joelhos já não estavam lá muito bem, agora foram-se de vez. Foram várias as vezes durante o caminho em que senti uma pontinha de desespero a apoderar-se de mim, ao mesmo tempo que me rogava pragas a mim mesma por me ter armado em esperta e em vez de ter escolhido o tour, que me levaria de bus o caminho todo, ter escolhido o trekking de 2 dias. Tive de ir o caminho todo a aplicar técnicas de auto-motivação. “Isto é horrível, eu quero desistir!”. “Cala-te Maria João, vais ter de terminar o que começaste. Tu consegues!”. “Não consigo nada, vou cair para o lado não tarda nada! Vou ficar aqui a fazer de comida para condores.” Foi um pequeno bonito momento de esquizofrenia aguda.

No topo do Canhão de Colca
créditos: Maria João Proença (Joland Blog)

É claro que a opção do trekking é muito mais interessante porque permite descer ao fundo do Canyon de Colca, algo que o tour, por ser feito por bus, não tem como o conseguir, já que não há estradas até lá abaixo, é tudo caminho de cabras. As paisagens são lindas de morrer e é sem duvida uma experiência inesquecível e única. Para além disso tivemos a sorte de ver imensos condores, algo que nesta altura do ano costuma ser raro! Mas as minhas pernas, joelhos e gémeos já estavam fartos de me mandar à m…., confesso. 

Canhão de Colca
créditos: Maria João Proença (Joland Blog)

A sorte é que também estava no tour uma espanhola, a Maria que viajava com o namorado Miguel, que tinha os mesmos problemas de joelhos que eu e acabámos por, durante parte do caminho, fazer companhia uma à outra. O resto das pessoas no tour eram todos miúdos nos seus 20 e tal anos para quem aquilo era “peanuts”. 

O trekking desse dia terminou num pequeno hotel composto por vários bungalows e uma piscina, chamado Oasis. Infelizmente não deu para aproveitar a piscina porque tinha começado a chover entretanto. Estávamos no fundo do Canyon, por isso não havia electricidade nos bungalows, apenas no restaurante. Para andarmos ali dentro, quer nos quartos, quer nas casas de banho ao ar livre, havia que andar sempre com uma lanterna ou com o telemóvel atrás. Into the wild mesmo. 

No dia seguinte pelas 5h30 da manhã esperava-nos a derradeira subida de 1000 metros para sairmos do fundo do Canyon. A subida que faria com que aquele pesadelo terminasse. Mas para mim era certo que não haveria maneira de eu conseguir subir aquilo. Só o acto de subir um degrau que fosse deixava-me com dores terríveis nas pernas. Para melhorar tudo, a chuva continuava a cair com alguma intensidade desde a noite anterior. A única forma de poder sair dali sem ser pelo meu próprio pé seria de mula. A ideia de fazer com que um animal tivesse de me carregar 1000 metros até ao topo do Canhão, deixava-me cheia de remorsos. Mas não havia outra maneira de eu sair dali. Acabámos por ser 8 a subir de mulas.

É impressionante a força que aqueles bichos têm, mas mesmo assim eu não deixava de me contorcer toda por dentro por estar a fazer aquilo ao animal. O caminho era muito íngreme, cheio de curvas, de pedras enormes e para além disso, apesar de já ter parado de chover, o chão continuava molhado. A mula ia reclamando durante o caminho, parava imensas vezes e cheguei a imaginá-la a mandar tudo à fava e a atirar-me para o fundo da ravina. Bem, no fim, tanto a mula como eu sobrevivemos para contar a história. E na realidade, agora sinto-me bastante orgulhosa por ter levado tudo até ao fim. Foi uma experiência inesquecível! Mas não me apanham em mais nenhuma destas, isso de certeza.

No final do trekking tivemos direito ainda a um pequeno almoço no topo, numa pequena aldeia lá perto. Seguimos de bus o resto do caminho. A primeira paragem foi numa espécie de termas, que mais pareciam umas pequenas banheiras de água aquecida, ao ar livre. A ideia de me meter ali dentro com mais umas 20 pessoas não me agradava muito. Tanto eu como o casal de espanhóis (a Maria e o Miguel), e o Douglas, um brasileiro de São Paulo que tinha conhecido entretanto, ficámos cá fora a falar e a aproveitar a paisagem. 

A equipa de trekking
créditos: Maria João Proença (Joland Blog)

O tour continuou ainda depois do almoço até a uma reserva natural a quase 5000m de altitude onde ao chegarmos nos deparamos com dezenas e dezenas de lamas e alpacas em perfeita liberdade, num cenário magnífico. Este país é de facto extraordinário… Tanta variedade e riqueza a tantos níveis. 

Lamas e alpacas a quase 5000mt de altitude
créditos: Maria João Proença (Joland Blog)

Chegámos ao final da tarde a Arequipa, de onde tínhamos saído no dia anterior às 3h30 da manhã. Despedidas feitas, trocas de contactos pelo Facebook e promessas de nos contactarmos se algum dia visitarmos os respectivos países, e sigo em direção ao Los Andes Bed & Breakfast para tomar um banho e recolher a minha bagagem que lá tinha ficado. Às 22h45 estava a entrar num autocarro no terminal de Arequipa, rumo a Puno onde me esperava um tour de 2 dias pelo Lago Titikaka, o lago navegável mais alto do mundo, a uma altitude de 4000m. Mas conto-vos tudo na próxima crónica!

Até já! 

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