A gastronomia ocupa um espaço importante quando viajamos. Há experiências únicas que só podem ser vividas à mesa, sendo também um ponto fundamental para aprendermos mais sobre os destinos que visitamos. Durante o ano de 2024, tivemos vários momentos gastronómicos que nos arrebataram. Hoje, revelamos o nosso top 10.
Um mergulho no menu de degustação Imersão
Alice Barcellos
Um dos restaurantes que mais gostámos de conhecer este ano chama-se Oculto e fica "escondido" no hotel The Lince Santa Clara, o projeto de hotelaria de luxo que deu uma nova vida ao edifício mais icónico de Vila do Conde. Oculto porque o piso que o restaurante ocupa foi descoberto quase que por acaso durante as obras de reabilitação do antigo mosteiro. O ambiente é intimista, requintado e acolhedor. Mas o que mais conquista são os pratos elaborados pelos chefs Hugo Rocha e Vítor Matos num restaurante onde não entra qualquer tipo de carne, apenas peixe e marisco e propostas vegetarianas. Em outubro, tivemos a oportunidade de experimentar o menu de degustação Imersão, um mergulho profundo nos sabores do mar, com vários momentos de surpresa, mas também de conforto, de onde não queremos emergir, tal a envolvência provocada pela combinação dos pratos, bem como pela harmonização dos vinhos. Curiosos para saber (e experimentar) as novidades "ocultas" guardadas para 2025.
Pão de ló de Ovar da Gabi
Alice Barcellos
Numa visita à cidade de Ovar, ficamos a conhecer o trabalho de Gabriela Ribeiro, que já ganhou vários prémios na área da pastelaria. No seu espaço, na cidade "museu vivo do azulejo", o tradicional pão de ló convive com receitas de autor arrojadas numa verdadeira viagem pela doçaria tradicional e conventual portuguesa. A chefe herdou um tesouro de família que hoje todos podem conhecer: a receita do primeiro pão de ló de Ovar a ser comercializado. Entre todas as delícias da gula que experimentámos durante a visita, temos de confessar que o pão de ló de Ovar da Gabi foi o melhor que comemos até ao momento. Vale a pena ir até lá para prová-lo.
A banana split do Farol Hotel
Alice Barcellos
Em pleno verão, ficámos hospedados num hotel que é já um clássico de Cascais, o Farol Hotel. Num dia de calor e sol, o que é que sabe mesmo bem? Um gelado, respondem vocês. E se fosse uma banana split reiventada? Foi a sobremesa que provámos no bar da piscina do hotel, com vista direta para o mar azul de Cascais e foi uma deliciosa surpresa, a começar pela apresentação e a terminar pelos sabores que se conjugam na perfeição em cada colherada. E agora ficamos com saudades do verão...
Beber vinho na malga na Quinta da Pacheca
Alice Barcellos
Continuando na melhor época do ano, pelo menos para esta que vos escreve, fomos até uma das quintas mais famosas do Douro para ter uma experiência gastronómica que remonta a outros tempos: beber vinho em malga. Contudo, a Quinta da Pacheca deu uma nova dimensão a este objeto usado para beber vinho desde a época dos romanos. Pediu à Siza Vieira que desenhasse a malga ideal, encheu-a com o seu Pacheca Sousão Reserva 2020 e o resultado foi uma experiência memorável numa longa mesa ao ar livre, emoldurada pelo verde das vinhas, enquanto saboreávamos um almoço com a melhor gastronomia regional do Douro. Foi, para nós, uma estreia a beber vinho desta forma e, de facto, a experiência de beber vinho numa malga é completamente diferente da de fazê-lo através de um copo.
A história que começa com um cheesecake
Ana Caetano
Há quem diga que há sempre espaço para a sobremesa porque ela vai direta ao coração. Se isso é verdade, então o Cheesecake de Frutos Silvestres do restaurante L'Arancia, em Cunda, na Turquia, encontrou o caminho mais rápido para o meu. Com um equilíbrio perfeito entre o doce e o ácido, enriquecido pelo sabor inigualável da laranja do Algarve, esta sobremesa é uma verdadeira obra de arte, cujo empratamento alimenta os olhos mesmo antes de darmos a primeira garfada. Para além de rico em sabor, o cheesecake é também rico em história: foi ele que inspirou a criação do L'Arancia, tornando-se o o coração de toda a sua identidade.
A moqueca de peixe do Rancho Açoriano
Ana Caetano
Sabe aquela sensação de comer algo tão bom que nos dá vontade de dançar de alegria? Foi exatamente o que senti quando provei a moqueca de peixe do Rancho Açoriano, localizado em Florianópolis. Este prato, um clássico da gastronomia brasileira, é um verdadeiro festim de sabores constituído por um ensopado de peixe fresco cozido lentamente num caldo cremoso de leite de coco, pimentos, tomates maduros, cebola e uma seleção de especiarias que aquecem o paladar. Servida com arroz branco e pirão – um acompanhamento feito com o caldo do ensopado e farinha de mandioca – a moqueca é um prato reconfortante que combina com frio e chuva. Uma coisa é certa: quando a comida chega à mesa numa panela de ferro ainda a borbulhar, sabemos que estamos prestes a alimentar a barriga e a alma.
Da terra para o prato, sem esquecer o tempero
Ana Oliveira
Sem dúvida uma das melhores experiências gastronómicas de sempre. Isto porque a técnica de preparação da pachamancha é milenar e faz-nos viajar atrás no tempo. Esta especialidade mistura carne e legumes que são cozinhados em pedras quentes. Como? O método é parte do encanto pois o forno consiste num buraco no meio da terra. A carne e os legumes vão sendo colocados entre as pedras e, no final, tudo é coberto com terra. Acompanhar o processo faz-nos abrir ainda mais o apetite que já existia assim que vimos as carnes a marinar numa mistura que provalmente envolvia malaguetas, alhos, cominhos, orégãos, sal e pimenta. No final, saborear aquela carne elaborada de uma forma tão sui generis é super delicioso. Para quem aprecia comida condimentada e misturar sabores vai adorar cada garfada. Ainda por mais, a panchamanca vem acompanhada por dois molhos: o de huacatay, também conhecido como menta peruana (tagetes minuta), e o japchi, que inclui pimenta e queijo.
As orelhas de Santa Maria
Ana Oliveira
Ao visitarmos a ilha mais antiga dos Açores, Santa Maria, apaixonamo-nos pelos biscoitos de orelhas que nos recordam que, por vezes, o menos é mais. Para além de serem um doce exclusivo e tradicional deste território, são confecionados de forma artesanal e requerem mestria uma vez que é preciso enrolar a masa sobre os dedos de forma a que o produto final fique com o formato de um triângulo e semelhante a uma orelha. Tivemos a oportunidade de ver a sua preparação na fabricante A Cagarrita e também na Cooperativa de Artesanato da ilha. Em ambos os lugares deliciamo-nos com estes doces crocantes e sabor caseiro que, de algum modo, acabam por transmitir um certo aconchego. Ainda assim tivemos um problema: não conseguimos parar de comer.
A humita moderna
Ana Oliveira
Por vezes, nem precisamos de sair do país para descobrir sabores de diferentes lugares do mundo e viajar através destes. Uma feliz descoberta foi a Humita Aires, um prato exclusivo do restaurante argentino Aires Estoril criado pela chef Marianela Ramadan. A Humita de Marianela é feita com milho amarelo cremoso, milho branco tenro, base de queijo quarttirolo e finalizada com uma camada de açúcar negro polvilhado com cominhos. Para além de ser uma criação de autor, leva-nos também a viajar pela América do Sul, visto que reinterpreta um prato tradicional de origem pré-hispânica. Foi, sem dúvida, uma surpresa deliciosa!
As cracas da Esplanada Rotterdam
Ana Oliveira
Se há memória que não esquecemos da Ilha do Sal, Cabo Verde, é a do sabor das deliciosas cracas que experimentámos na Esplanada Rotterdam, situada na Vila dos Pescadores, em Palmeira. Recordamos o sabor refrescante e a mar que nos transporta de imediato a este destino tão amigo de Portugal. É como se em cada crustáceo existisse parte do oceano. Um sabor carregado de sensações que, decerto, não vamos esquecer.
Desejamos que 2025 seja um ano recheado de experiências à volta da mesa. Boas entradas!
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