Começamos o nosso dia em Esmoriz, a freguesia mais a norte do concelho de Ovar (distrito de Aveiro) que guarda um património natural divido entre praias, a lagoa da Barrinha e o Parque Ambiental do Buçaquinho. Sítios que iríamos percorrer durante um passeio de bicicleta.
São 60 quilómetros de ciclovias que fazem de Ovar “um dos concelhos mais cicláveis do país”, explica ao SAPO Viagens Leonel Gomes, responsável pela empresa de aluguer e passeios de bicicleta, BeCycle. O projeto surgiu em 2019, tendo como foco principal o passeio de bicicleta e, desde então, tem contribuído para a divulgação de Ovar, mas também de outros concelhos, através das duas rodas.
A brisa fresca embala-nos por caminhos pintados de muito verde. Os pinhais são uma das manchas florestais presentes no concelho, e podemos apreciar belos exemplares no Parque Ambiental do Buçaquinho.
Uma antiga ETAR foi convertida num dos espaços verdes mais agradáveis da região, ideal para um piquenique, uma caminhada ou uma volta de bicicleta. São 24 hectares de floresta protegida, seis lagoas, uma cafetaria, jardim de plantas aromáticas, torre e postos de observação da avifauna e Centro de Educação Ambiental.
Seguimos por Esmoriz e trocamos a terra batida dos trilhos do Buçaquinho pela madeira dos Passadiços da Barrinha. A lagoa costeira de média dimensão, única no seu género ao longo da costa norte de Portugal, foi requalificada e ganhou mais visibilidade com a inauguração, em 2017, de uma rede de seis quilómetros de passadiços que permitem conhecer este lugar de uma beleza serena.
Não precisamos pedalar muito para sermos brindados com um bando de cegonhas a sobrevoar o céu e, mais à frente, andorinhas cortam o vento entre os arbustos que envolvem aquela parte do percurso. A Lagoa da Barrinha de Esmoriz integra a Rede Natura 2000, sendo classificada como IBA – Important Bird Area. É, por isso, um lugar que atrai também os amantes da observação de pássaros (birdwatching).
A partir da ponte suspensa, temos uma vista de 360 graus da lagoa e do mar, um local de paragem “obrigatória” para fotografar e contemplar a paisagem. “Sem terem muito impacto, os passadiços foram uma grande promoção à Barrinha que está cada vez mais limpa”, mas ainda imprópria para banhos, salienta Leonel Gomes.
Seguimos até à praia de Esmoriz, já composta de veraneantes numa manhã tímida de junho e com muitos surfistas na água. As praias de Ovar são também muito procuradas para a prática de desportos náuticos, principalmente o surf, sendo Cortegaça, a nossa próxima paragem, um dos epicentros desta atividade.
Os últimos quilómetros do passeio foram percorridos na Ecopista do Atlântico, quando a ciclovia fica completamente envolvida pela mata de pinheiros que se estende entre Cortegaça e Furadouro, na Estrada Florestal. É mesmo uma daquelas joias escondidas de Portugal que merece ser percorrida, pelo menos, uma vez na vida. Outro sítio que ainda guarda algum secretismo é a praia de Maceda, com o seu longo areal entre o pinhal e o mar, afirmando-se como uma das praias mais belas do litoral norte do país.
Museu vivo do azulejo
Despedimo-nos ali de Leonel com o desejo de voltar a percorrer mais ciclovias em breve e seguimos, após um almoço de deliciosas lulas grelhadas no Restaurante Giestas (praia do Furadouro), até ao centro de Ovar para começar outra viagem, desta vez de olhos postos nas paredes dos edifícios que se vestem de azulejos, guardando um património único em Portugal.
Mas antes de chegarmos à cidade, uma paragem importante: a Igreja Matriz de Válega. Provavelmente, o nome não diz muito a quem nunca a visitou, mas as imagens, com certeza, já devem ter passado pelos vossos feeds de redes sociais. “Muitas pessoas vêm ao posto de turismo e pedem para conhecer a ‘igreja colorida’”, refere Jacinta Cunha, uma das coordenadoras do Turismo de Ovar, que nos acompanhou nesta viagem ao mundo dos azulejos.
Nos últimos tempos, a Igreja de Válega virou uma estrela em muitas fotografias e vídeos do Instagram e, ao observamos a sua fachada colorida, percebemos bem o porquê. Mas qual é a história por trás?
O edifício atual começou a ser construído em 1746, levou um século a ser finalizado. Mas foi na década de 1960 que um filho da terra, o comendador António Augusto da Silva, resolveu oferecer uma nova fachada à igreja, cobrindo-a com azulejos pintados à mão da já encerrada Fábrica Aleluia, então, sediada em Aveiro.
Coloridos e com um alto nível de detalhe, os painéis de azulejos policromáticos retratam, sobretudo, momentos da Eucaristia e concentram-se na frontaria da igreja. O restante edifício também está revestido de azulejos, mas azuis e brancos. Para ficar ainda mais surpreendido, recomenda-se visitar o interior, pois também ali todas as paredes encontram-se preenchidas de azulejos. Algo que surpreende ainda mais os visitantes.
A Igreja de Válega é apenas um dos 800 imóveis com fachada azulejar do concelho, facto que chamou a atenção de Rafael Salinas Calado, investigador e primeiro diretor do Museu Nacional do Azulejo. Foi este especialista que apelidou Ovar de “museu vivo do azulejo” devido ao elevado número desta ornamentação proveniente, na sua maioria, das fábricas de cerâmica do Porto e Vila Nova de Gaia entre 1880 e 1910. Outras igrejas, como a de Cortegaça ou de Esmoriz, também se destacam por serem revestidas de azulejos.
À caça de azulejos
O mais recente produto turístico do concelho, o roteiro “Vai Passear”, convida-nos a partir à descoberta deste património numa visita por ruas e ruelas do centro da cidade. E damos logo um spoiler: se, tal como nós, é um apreciador de azulejos, esta é uma experiência imperdível que vai render muitas fotografias.
Lançado há cerca de dois meses, durante as iniciativas do evento Maio do Azulejo, o roteiro vem acompanhado com um livro que, além de apresentar os diversos pontos de interesse, conta a história do azulejo em Ovar e tem páginas dedicadas para colorir os padrões encontrados nos edifícios, ideal para ser feito por crianças ou em família.
Os guias podem ser adquiridos juntamente com um pequeno azulejo (por 2,50€) nos postos de turismo ou no Centro da Escola de Artes e Ofícios em Ovar, onde também é possível pintar o seu próprio azulejo e perceber na prática como funciona o processo de fabrico destas peças de cerâmica. A Escola de Artes e Ofícios é ainda sede do ACRA – Atelier de Conservação e Restauro do Azulejo de Ovar, que tem trabalhado para que este património seja mantido nas construções da cidade.
Todavia, a parte mais interessante da iniciativa é mesmo partir para as ruas de Ovar e ir descobrindo, com calma, o variado património azulejar. A visita guiada pode ser feita com marcação prévia através do serviço de Turismo.
Depois de ter permanecido sobretudo no interior de espaços nobres e religiosos, o azulejo tomou as ruas no século XIX, tornando-se no material de eleição para o revestimento das fachadas dos edifícios urbanos. No caso de Ovar, os historiadores indicam que foram os emigrantes portugueses do Brasil que, ao retornarem, começaram a revestir as fachadas das construções com azulejo como forma de demonstrar poder social e económico, imitando os gostos das elites.
Das diferentes técnicas aos diversos padrões adotados, percorrer este roteiro é ter também uma aula sobre o azulejo (descubra mais na galeria de fotos acima). Sem esquecer o património complementar de esculturas, pinhas, vasos ou pináculos em cerâmica também presentes nos edifícios de Ovar. Pelo meio, ficamos a saber mais sobre a história e o património da cidade também conhecida pelo Carnaval e pelo pão de ló.
E já que falamos dele, a melhor forma de terminar este roteiro é uma fatia (ou duas) deste doce que se caracteriza por ter uma fina cobertura acastanhada e o interior de textura húmida e cor amarela. Um pecado da gula ao qual não vale a pena resistir e que se encontra disponível em vários estabelecimentos de Ovar.
O SAPO Viagens visitou Ovar a convite do Turismo do concelho
Comentários