Hotéis somente para adultos, vídeos virais de pessoas que se revoltam em aviões porque não aguentam ouvir uma criança a chorar, companhias aéreas que criam restrições aos mais pequenos, mães ou pais que são convidados a sair de certos lugares por estarem com os filhos.

Situações que se tornaram frequentes nos dias que correm e que nos fazem questionar: está na moda não gostar de crianças? E será isso possível?

Na sequência de uma reportagem publicada no SAPO Viagens sobre viajar com os mais pequenos, no âmbito do Dia da Criança, uma das entrevistadas afirmou que ainda existe um certo estigma de quem viaja com crianças, “um estigma que se alimenta do medo, da incompreensão e da intolerância”.

A frase ficou-me na cabeça e trouxe todos estes tópicos que enumerei no início do texto. De facto, há uma tendência para excluir crianças de algumas situações, sendo que se em alguns casos pode até fazer sentido, como nos hotéis, noutros é inadmissível, como a falta de tolerância ou incompreensão que certos adultos têm quando se veem ao lado de uma criança a chorar.

Não é preciso ser um especialista em desenvolvimento infantil para saber que o choro é uma das formas de comunicação dos mais pequenos que, não conseguindo ainda controlar as suas emoções, choram com mais frequência em diversas situações.

No caso de hotéis e resorts “adult only” até consigo perceber o conceito feito para aqueles adultos que não querem levar com estes seres barulhentos, brincalhões, curiosos e incrivelmente fofos. Mas não o aplaudo. Excluir um certo grupo de pessoas só porque outras não querem conviver com elas é um mau princípio e não seria sequer aceitável se ao invés de crianças fossem outras raças ou etnias.

Afirmar que não se gosta de crianças é quase como afirmar que não se gosta de pessoas. Afinal, somos todos seres humanos e todos já fomos crianças. Não ter paciência ou não ter jeito para lidar com os mais pequenos não é o mesmo do que não gostar, da mesma forma que faltar ao respeito a uma criança será igual (ou ainda pior) do que faltar ao respeito a um adulto.

As crianças merecem respeito e compreensão por parte dos adultos que não podem ver o mundo apenas na ótica deles. Merecem estar nos espaços públicos, nos aviões e nos hotéis com toda a espontaneidade caótica que lhes é inerente. Que nunca nos esqueçamos que as crianças de hoje serão os adultos de amanhã e que, pelo bem e pelo mal, o exemplo é a forma mais natural de educar.

Por isso, da próxima vez que começar a revirar os olhos quando estiver perto de uma criança a chorar, pense que também você já passou por isso e houve alguém que, com certeza, estava lá para o acolher e lhe dar a mão.