Viajar com bebés e crianças pequenas pode ser complicado, pode causar algum medo ou receio aos pais, principalmente se não tiverem muita experiência, pode ser mais cansativo e pode, até, ser alvo de comentários menos bons. Mas, como em tudo, existe o outro lado da moeda. Viajar com os mais pequenos pode trazer muitos benefícios a todos da família: aprendizagens, momentos de felicidade, tempo de qualidade e memórias que ficarão para a vida.

O SAPO Viagens ouviu três famílias viajantes que fazem parecer o processo simples, mas desengane-se quem pensar que não existem imprevistos e frustrações. Existem, sim, e também fazem parte da viagem.

Ainda existe um certo estigma de viajar com bebés?

Por todas as alterações e preocupações que a chegada de um bebé causa na vida de uma família, há sempre quem se oponha à ideia de sair da zona de conforto e de segurança, sendo que viajar também representa isso.

Carlota von Hafe Pérez, Sebastião Healy e os dois filhos Tata e Lua são a família Nós no Mundo que tenta “inspirar as pessoas a levar a vida de forma mais simples, feliz e, principalmente, não deixar de o fazer depois de ter filhos”. Consideram que ainda existe um certo estigma, mas que “já estamos num caminho de alguma mudança positiva”. As pessoas já se começam a “questionar se realmente vale a pena ter medo de viajar com bebés”, procurando informarem-se mais e inspirando-se em famílias viajantes.

Nós no Mundo nas Filipinas
Nós no Mundo nas Filipinas créditos: Nós no Mundo

Outro (bom) exemplo é o de Ana Cláudia, Pedro, Zoé, Guy e Mya. Uma família que “explora do mundo cinco meses por ano, em grandes ou pequenas aventuras, perto ou longe de casa”. A primeira viagem em família aconteceu quando “Zoé era um bebé pequenino com um mês de idade, partimos em roadtrip de duas semanas de Paris para Lisboa. A partir daí nunca mais paramos”.

Cedo também perceberam que viajar com bebés carregava alguns estigmas. “Entre as avós que nem percebem de onde vem a ideia, aos pais que têm medo que aconteça alguma coisa ou medo das críticas de amigos e familiares, aos adultos sem filhos que acham que bebés só incomodam, existe todo um estigma que se alimenta do medo, da incompreensão e da intolerância”, enumera Ana Cláudia ao SAPO Viagens.

Existe todo um estigma que se alimenta do medo, da incompreensão e da intolerância

Quando dissemos que íamos viajar com a Zoé um mês depois de ela nascer, a nossa família tentou nos convencer a desistir. Fomos literalmente chamados de loucos”, recorda Ana, afirmado que “não foi uma decisão baseada na inconsciência, muito pelo contrário, informamo-nos e estabelecemos prioridades e, para ser muito honesta, nunca nos sentimos inseguros, porque viajar com os nossos bebés sempre foi uma evidência”.

Depois, “há o reverso da medalhada”. “A simpatia desmesurada de quem nos recebe, as mulheres de outra geração que nos dizem que temos razão e que elas deviam era ter feito o mesmo, as professoras que nos dão os parabéns pelas pessoas extraordinárias que são os nossos filhos”.

É essa positividade que tem acompanhado as viagens em família de João Agre, Ana Costa, Estela e Amélia, autores do projeto Volto Já. “As pessoas tendem a ser bastantes simpáticas e prestáveis quando nos veem acompanhados de crianças”.

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Há sempre quem diga: as crianças não se vão lembrar de nada

Mais uma ideia pré-concebida e uma frase corriqueira, sendo também uma forma simplista de ver a situação. De facto, não vamos conseguir fixar tudo o que fizemos durante a infância, mas tudo terá um contributo para a nossa formação e crescimento.

As lembranças que ficam, que nos acompanham a vida toda e que fazem de nós quem somos são as memorias mais profundas: os sentimentos, as emoções, o estado de espírito (nosso e de quem nos rodeia), a sensação de segurança (ou não), o orgulho de ultrapassarmos um desafio. As crianças sentem tudo de forma muito mais intensa e por isso criam memorias muito mais profundas do que os adultos”, refere Ana Cláudia.

Já Carlota acredita que “o importante de viajar com bebés como os meus não é eles terem essas imagens nítidas nas suas cabeças, mas sim a sua formação, abrir horizontes, vivências, experiências diferentes, culturas muito diferentes, idiomas diferentes, conhecer pessoas novas… tudo isso é que é realmente importante na formação dos nossos filhos. E isso fica com eles para sempre”.

Além das muitas aprendizagens que a criança retira de cada viagem, há algo que ficará para sempre, para João e Ana, que são “memórias inesquecíveis em família, alguma das melhores que temos”.

Volto Já em Matera, Itália
Volto Já em Matera, Itália créditos: Volto Já

Capacidade de adaptação, tolerância e tempo em família

Para estes pais, viajar com os filhos traz muitos benefícios, a começar pela capacidade de adaptação que os mais pequenos (e também os maiores, diga-se) pode desenvolver em viagem. “Muitas vezes surgem imprevistos e temos de aprender a lidar com alterações ao que estava planeado”, lembram Ana e João.

Aprenderam de pequeninos a adaptarem-se a diversas situações com calma e facilidade. Sempre dormiram em todo o lado, por exemplo. E comem qualquer comida e pedem para provar de tudo. Porque o espaço nas malas é limitado, habituaram-se a brincar com o que encontram sem precisarem de brinquedos para dar asas à imaginação. E talvez por isso, facilmente encontram soluções aos problemas com que são confrontados”, enumera Ana Cláudia.

Carlota salienta também a importância do tempo passado em família. “Quando passamos 24 horas com os nossos filhos, em lugares diferentes no mundo, em que a nossa casa somos nós, a nossa família, o vínculo fica assim um abraço interminável”.

Nós no Mundo
Nós no Mundo em Amalfi, Itália créditos: Nós no Mundo

Ana e João corroboram: “contribui muito também para o fortalecer de relações entre todos, pois são momentos em que estamos completamente dedicados apenas a nós enquanto família”.

Por último, e não menos importante, é o desenvolvimento de pessoas mais tolerantes e com uma maior visão de mundo. “Não fazem qualquer diferença de cor de pele ou de cultura e tradições. Acredito que por terem sido bem recebidos por tantos povos diferentes percebam que a bondade humana é universal e não depende de religiões e fronteiras”, relata Ana Cláudia.

Le Voyage de Zóe em Bali
Le Voyage de Zóe em Bali, Indonésia créditos: Le Voyage de Zóe

Qual é a idade mais fácil para viajar?

Quem decide partir à aventura com bebés e crianças deve estar preparado para imprevistos e mudanças de planos, sendo que quanto mais crescem, mais desafiante se torna cada viagem. É consensual entre os viajantes ouvidos pelo SAPO Viagens que, ao contrário do que se possa imaginar, viajar com bebés de colo é a fase mais fácil.

Enquanto bebés são mais fáceis de transportar e não se opõem a nada dos que os pais decidam fazer”, indicam Ana Costa e João Agre. “Os bebés estão felizes em qualquer sítio desde que estejam com os pais. A logística (fraldas, alimentação, etc.) que assusta tanta gente é super simples de resolver em qualquer parte do mundo. Afinal de contas, em todos os países existem bebés”, lembra Ana Cláudia.

Quando começam a crescer, começam desafios maiores. “A altura em que já andam e correm, mas sem noção nenhuma de perigos. Acho que foi a fase que me fez mais confusão e cansaço físico. Nao se para um segundo”, confessa Carlota.

“Por outro lado, viajar com crianças mais crescidas é de longe mais desafiante. Coordenar expectativas e vontades de toda a gente é cansativo e por vezes muito frustrante. Desengane-se quem está à espera que os filhos cresçam para viajar com eles por ser mais fácil. É muito mais difícil motivar e mesmo ‘controlar’ em viagem crianças que não estão habituadas a viajar desde cedo”, sublinha Ana Cláudia.

Le Voyage de Zoé
Le Voyage de Zoé em Andorra créditos: Le Voyage de Zoé

Para todas as fases, estar preparado é fundamental. Um bom seguro de viagem pode ajudar e tranquilizar os pais porque os imprevistos acontecem. Carlota conta sobre o grande susto que apanharam na viagem às Filipinas: “no meio de uma tempestade, a nossa casa começou a ficar alagada e a Lua escorregou e caiu desamparada para trás com a cabeça. Os sintomas de sonolência e vómitos começaram logo a aparecer e nós sabíamos que tínhamos de a levar a um hospital”. Contudo, na ilha em que se encontravam não existiam meios para raio-x e TAC pelo que tiveram de encarar uma viagem de barco de cinco horas, num mar tempestuoso, até outra ilha. “À chegada, tínhamos uma ambulância à nossa espera. Imaginem o sufoco nesta viagem demoradíssima sem sabermos se a Lua teria alguma lesão no cérebro. Trataram-na muito bem e, felizmente, não passou de hematoma externo de 9 cm”.

Também João e Ana tiveram um susto com a filha mais nova que em breve deixará de o ser, já que o casal espera pela chegada do terceiro filho, numa viagem à Suíça. “No terceiro dia de viagem, vomitou e ficou muito pouco reativa, levando-nos a decidir procurar ajuda médica de urgência. Felizmente não chegou a ser necessário, pois percebemos que seria um vírus e, após conseguirmos que comesse e bebesse algo, começou a reagir. Convém estar sempre prevenido com o cartão de saúde europeu (no caso de viajarem pela Europa e pode ser pedido gratuitamente na Segurança Social) ou com um seguro de saúde (caso viajem para fora do espaço europeu), pois confere uma maior segurança e tranquilidade caso seja necessário algum tratamento médico”.

Se os pais têm uma enorme paixão em viajar, não se devem anular

Mesmo com estes sustos que tanto pode acontecer quando estamos “em casa”, como numa viagem, viajar sem os filhos é algo que estas famílias deixam sempre como segunda opção.

“Continuamos a gostar de viajar, ocasionalmente, a dois, para namorarmos um pouco e fazermos programas que não podemos fazer com crianças, mas sim, sem dúvida que viajar com as nossas filhas é para nós um grande prazer. Se os pais têm uma enorme paixão em viajar, não se devem anular. Ter filhos é um complemento e acabam por descobrir, até, novas atrações por causa das crianças”, afirmam João e Ana.

Volto Já na Escócia
Volto Já na Ilha de Skye, Escócia créditos: Volto Já

“As poucas viagens que fazemos sem eles, por razões profissionais, sabem sempre a pouco e parecem sempre vazias. Somos viajantes porque queremos aprender mais sobre o mundo em que vivemos e perceber melhor as pessoas que nele vivem. E essa aprendizagem nunca fez tanto sentido como a partir do momento em que a partilhamos com os nossos filhos”, realça Ana Cláudia.

Viajar com crianças? Sim, sempre! O mais que conseguirem”, conclui Carlota.

As melhores dicas para viajar com crianças

Se chegou até aqui, provavelmente tem o interesse em começar a viajar ou a fazê-lo mais regularmente com crianças, por isso, conheça a seguir as dicas de ouro deixadas pelos viajantes ouvidos pelo SAPO Viagens.

Nós no Mundo nas Filipinas
Nós no Mundo nas Filipinas créditos: Nós no Mundo

“Em primeiro, escolher fazer as viagens de avião, carro ou barco nas horas das sestas e à noite. Depois, escolherem destinos onde consigam diversificar os dias. Nenhuma criança vai gostar de fazer a mesma coisa todos os dias. Prepararem atividades e jogos para fazerem durante os dias.

Não stressar com as comidas. Para mim férias são férias e se houver algumas refeições diferentes do habitual está tudo bem, apenas que isso não se torne uma regra. Não criar expectativas e muitos planos sobre a viagem porque com crianças vamos estar sempre a alterar e a adaptar e assim ninguém fica frustrado. Ter calma e deixar as coisas rolarem ao ritmo da família toda”, Nós no Mundo.

“Vão! Simplesmente, vão! Perto, longe, um fim de semana, três meses. Não importa. O importante é ir, é encontrar o ritmo que vos corresponde enquanto família. A internet transborda de dicas, de listas de essenciais, de soluções milagrosas para os miúdos dormirem nos aviões… Na nossa opinião isso só cria ansiedade. Esqueçam isso tudo!

Para viajar em família só é preciso vontade (e um bom seguro de viagem pode ajudar a descontrair). Ninguém conhece os nossos filhos como nós próprios. As dinâmicas familiares são todas diferentes e nem o tipo de viagem que nos corresponde é o mesmo de pessoa para pessoa. Se gostam de viajar, é ir. O mais cedo possível. Viajar é isso mesmo, ir à descoberta, dos sítios, das pessoas e de nós próprios”, Le Voyage de Zoé.

Descomplicar, prevenir e relaxar. Com crianças dificilmente tudo correrá como planeado, por isso, devemos prevenir-nos para possíveis percalços e reagir com descontração às situações imprevistas”, Volto Já.

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