O Museu do Pescador fica na antiga escola Conde de Ferreira, tem cerca de uma centena  de instrumentos das artes da pesca e réplicas de embarcações tradicionais.

Museu do Pescador
créditos: andarilho.pt

Maria Amélia e Jorge Couves, antigos pescadores, fizeram-me  uma visita guiada onde descreveram “os barcos típicos do rio, o tipo de pesca que praticávamos, que era o cerco, arrasto... a pesca tradicional daqui da terra.”

Museu do Pescador
Maria Amélia e Jorge Couves, créditos: andarilho.pt

Estas práticas de pesca foram substituídas por outras,  “agora é mais redes de emalhar e tresmalho. São dois tipos de rede que pescam para o choco, robalo, corvina.

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No entanto, são muito poucos os pescadores. Nada comparável com o ambiente de alguns anos atrás no lugar onde está o museu. “No Bairro dos Pescadores cerca de 90 por cento dos residentes eram pescadores. Eram várias centenas”.

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No cais também se refletia no número de barcos. “Era a terra ribeirinha nesta zona do Tejo, de Vila Franca para cá, que tinha mais pescadores. Barcos e pescadores”.

Não foram apenas os pescadores que desapareceram. O mesmo sucedeu com várias espécies que eram pescadas. “Muitas desapareceram, como a raia e o xarroco.”

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O assoreamento do Tejo e a poluição industrial contribuíram fortemente para a quase extinção da pesca no Montijo. O número de pescadores é inferior a uma dezena. Vemos alguns barcos nos cais mas são muitos mais os de recreio. A paisagem no cais mudou muito.

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Algumas das embarcações tradicionais quase que só as vemos no museu. “São réplicas e os varinos que transportavam mercadoria para Lisboa, as fragatas... Tudo isso eram barcos aqui do Tejo. Havia muitos, depois acabou tudo. Este era um deles. Onde a gente fazia o comer. Este é real, mas é um modelo mais pequeno. Os barcos tinham 8 a 9 metros de comprimento. Chamavam um Catraio, mas está equipado com a vela da Canoa” .

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Maria Amélia – a única mulher pescadora no Montijo

Um destes barcos tem um fogareiro no meio e é Maria Amélia, a mulher de Jorge Couves, que ajuda a descrever a faina de quase duas semanas no rio.

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O fogareiro era para fazer as caldeiradas. “Na pesca do cerco, no tempo em que se andava à vela, para apanhar enguias andávamos 12 dias sem vir a casa. Comíamos, bebíamos e dormíamos dentro dos barcos... Com enxergas, uma manta... dobrava-se e era ali debaixo que se descansava”.

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Estes barcos tinham cerca de 8 metros e a tripulação rondava uma dezena de pessoas. “Colocava-se a comida no meio do barco, sentava-se tudo à volta e todos comiam ali.”

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Maria Amélia tem muitas histórias para contar e a visita ao museu é muito mais interessante na companhia do casal. Mais ainda porque no Montijo Maria Amélia foi a única mulher pescadora.
Explica o marido que no Montijo “não havia a varina nem mulheres pescadoras.” Maria Amélia foi a única mulher pescadora e “fazia praticamente o que um homem fazia.”

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A escolha de Maria Amélia deve-se essencialmente ao gosto de andar ao ar livre. “Não gostava de estar presa em fábricas ou  lojas”.

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Andou na pesca cerca de 40 anos. “Criei as minhas duas filhas mais velhas na pesca. Cheguei a levá-las. Dava-lhes de mamar e depois deixava-as a dormir e andava a fazer o trabalho, mais o meu marido.” A família não tinha horário, “as marés é que mandavam. Era à uma, duas, quatro da manhã... a qualquer hora. Conforme a maré, era a hora a que pescávamos.”

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Alguns pescadores da sua geração, por vezes, vão matar saudades ao museu. “Aqui está representado o que existia no rio, o tipo de pesca. O arresto, o cerco, as chateixas, que nós chamávamos os ferros, as boias... Tudo o que nós utilizávamos está aqui representado.”

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O museu relata ainda outras facetas do universo piscatório, como por exemplo a religião.

O Museu é uma iniciativa da SCUPA, a Sociedade Cooperativa União Piscatória Aldegalense.

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Visita guiada ao Museu do Pescador Montijo com a única mulher pescadora faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.