O Museu da Boneca de Alcanena é um universo surpreendente de sensibilidade, encanto e um cruzamento de memórias e afetos. Parte da coleção está em exposição e revela também os conceitos de beleza que atravessaram várias gerações.
O Museu da Boneca de Alcanena abre-nos as portas para a memória de um universo delicado, cheio de pormenores. Também de emoções como é o caso de Meu Bem, a primeira boneca de Rosa Vieira.
O ponto de partida de uma coleção que junta cerca de 13 mil bonecas.
Meu Bem encantou Rosa Vieira. “Nunca pensei fazer coleção. Aquela tem sempre um dom especial. As outras, algumas fui comprando, outras foram dando, outras vieram do lixo. Têm histórias muito bonitas".
"A boneca que compramos não está tão carregada de emoções. As que foram entregues por pessoas essas vêm carregadas de afetos e emoções.”
Rosa Vieira recebeu o Meu Bem no Brasil. Quando a família regressou ao concelho de Alcanena, quinze anos depois, na bagagem trouxe algumas bonecas.
O acervo foi crescendo e quem espreita a reserva, uma sala repleta de prateleiras com bonecas, fica admirado com a quantidade.
“O Museu tem duas salas de exposição e a reação é engraçada. Algumas dizem que o espaço é pequeno e que gostavam de ver mais. Mas, quando entram no mundo secreto, como eu chamo, que é a nossa reserva, as pessoas ficam deslumbradas e vão com uma sensação totalmente diferente. No entanto, a reserva não é visitável. Eu abro apenas para as pessoas ficarem com uma pequena impressão do acervo”.
O Museu da Boneca está instalado num antigo refeitório escolar, uma construção típica do Plano dos Centenários do Estado Novo. Uma das salas de exposição é dedicada a bonecas de porcelana.
É um encanto de princesas com roupas ricas em pormenor e que exprimem um gosto europeu. “A maioria das bonecas são da Alemanha, França, Espanha. Tivemos uma fábrica que vendia muito em Portugal e exportou para 23 países na Europa que era magnífica, mas já desapareceu. Era a das famosas bonecas Alda. Algumas fazem parte da coleção.”
Na exposição anual as bonecas Alda têm o exclusivo de uma vitrine. “Como temos uma coleção muito vasta podemos mostrar aos visitantes bonecas diferentes. Com exceção de algumas vitrines que foram do agrado de muitas pessoas, as restantes são renovadas.”
Rosa Vieira conhece a história de muitas destas bonecas. Uma ou outra com quase dois séculos. São histórias de família e de sonhos pessoais. Um tesouro de sensibilidade.
Por vezes, quando da visita em família, sobressaem alguns destes sentimentos. “É frequente juntarem-se aqui três gerações e é interessante. Cada uma delas identifica-se com uma boneca.”
São vários os tamanhos, como também o material. Algumas são oferecidas a precisar de restauro e Rosa Vieira montou também um pequeno hospital de bonecas. Quanto aos acessórios e em particular ao vestuário, procura sempre manter a vontade de quem a oferece.
“Quando elas vêm com roupa, original ou não, eu tenho de respeitar a ideia da pessoas que deu. Há outras que chegam todas nuas. Nós temos uma atividade que realizamos ano sim ano não que é Veste uma Boneca. A pessoas vestem-na ao seu gosto. É uma maneira de a comunidade participar.”
É também o retomar de uma relação antiga com este tipo de brinquedos. Curiosamente, reveladora de um estatuto social, de projeção de personalidade ou sonhos e também de censura a gostos de outras culturas e formas de estar.
“Em determinada altura as bonecas vinham nuas, não estavam vestidas. A boneca era um objeto da alta sociedade. Com os diversos materiais sofreu uma transformação e ficou acessível a todas as pessoas. Mas antes, vinham nuas para que as pessoas tivessem possibilidade de as vestir. Havia fatos que não podiam ser usados porque a nossa sociedade era restrita, ou então a proprietária podia dar azo à imaginação. Era por isso que a maioria das bonecas vinham nuas.”
Rosa Viera diz que é importante para quem visita o Museu tirar uma fotografia, uma imagem que leva na memória. É uma fotografia com brilho e cor de um universo feminino que vivemos ou partilhámos na nossa infância, por isso, não é uma imagem que se leva. É uma imagem que se aviva no museu e se veste de memórias e afetos.
Uma coleção de encantos no Museu da Boneca faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
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