Em forma de “U” e a começar no Esteiro de Salreu, este trilho é o percurso circular mais emblemático da Bioria ou pelo menos aquele que atrai mais visitantes. Durante os oito quilómetros, podemos apreciar uma enorme riqueza paisagística que inclui uma diversificada fauna e flora e um mosaico de cultivo de arroz intercalado com um sapal: ambos ligados por uma complexa rede de valas que funcionam como artérias deste verdadeiro “pulmão” da Natureza. À semelhança do Percurso do Rio Jardim, existem duas formas de chegar até este local: podemos estacionar o carro mesmo à entrada do trilho ou sair do comboio no apeadeiro de Salreu.
Neste dia, optei por fazer o percurso no sentido dos ponteiros do relógio, pois sei que a parte mais interessante para fotografar está nos últimos 3 km para quem começa neste sentido e o meu objectivo era chegar a esta zona com a luz baixa de forma a ser mais fácil trabalhá-la. O vento que se fazia sentir aguçou a minha curiosidade para criar algo mais experimental e um pouco abstrato: coloquei um filtro de graduação neutra cuja função é diminuir a quantidade de luz que entra no sensor e tirei a fotografia que se encontra abaixo. É um efeito que não exploro muito, mas mostrar o movimento faz com que o observador se sinta mais ligado ao momento que tentamos captar.
O contacto com a natureza traz benefícios para a saúde das pessoas e a existência de percursos que ligam as áreas urbanas a zonas naturais são a forma mais fácil e acessível para levar a Natureza às populações. O percurso de Salreu (e toda a rede de percursos da Bioria) é um exemplo de sucesso ecológico que consegue promover a região como um dos principais pontos para observar aves, principalmente as invernantes que usam esta zona como refúgio, zona de alimentação e/ou de nidificação.
À medida que o sol se põe, a vila de Salreu oferece um cenário mágico para fotografar a paisagem. A luz cria silhuetas dramáticas e sombras profundas nas árvores; as aves passam a ser pontos pretos no céu; o silêncio só é quebrado com os ocasionais passos das pessoas que estão a fazer o trilho. O sol começa a aproximar-se do horizonte e é neste momento que vemos a formação de uma sun star na árvore com a característica risca vermelha e amarela que marca o trilho. No lado oposto ao que estou a fotografar, a paleta de cores vai passando de um azul para um rosa esbatido, enquanto a linha do horizonte ganha tons vermelhos.
O Percurso de Salreu tem pormenores que merecem ser apreciados durante todo o ano, mas é no Outono/Inverno que esta zona ganha vida quer do ponto de vista da avifauna, quer das magníficas paisagens.
Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.
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