É exemplo o acervo que está no Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas, no concelho de Sintra e às portas de Lisboa.
Por esta zona saloia passaram romanos e outros povos em direção ao estuário do Tejo. Alguns morreram pelo caminho e ficaram as homenagens em grandes pedras e com inscrições. Desde figuras ilustres a escravos.
Noutros casos marcaram-se caminhos e territórios e as gravuras com as embarcações de Lisboa assinalavam que se estava já em Olisipo.
Também havia casas de gente de Lisboa com poder económico ou com grandes cargos públicos que vinha para aqui aproveitar o ambiente rural e ameno. Não há muitas diferenças em relação aos dias de hoje.
As ruínas que rodeiam a Ermida de São Miguel são um testemunho. Pode-se andar em redor das ruínas e percebe-se que se trata de uma estrutura grande, com mosaicos e vários divisões. O mais visível é uma construção circular, com mais de um metro de altura e que nunca teve grandes alterações porque quando foi descoberta pensava-se que era uma igreja antiga e que este era um local sagrado.
Foi, aliás, na continuidade deste atributo de ser um lugar sagrado que no século XII foi construída a Ermida de São Miguel.
As ruínas romanas já sofreram muitas alterações e até uma reconstrução parcial. Ao lado estão as antigas instalações do Museu que não tinha espaço suficiente para proteger os objetos de pedra que durante décadas foram recolhidos na região e que estavam abandonadas, a servir de bebedouro para animais ou a desempenhar muitas outras funções.
Essas pedras ficaram algum tempo debaixo do alpendre do Museu, mesmo ao lado das ruínas romanas, e algumas pessoas até contam que andavam a brincar no meio das pedras.
Com a construção de raiz do novo Museu Arqueológico de São Miguel de Odrinhas em 1999 esse património está agora protegido e, de certa forma, pode-se dizer que é um museu comunitário porque parte substancial das peças em exposição são da região e foram oferecidas pelos habitantes. Aos fins de semana alguns deles vêm ao museu com familiares e sentem muito orgulho em terem contribuído para a preservação do património.
Na entrada estão três sarcófagos que estavam em Itália e são os únicos objetos que não foram recolhidos nesta região.
São túmulos etruscos e foi Francis Cook que os adquiriu e mandou levar para a sua quinta em Monserrate no final do século XIX.
A entrada na área de exposições intitula-se “O Livro da Pedra” porque todos os objetos são em pedra.
Após a sala dos sarcófagos etruscos, passamos para um salão muito amplo onde estão algumas dezenas de pedras tumulares dos romanos, estelas e pedras votivas. Quase todas têm inscrições e algumas são muito grandes.
Depois passamos para os visigodos onde se destacam os lintéis de uma igreja visigótica e as múltiplas formas da cruz que se multiplicam com os registos medievais e influencias de outras culturas que espelham a diversidade de povos e culturas que passavam por aqui, entre o Norte Atlântico e o Mediterrâneo.
Por último, deparamos com uma interessante iconografia de Lisboa representada por vários tipos de embarcações e até caravelas reproduzidas em pedras que estavam no caminho para Lisboa.
O espaço do museu está muito bem cuidado, com um pátio onde funciona uma esplanada e faz ligação a outras estruturas da Câmara de Sintra relacionadas com património e arqueologia.
Em frente o Museu está a Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra.
Os romanos saloios faz parte do podcast semanal da Antena1, Vou Ali e Já Venho, e pode ouvir aqui.
A emissão deste episódio, Os romanos saloios, pode ouvir aqui.
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