A primeira admiração é a área da gruta. Tem várias dezenas de metros, primeiro a meia luz, com a nave muito alta. Depois, estreita ligeiramente em direção à clareira natural para o mar.
O acesso é feito por uma entrada com um pequeno lance de escadas.
Pouco depois o olhar descobre uma pequena capela de madeira num recanto escuro. A primeira surpresa.
O teto tem várias tonalidades das rochas, está decorado com estalactites e muitas armadilhas naturais parecidas com teias de aranha. O piso é arenoso e, próximo do mar, as rochas de calcário ganham formas irregulares.
O som das ondas ecoa de modo permanente no interior da gruta e marca o ritmo. A água límpida do estuário do Sado reflete o brilho do sol e contrapõe-se aos tons mais escuros, acastanhados, da rocha.
Joana foi mostrar a gruta ao namorado, Cláudio, e salienta que é um espaço “muito bonito e surpreendente. A água é muito clara, vê-se a Arrábida. É muito bonito. Dá para vir coma família, amigos... namorar junto ao mar. Sentamo-nos nos corais e é um espaço a dois.”
Entramos na gruta por um caminho até ao sopé da encosta sul da Arrábida. Com uma excelente vista para o final do estuário do Sado e o recorte da serra. Em algumas partes, o mar aproveitou a debilidade do calcário e criou várias grutas. A da Lapa de Santa Margarida terá mais de 100 mil anos.
O espaço foi ocupado no Paleolítico e a pequena igreja é do século XVIII. Algumas das imagens originais foram roubadas. Sem haver certezas, uma estará guardada no Convento da Arrábida, a da Senhora da Arrábida.
Na capela há muitas velas, imagens religiosas, fotografias e o teto escuro de madeira acentua o mistério.
Há um relato de Alexandre Herculano que refere o acesso por barco, tal como faziam os pescadores do Cabo, “quando vão ouvir missa ou levar oferenda à Santa da Lapa.”
Alexandre Herculano descreve também “a gruta silenciosa, cheia de uma frescura e de uma suavidade inalteráveis, sepultada num silêncio religioso que o roçar das ondas parece não interromper. Recorta-se irregularmente em caprichosas estalactites o côncavo da Lapa.
Em alguns pontos, foram subindo do solo as colunas vítreas a que os naturalistas chamam estalagmites, e tanto cresceram que puderam fundir-se com as grandes massas de carambina pendentes da abóbada. Abraçaram-se e fizeram colunas que três homens não poderão abranger com os braços."
Por serem tão largas e robustas, fica-se com a ilusão que são as estalagmites que suportam o teto da gruta.
Este espaço foi também utilizado por Manoel de Oliveira para uma das cenas do filme “O Convento” (1995), com Catherine Deneuve, John Malkovich e Luís Miguel Cintra.
Apesar de todas estas referências, a gruta continua a ser um segredo da serra. Por vezes, não é fácil de descobrir devido à diminuta sinalização.
O acesso não é complicado nem demorado. Exige algum esforço físico devido à grande quantidade de degraus de pedra no caminho e alguns são altos. Mas não é difícil e podemos fazer uma paragem. Vai ver que o esforço é largamente compensador.
A melhor referência para descobrir o caminho de acesso é o Lar de Férias da Casa do Gaiato.
Lapa de Santa Margarida na serra da Arrábida: o fascínio da gruta “sepultada num silêncio religioso que o roçar das ondas parece não interromper” faz parte do programa da Antena1 Vou Ali e Já Venho e a emissão deste episódio pode ouvir aqui.
Comentários