Hoje, vou dedicar-me a explorar os lagos que podemos encontrar no Jardim Botânico do Porto. As cores dos jardins vibram com a luz do Verão, mas este não foi um típico dia veranil. O calor estava presente, mas a humidade deu lugar à chuva e esta combinação criou uma atmosfera escura que nos remete para um dia de Inverno (não fosse a temperatura alta).
O caminho de pedra à nossa esquerda leva-nos até ao primeiro lago e a nossa atenção é automaticamente presa pelos tons rosa, amarelo e branco das flores dos nenúfares que podemos encontrar nos dois pequenos lagos, onde ganham floração durante o Verão. A minha intenção era passar cerca de trinta minutos neste espaço, mas a chuva decidiu aparecer e com ela eu também decidi ficar mais trinta minutos.
O nenúfar-amarelo Nuphar lutea subsp. Luteum é o maior nenúfar nativo que podemos encontrar em Portugal, sendo que a floração acontece cerca de trinta centímetros acima do nível da água. As flores solitárias de quarto a seis centímetros de diâmetro possuem cerca de vinte pétalas dispostas em espiral. Por outro lado, o nenúfar-branco Nymphaea alba apresenta folhas carnudas com uma tonalidade verde-escura e flores com cerca de cinco a doze centímetros de diâmetro. O nome científico desta espécie deriva do grego e significa ninfa branca, uma clara referência às divindades gregas que habitavam os cursos de água. Estas plantas apresentam inúmeros papéis no ecossistema: fornecem abrigo aos animais aquáticos, reduzem a incidência de radiação ultravioleta e têm propriedades medicinais que podem ser aproveitadas pelos Humanos.
A chuva trouxe uma atmosfera melancólica ao Jardim Botânico; os nenúfares captam a água e bastou uns minutos para estarem repletos de gotas. Estes assumem uma beleza etérea e as folhas flutuantes enchem-se de inúmeras gotículas cintilantes, que criam um cenário quase mágico. As pétalas delicadas repousam sobre a água, como se estivessem à espera para serem admiradas pelos olhares menos atentos.
Foi neste momento que reparei na presença de uma espécie que usa os nenúfares como abrigo ou como forma de apanhar os ausentes raios de sol: a rã verde Rana perezi. Esta espécie pode ser facilmente encontrada em charcos, lagoas ou, como neste caso, em lagos e apesar de não ser difícil de se encontrar, é mais fácil ouvir o coaxar ao anoitecer. A coloração verde confere a capacidade de passarem despercebidas no meio das folhas dos nenúfares, mas basta encontrar uma para conseguirmos encontrar mais.
As pétalas e as folhas curvam-se sob o peso das gotas e formam pequenas poças temporárias onde as rãs se refugiam. De uma forma poética, é quase como se estas duas espécies partilhassem um segredo que se revela às pessoas que decidem parar e apreciar o momento com olhos curiosos. Fotografar após um período de chuva é um convite para capturar a beleza da simplicidade e a magia dos detalhes: a lente revela a delicadeza das gotas; o verde vibrante da rã e a elegância dos nenúfares criam um equilíbrio perfeito entre os três elementos.
O último lago também guardava o último segredo do dia! Após algumas fotografias mais genéricas e com a máquina já na mochila, olhei para uma fêmea de pato real Anas platyrhynchos e uns segundos depois comecei a ouvir um piar igual ao que os pintainhos fazem.
Em cima de uma “cama” improvisada de nenúfares estavam duas crias de pato real a serem observadas pela fêmea que se encontrava no muro. Mais uma vez a atmosfera estava perfeita para criar fotografias íntimas desta ave e da sua descendência. As crias são verdadeiras bolas de pêlo e as penas hidrofóbicas brilham com pequenas gotas de água. A fêmea, atenta e vigilante, acompanhava com um olhar carinhoso. As crias, por sua vez, encontravam-se relaxadas e aconchegadas nas folhas molhadas. Cada disparo foi um convite para entrar num momento íntimo da natureza, uma lembrança de como a vida continua mesmo após a chuva.
Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.
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