As cores do Outono estão a chegar, mas o tempo quente parece querer ficar. No entanto, as folhas já começam a cair; os dias estão a ficar mais curtos e a vontade de sair para fotografar começa gradualmente a aumentar: este foi o mote para uma pequena caminhada numa das margens da Pateira de Fermentelos. A maior lagoa natural da Península Ibérica é formada pelo represamento dos rios Águeda e Cértima e cobre uma área de aproximadamente 5,7 quilómetros quadrados. Conhecida pela sua biodiversidade, esta lagoa alberga várias espécies de aves, peixes, plantas aquáticas e por isso é um local de excelência para a fotografia de vida selvagem.

Pateira de Fermentelos
Pateira de Fermentelos Caminhada pela Pateira de Fermentelos créditos: Guilherme Teixeira

A ideia inicial resumia-se a fotografar o bosque com nevoeiro que se forma na Pateira ao nascer do sol, mas, ao contrário dos dias anteriores, não havia indícios do aparecimento do nevoeiro. A solução era óbvia: aproveitar esta saída de forma a encontrar motivos fotográficos para as próximas manhãs de nevoeiro. E assim foi! Apesar de ser logisticamente mais fácil, o pôr-do-sol não é a altura que eu mais prefiro para fotografar estes locais: a quantidade de pessoas a passear à mesma hora é grande e acabam por “atrapalhar”. Uma coisa é certa, temos de trabalhar com aquilo que temos e deste modo vou falar de uma forma rápida da importância da tridimensionalidade e do ponto de âncora nas fotografias.

Acabei por fazer parte do PR 1 até ao local onde este se encontra com o GR 58 e optei por seguir esse caminho. As pequenas entradas ou pontes que atravessam o rio Cértima são um regalo para o olhar: apesar do meu foco principal ser a Natureza, gosto de incluir elementos humanos para mostrar que há formas do mundo natural se ligar com a presença humana. Às vezes são pontes que ligam duas margens mais ou menos distantes; outras vezes só precisamos dos barcos que são utilizados pelos pescadores para criarmos um elemento onde a vista do observador pode repousar. Fotografar um bosque ou uma floresta não é fácil! Na maioria das vezes não existe uma separação tridimensional dos vários elementos ou a composição é extremamente caótica e precisa de algo que a simplifique. A simplificação da composição é algo que conseguimos atingir com o nevoeiro, com o uso de cores ou com pontos de intensidade luminosa: infelizmente não havia nevoeiro e as cores de Outono ainda não chegaram com toda a força. Mas o uso de um elemento âncora, como a luz do sol, uma ponte ou um barco, ajuda a simplificar (nem que seja residualmente) a cena em questão.

Pateira de Fermentelos
Pateira de Fermentelos Caminhada pela Pateira de Fermentelos créditos: Guilherme Teixeira

A última luz estava a chegar, quando decidi voltar para os observatórios: se não houvesse pessoas, a minha ideia seria captar a fotografia que podem ver abaixo, mas com as flores do Jacinto-de-água em  primeiro plano a enquadrar o observatório. Assim, vemos as primeiras cores do pôr-do-sol sobre um dos observatórios e sobre um enorme manto verde de jacinto-de-água Eichhornia crassipes que serve de contextualização para as imagens seguintes. Precisamos sempre destas fotografias para contar a “história”.

O excesso de pessoas inibiu-me de tirar a fotografia que queria, por isso decidi focar-me na criação de fotografias minimalistas que tenham a flor do jacinto-de-água como ponto de interesse. As folhas verdes serviram de fundo para destacar a flor que “absorvia” a luz do sol, suave e difusa: uma combinação que cria um jogo de sombras com o intuito de dar profundidade e uma sensação de profundidade à fotografia.

Jacinto-de-água
Jacinto-de-água Jacinto-de-água créditos: Guilherme Teixeira

As flores do jacinto-de-água, com as pétalas delicadas de cor vibrante, são o ponto focal de qualquer composição aqui criada, destacando-se de uma forma notável em contraste com o verde exuberante das folhas circundantes. A quantidade de plantas fez com que fosse fácil isolar uma flor de forma a criarmos um quadro em que as folhas verdes servem de moldura à flor.

Podem seguir as caminhadas e experiências fotográficas do Guilherme no seu blog, Raw Traveller, onde uma versão deste artigo foi publicada originalmente, e no instagram.