Numa altura em que vivemos a segunda fase do período de desconfinamento e em que a época da balnear está prestes a arrancar, a vontade de tirar uns dias para passear começa a falar mais alto. Se há um mês julgávamos que seria impossível fazer férias de verão este ano, agora o cenário é outro.
Recuperar da crise com confiança
No que diz respeito às férias, “vamos fazer tudo o que fazíamos antes mas com novas regras”, diz ao SAPO Viagens Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal. Para o responsável, é preciso saber fazer um balanço entre “saúde pública e vontade de viajar”, respeitando as medidas e recuperando a confiança.
Com o objetivo de ajudar neste processo, o Turismo de Portugal lançou o selo Clean & Safe, para “criar confiança do lado das empresas e do lado do consumidor”. “O selo tem sido um sucesso”, assegura Luís Araújo, sublinhando que o Turismo de Portugal já começou a fiscalizar se as empresas que o conseguiram estão a cumprir as regras. “Quem não cumprir perde o selo”, indica o responsável.
Além de já ter centenas de empresas da área do turismo que aderiram ao selo, o Turismo do Algarve preparou também um Manual de Boas Práticas Clean & Safe. “Um documento complementar ao selo e que reúne todas as medidas específicas de funcionamento para as diferentes atividades turísticas, de acordo com as normas da Direção Geral de Saúde e orientações internacionais existentes”, explica João Fernandes, preside da Região Turismo do Algarve.
O destino preferido das férias de verão dos portugueses está preparado para receber turistas, apesar de reconhecer o impacto negativo deixado pela pandemia de COVID-19.
“O Algarve tem uma grande capacidade de adaptação a novas circunstâncias e tudo continuará a fazer para receber os turistas com as devidas garantias de segurança e proteção, minimizando ao máximo esta crise”, sublinha João Fernandes.
De acordo com um inquérito realizado pelo Turismo do Algarve sobre as unidades hoteleiras, “durante o corrente mês, 33% estão abertas, em junho este valor sobe para 75% e a partir de julho a oferta hoteleira estará na sua plenitude em funcionamento”.
Também a região Centro conta começar a receber turistas portugueses. “Com as fronteiras fechadas, estão reunidas as condições para que os portugueses descubram, ou redescubram, os encantos do seu próprio país, que muitas vezes não são devidamente valorizados por quem cá vive – e que são muito valorizados pelos turistas estrangeiros, que consideram Portugal como um dos melhores destinos do mundo”, descreve ao SAPO Viagens Pedro Machado, presidente do Turismo Centro de Portugal.
O responsável indica que, neste momento, a prioridade “tem de ser salvar as empresas para salvar os empregos”. “A esmagadora maioria das empresas turísticas da região são microempresas, que não têm liquidez suficiente para poderem recorrer a créditos. Sem previsão de receitas, não podem correr o risco de se endividar, mesmo com condições especiais de pagamentos e juros”, explica o responsável.
Para o presidente Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal, "incerteza" é a palavra que melhor define este momento. "O desenvolvimento da pandemia condiciona muito a ação e é difícil estabelecer metas", declara ao SAPO Viagens Luís Pedro Martins.
"A crise pandémica foi um rude golpe na atividade turística que, no caso do Porto e Norte de Portugal, vinha registando até fevereiro indicadores excelentes, que faziam adivinhar um ano-recorde", acrescenta o responsável, sublinhando que "a esmagadora maioria das unidades de hotelaria e restauração vão ostentar o selo Clean & Safe e os manuais de boas práticas estão a ser implementados a bom ritmo".
O presidente do Turismo de Portugal reconhece que o setor está em crise e que existem “situações dramáticas”. Ainda assim, Luís Araújo mostra-se confiante na recuperação, uma vez que “a cadeia de valor” não se perdeu. “Temos as ferramentas na mão para ultrapassar a crise”, garante.
“Chegou o tempo”
Os portugueses “vão viajar de forma diferente”, prevê Luís Araújo, reconhecendo que a pandemia de coronavírus vai-nos fazer pensar mais sobre a escolha do destino e sobre a maneira como nos relacionamos com os outros.
Este vai ser o ano para redescobrir Portugal. “Ter uma experiência diferente”, “ir a um lugar onde nunca foram”, “fazer um passeio de bicicleta, uma prova de vinhos ou uma visita guiada a um monumento”, exemplifica Luís Araújo.
A pensar nesta redescoberta, o Turismo do Centro lançou a campanha “Chegou o tempo”. “Com esta campanha, queremos convidar os portugueses a visitar o Centro de Portugal como se fosse a primeira vez. “Depois de estarmos tanto tempo fechados, vamos olhar para as coisas como se fosse a primeira vez”, salienta Pedro Machado.
Em junho, o Turismo do Porte e Norte vai lançar a campanha “Escolha Segura - Mergulhe na Região”, "com especial enfoque na promoção de destinos de baixa densidade", explica Luís Pedro Martins. A entidade quer também promover "as viagens de carro, por estradas fantásticas como EN2, EN 222 ou a Rota do Românico".
Luís Pedro Martins considera que os turistas vão procurar "o contacto com a natureza, em espaços amplos e de baixos aglomerados populacionais", prevendo uma "descentralização do destino, com as pessoas a procurarem experiências diferentes, ligadas ao Turismo de Saúde, enoturismo, Turismo Natureza e Aventura".
“Temos, hoje, uma oferta cada vez mais autêntica que vai ao encontro de diferentes tipos de motivação, nomeadamente no que diz respeito à procura sustentável, que está a ser impulsionada pelas alterações de comportamento do atual turista”, indica o presidente do Turismo do Algarve.
Apesar da crise vivida no setor, Luís Araújo acredita que a imagem de Portugal enquanto destino turístico saiu “reforçada”, devido à forma responsável como o país respondeu à pandemia, e que isso vai ser uma mais-valia quando as fronteiras reabrirem.
“Portugal foi eleito por três vezes seguidas como o melhor destino do mundo” pelos World Travel Awards, relembra o presidente do Turismo de Portugal. “Está na altura de se perceber o porquê”, conclui.
Vamos ter medo de viajar?
De acordo com os dados fornecidos ao SAPO Viagens pelas entidades de turismo, tudo indica que os portugueses vão fazer viagens internas durante o verão. Tanto para o Algarve como para o Centro já existem reservas a serem feitas em unidades hoteleiras.
“Principalmente a partir de meados de junho, no caso do mercado interno e julho para mercados europeus”, indica o presidente da Região Turismo do Algarve. No caso do Turismo Centro, “os turistas nacionais são os responsáveis por grande parte das reservas para as próximas semanas e meses. Mas também já há pedidos da parte de estrangeiros, para agosto e setembro”.
"Já temos algumas reservas, maioritariamente de turistas nacionais, que serão o nosso mercado preferencial neste verão. Há um dado animador, que se prende com o facto de sermos o destino que teve o menor número de cancelamentos durantes os meses de confinamento", avança o presidente do Turismo do Porto e Norte.
Ainda assim, as entidades reconhecem que os números deste verão ficarão muito aquém dos do ano passado.
Além da quebra no número de visitantes, o receio de fazer deslocações para fora da área de residência também é uma realidade. Ainda assim, os viajantes ouvidos pelo SAPO Viagens consideram que o medo não vai vencer a vontade de viajar.
“É natural que o medo exista, depois de tudo o que se passou. No início, não sabíamos como contornar isto, mas agora sabemos que temos todos de tomar precauções”, considera Susana Ribeiro, autora do projeto Viaje Comigo.
“As pessoas estão desejosas por passear, por isso, aos poucos vão ganhando confiança em viajar cá dentro”, afirma a jornalista de viagens, que nos respondeu a partir da Beira Baixa, num alojamento rural, perto do Fundão. “É o meu desconfinamento - para mudar de ares - enquanto também consigo trabalhar no site e nos workshops de escrita online”, indica.
“Acho que o medo não vai vencer. Há muitas alternativas para férias mais seguras, os hotéis estão a preparar-se para dar essa segurança. E nós vamos aprender a viver com mais consciência e cuidado”, refere ao SAPO Viagens João Amorim, responsável pelo projeto Follow the Sun Travel.
João fala por experiência própria, uma vez que já regressou à estrada, depois de estar “dois meses fechado em casa”. Escolheu a Serra da Freita como primeiro destino. “Foi incrível, não estava quase ninguém, e deu para relembrar quão bom são estes retiros. Ajudou também a valorizar melhor aquilo que tenho aqui tão perto e que às vezes me esqueço. Fiz uma caminhada, acampei, relaxei, quase que congelei no rio e vim para casa com energias renovadas e vontade de continuar a explorar o nosso Portugal”, conta o viajante.
Ao viajar estamos a ajudar a economia
Opções não faltam para explorar Portugal, mas podemos deixar aqui algumas dicas.
“Aquilo que eu sugiro é ir. Não importa onde. Escolher aquele destino há muito tempo adiado e ir. Fazer trilhos, percorrer as ecovias, explorar as serras de Portugal, conhecer aldeias, vilas e pequenas cidades, praias menos massificadas, enfim, ir”, começa por aconselhar Filipe Morato Gomes, autor do projeto Alma de Viajante e presidente da Associação de Bloggers Viagem Portugueses (ABVP).
Uma vez que vamos pensar mais na hora de marcar uma escapadinha, podemos também ser mais conscientes de que ao fazer uma viagem estamos a ajudar a economia nacional.
Nesse sentido, Susana Ribeiro deixa um apelo: “obviamente que quem ficou sem emprego não poderá passear tanto, mas os que podem, por favor, ajudem os restaurantes, os alojamentos, as empresas de tours e passeios”.
“Lembrem-se da quantidade de turistas que recebíamos e que tão cedo não nos poderão visitar, por isso, vamos ajudar essas empresas a terem mais e novos clientes. Quero também dizer às empresas turísticas para serem mais criativas e arranjarem tours novos para os portugueses”, realça a viajante.
“Pela nossa parte, e no âmbito da iniciativa #euficoemportugal da ABVP, daremos especial ênfase aos chamados territórios de baixa densidade, locais onde os pequenos negócios ligados ao turismo, como unidades de turismo rural ou restaurantes, têm um grande impacto nas economias locais”, explica Filipe Morato Gomes.
“Esta é a altura para conhecermos o nosso país. Somos uns privilegiados e não sabemos. Está na altura de o descobrir. Apoiem os negócios locais e as agências de turismo. Respeitem os outros. Conectem-se com a natureza. Vão ver que para o ano vão querer repetir a dose!”, conclui João Amorim.
*Artigo atualizado a 27-05-2020 com declarações da Entidade de Turismo do Porto e Norte de Portugal
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