Quando falamos ao telefone com Carlo Rebelo, num dia ensolarado destas primeiras semanas de desconfinamento, conseguimos ouvir os passarinhos a cantar no jardim da sua casa em Porto Covo, enquanto íamos conhecendo o homem por trás da conta de Instagram Costa Vicentina Oficial.

Nascido em Angola, mas filho de pais portugueses, Carlo começou a passar férias na casa da família em Porto Covo desde os quatro anos de idade e nunca mais parou de visitar a região. Entre idas e vindas, viveu no Porto, mudou-se para Lisboa e formou-se em Economia. Mas a “costa”, como ele a chama carinhosamente, estava sempre lá, à sua espera.

Devido ao bodyboard, do qual é praticante, começou a percorrer a Costa Vicentina com mais frequência e teve o “clique” de começar a mostrar a zona através do Instagram. “Queria fazer uma coisa gira, um guia cool, não queria que fosse um guia turístico clássico”, explica ao SAPO Viagens. “Um dos meus maiores objetivos é que todos participem e, para as pessoas seguirem, tem de haver identificação”, sublinha.

“Paisagem, natureza, praias, animais, música, desporto e comida” são alguns dos temas que podemos encontrar neste guia em constante atualização. Partilhar é um dos verbos preferidos de Carlo que na página adotou o ‘nome artístico’ Da Provider – “porque providencio momentos e sensações”.

O meu foco são as pessoas, quem trabalha, quem vive aqui, tem negócios

E o que está por trás disto tudo? As pessoas e as suas histórias. “O meu foco são as pessoas, quem trabalha, quem vive aqui, tem negócios, desde o pescador ao dono do restaurante ou ao dono do turismo rural. Tento me rodear de pessoas simples e com boa energia”, descreve Carlo, responsável pela produção integral dos conteúdos da página – “sou eu que fotografo, filmo, edito, faço as publicações, tudo”.

Carlo Rebelo é um apaixonado pela Costa Vicentina
Carlo Rebelo é um apaixonado pela Costa Vicentina Carlo Rebelo é um apaixonado pela Costa Vicentina créditos: DR

Durante os primeiros momentos do projeto, ele próprio não dava a cara e só começou a fazê-lo com o início da quarentena, que optou por passar, claro está, em Porto Covo. A reação dos seguidores ao “conhecê-lo” foi muito positiva, “passou de água para azeite”, diz.

Da Horta de Papel aos quizzes

Durante a quarentena, na impossibilidade de “andar de um lado para o outro e abraçar pessoas”, Carlo começou a cultivar uma horta, “algo que sempre quis fazer”.

Enquanto lançava as suas dúvidas sobre o processo aos seguidores, ia transformando esta tarefa numa série em vídeo, “A Horta de Papel”. Só o primeiro episódio teve 40 mil visualizações.

Os protagonistas são os habitantes de Porto Covo que vestiram a pele de atores, cada um com o nome de uma cidade ou vila da região. “Nunca pensei que o resultado fosse ser este, mostrei os negócios locais, eles ficaram famosos e começaram a vender mais”.

A realização de quizzes, sondagens e passatempos trouxe mais pessoas a esta comunidade online de 60 mil “vicentinos”. Desde perguntar sobre os tipos de peixes à venda no mercado local até à localização de praias, os quizzes são uma forma de “divulgar mas também de desafiar as pessoas”. “Há sempre um espírito de participação e partilha”.

É quase como se todos pudessem contribuir para a descoberta deste destino. “Eu não conheço tudo, não conheço nem 60% ainda. Estou a descobrir e ter a página deu-me motivação para conhecer mais”, assume Carlo. Atualmente, faz parcerias com projetos com os quais se identifica e divulga-os através do Instagram. “Tenho descoberto coisas que nem sonhamos que existam no nosso país”, afirma.

Cartas de amor à Costa

A relação com os seguidores é muito boa. “Recebo muitas cartas de amor à Costa Vicentina” que é “um lugar especial para muitas pessoas”. Carlo sublinha que responde a todas as mensagens.

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“Onde dormir, onde comer, o que fazer” são as questões mais frequentes dos seguidores que querem planear uma viagem pela região. “As pessoas confiam nas minhas sugestões e passados 15 dias mandam fotografias de onde estiveram. Isso é muito giro”, conta.

Nos próximos meses, com a retoma do turismo, Carlo acredita que muitas pessoas vão procurar este destino, o que será positivo, uma vez que este período foi “terrível” para os alojamentos. “As pessoas vão procurar a natureza, espaços onde possam estar sozinhas”, prevê. É o que “temos aqui", o turismo rural funciona com “casinhas e bungalows”.

O “vicentino” acredita que o “futuro é risonho”, mas é preciso haver regras para preservar-se da melhor forma esta região única de Portugal. Por isso mesmo, o seu próximo projeto passa por fazer uma viagem de autocaravana “para sensibilizar e alertar ao respeito pela natureza e regras de viagem pela costa”. “Vou mostrar e divulgar os pontos de apoio e infraestruturas para autocaravanas e onde devem pernoitar ao longo da costa”, indica.

Uma viagem de bicicleta, vídeos na cozinha de restaurantes e sobre as profissões dos locais também fazem parte dos planos de Carlo que vai continuar a mostrar a “costa” de forma “descontraída e espontânea”. E nós estaremos deste lado a acompanhar e a inspirar-nos para futuras viagens.

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