Evoramonte (ou Évora Monte) pode ser uma vila pequena em tamanho, mas é grande em História. Tem mais de sete séculos, esta terra cujo caráter se forjou a ferro, sangue e fogo. Reconstruiu-se sempre, depois de cada queda, e hoje mantém-se forte e soberana, olhando-nos com orgulho do topo do seu castelo na Serra de Ossa.

Acerca da sua fundação pouco se sabe. Provavelmente terá sido conquistada aos Mouros em 1166, por Dom Afonso Henriques, mas não existem fontes seguras que o possam confirmar. A tradição popular, no entanto, tem mais respostas e diz-nos que no decorrer da Reconquista de Portugal, esta zona do Alentejo mostrava ser uma das mais difíceis para as tropas de Dom Afonso Henriques quando surgiu uma personagem que depressa ganharia a dimensão de uma lenda — Geraldo Geraldes, mais conhecido por Geraldo Sem Pavor.

Conta-se que Geraldo Sem Pavor, liderava naquele tempo, um temível grupo de aventureiros, salteadores e proscritos, quando decidiu oferecer auxílio ao rei na retoma das terras alentejanas perdidas para os sarracenos. A sua coragem e audácia, sem limites, transformaram-no numa figura mítica, que vive até hoje no imaginário do povo, não só em Evoramonte, mas também em Évora e por todo o Alentejo.

Mas nem só de batalhas e homens valentes são feitas as lendas de Evoramonte. Há também aquelas que falam de amor, de dor e de perda. É o caso da "Lenda da Moura", uma história triste que conta a (má) sorte de dois apaixonados que viram os seus planos de casamento interrompidos pelo primeiro cerco ao castelo.

O noivo, um nobre mouro, acabou morto em combate e a jovem donzela, sua noiva foi encarcerada e morreu de desgosto. Desde essa data, diz o povo, que o fantasma da moura aparece nas noites de São João, a cantar uma triste canção de amor e a pentear os seus longos cabelos na borda de um poço, a que chamam de “poço do clérigo”.

Lendas à parte, a primeira menção oficial a Evoramonte surge no ano de 1248, quando Dom Afonso III lhe concedeu a Carta de Foral, posteriormente corroborada e ampliada em 1271, com o intuito de povoar a vila. A dificuldade de fixar uma população, no entanto, manteve-se, o que levou Dom Dinis a ordenar, em 1306, a fortificação da vila medieval para que os habitantes de Evoramonte se sentissem mais protegidos. Embora a muralha tenha sofrido algumas alterações ao longo dos séculos, mantêm ainda as quatro portas em arco de ogiva da época da fundação e muito do seu projeto original.

Em 1385, Dom Nuno Álvares Pereira recebeu a vila por doação e cedeu-a, em 1461, ao seu neto Dom Fernando, tornando-a propriedade do Ducado de Bragança. A atestá-lo estão os laços (ou nós) que abraçam o seu monumento principal e que simbolizam o lema bragantino, “Depois de Vós, Nós”.

O Castelo ou Paço Ducal de Evoramonte foi construído sob a orientação dos mestres Diogo e Francisco de Arruda e o patronato Dom Jaime, Duque de Bragança. De inspiração italiana, é considerado uma das gemas da arquitetura militar portuguesa.

O estilo limpo e pouco adornado remete-nos para a sua função principal, a defesa da vila, mas é impossível não ficar maravilhado com os extraordinários nós, desenhados em pedra, que se entrelaçam a meio das quatro faces do Castelo. Por dentro, o Paço, que podemos visitar, tem bonitos tetos abobadados, assentes em pilares de cantaria.

Dignas de atenção são também a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição e a Igreja da Misericórdia.

A Igreja Matriz de Santa Maria, também referida como Igreja de Nossa Senhora da Conceição, localiza-se no interior da muralha, próximo da Porta do Freixo. A primeira referência conhecida a esta igreja é de 1271 e sabe-se que o templo já existia em 1359.

Já a Igreja da Misericórdia está “encaixada” ao lado da muralha. Data do século XVI e é bastante simples, mas no seu interior podemos encontrar painéis de azulejo muito interessantes.

Nos arredores das muralhas encontramos ainda a Igreja de São Pedro de Fora, que fica do lado de fora da muralha (daí o “de fora”) e várias ermidas como a Ermida de São Sebastião e Ermida de Santa Margarida. Um pouco mais longe ficam as ermidas de Santo Estevão, de São Marcos e a Capela Santa Rita de Cássia.

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O centro da vila é pequeno mas muito bonito. É muito agradável percorrer todas as sua ruas e recantos. Ver com atenção as casas típicas alentejanas, com os seus coloridos rodapés. Observar os pormenores, as portas, os ornamentos, o artesanato, os vasos de flor…

Durante o passeio, não passa despercebida uma placa que comemora um dos capítulos mais importantes da História de Evoramonte e de Portugal — a assinatura da Convenção que, em 26 de Maio de 1834, restabeleceu a Paz em Portugal, após vários anos de guerra civil entre liberais e absolutistas.

A Convenção de Evoramonte, que confirmou a vitória dos liberais, seguidores de Dom Pedro IV, sob os absolutistas, seguidores de Dom Miguel e resultou no exílio de Dom Miguel para Áustria, foi assinada na casa de Joaquim António Saramago (na altura Administrador do Conselho). A sangrenta guerra entre irmãos terminou, assim, numa modesta casa, que ainda hoje podemos encontrar, na antiga Rua Direita de Evoramonte (hoje Rua da Convenção).

Olhando de longe, dir-se-ia que a vila parou no tempo, mas Evoramonte ainda tem muito para oferecer aos seus visitantes e uma paragem por aqui, nunca desilude. Fica a sugestão!

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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World

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