Um passeio pelas ruas quentes e (incrivelmente) desertas do seu Centro Histórico, conduziu-me recentemente, à (re)descoberta desta terra por onde andaram nobres cavaleiros e casaram reis de Portugal.
A Vila do Crato foi conquistada aos mouros em 1160 pelas tropas de D. Afonso Henriques e depois doada em 1232 pelo rei D. Sancho I à Ordem de Malta (também designada por Ordem Soberana e Militar Hospitalária de São João de Jerusalém, de Rodes e de Malta), que a desenvolveu e fortificou.
No século XIV, a vila assistiu à construção do magnífico Mosteiro de Santa Maria de Flor da Rosa (hoje convertido na Pousada Mosteiro do Crato), que se tornou a sede da Ordem de Malta em Portugal. Foi Frei Álvaro Gonçalves Pereira, Prior do Crato e pai do Condestável D. Nuno Álvares Pereira, quem mandou construir o Mosteiro, transformando a vila numa das mais importantes vilas alentejanas, tanto a nível militar, como religioso.
A época áurea da Vila do Crato chegou durante o século XVI, com a edificação do Paço do Castelo, palco dos grandes casamentos régios de D. Manuel I com D. Leonor de Castela, em 1518, e de D. João III com D. Catarina da Áustria, em 1525.
Ao percorrer as ruas vazias do Centro histórico do Crato, vagarosa — como os 39 graus centígrados de temperatura do ar me obrigavam a ser — pude observar com toda a calma, os interessantes exemplos de arquitetura medieval, solares, igrejas, ermidas e painéis de azulejo.
Quem estiver um pouco atento, como eu, vai conseguir identificar também várias cruzes da Ordem de Malta nos edifícios e placas toponímicas que encontramos pelo caminho.
Passei pelo Museu Municipal, instalado num palácio barroco, e depois vi o Palácio do Grão-Prior, construído pelo arquiteto Miguel Arruda, na atual Praça do Município. Do edifício resta apenas uma janela e uma imponente varanda sustentada por arcos de volta perfeita, decorada com rosáceas e meias-rosáceas. Na praça vê-se também o edifício dos Paços do Concelho e o Palácio Sá Nogueira, assim como um belíssimo Pelourinho onde era exercida a justiça na vila.
Murais de arte urbana trouxeram-me de volta ao presente, apenas para me conduzir de novo ao mundo da imaginação.
Vi a Capela de Nossa Senhora do Bom Sucesso, mandada construir em 1755 para que os presos da antiga cadeia em frente pudessem assistir aos serviços religiosos; e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição, edificada originalmente em 1232, da qual resta apenas a estrutura da torre, sendo a igreja atual resultado de sucessivas reedificações e adições feitas durante os séc. XV e XVIII.
De longe, mais tarde, ainda vi os vestígios do Castelo do Crato (também conhecido como Castelo da Azinheira), uma construção medieval onde se destacam as plataformas para artilharia, a porta do fortim e uma cisterna.
Gostaria ainda de ter saboreado umas deliciosas Barrigas de Freira, doce tão típico desta região, mas pareceu-me que estava tudo encerrado... Enfim, fica a desculpa para voltar mais uma vez a esta bela vila portuguesa.
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Artigo originalmente publicado no blogue The Travellight World
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