Apesar de existir vinha na Beira Interior há cerca de 2.000 anos, a Denominação de Origem Beira Interior foi criada a 2 de Novembro de 1999, resultado da aglutinação das regiões de Castelo Rodrigo, Cova da Beira e Pinhel, que passaram a sub-regiões desde então. É a região vitivinícola mais alta do país, rodeada de serras - Estrela, Gardunha, Malcata e Marofa - sendo que as vinhas estão plantadas em zonas planálticas ou de encosta, entre os 350 e os 750 metros de altitude. As duras condições climatéricas registadas nas vinhas moldam por completo os vinhos que ali começam a nascer.
A centenas de metros de altitude, dezenas de castas dividem o espaço nas vinhas velhas, onde as videiras antigas contam com mais de 100 anos. Podemos diferenciá-las pela larga estrutura do seu pé, um tronco largo e curvilíneo, com um diâmetro muito superior às outras videiras que se alinham ao longo da vinha.
"Esta deve ter mais de 100 anos e vou ter de a arrancar, com muita pena minha, mas já não dá fruto", explica Germano Santos, enquanto caminha pela vinha, arrancando algumas folhas de forma a permitir que os cachos de uvas recebam a luz do sol. Germano Santos tem uma daquelas profissões que sabemos que, mais ano menos ano, estarão completamente extintas: é classificador de vinha. Sem qualquer esforço, com apenas um olhar sabe exatamente qual é a casta de cada uma das videiras. As diferenças estão nas folhas mais ou menos recortadas, nos pequenos nós dos ramos ou nas brotações.
Na região, o destaque vai para a casta branca Síria, a mais plantada na Beira Interior, mas também a Fonte Cal, Malvasia e Arinto. Nas tintas, a Rufete é a mais predominante, existindo também a Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Roriz. O solo agreste onde crescem as vinhas - muitas vezes pontuados por pedra - e o clima austero a que estão sujeitas, distinguem o vinho da região. Grandes diferenças de altitude, relevo, humidade, temperatura, conduzem a diferentes terroirs nos cerca de 16.000ha de vinha da região. Para essa diversidade contribui também o perfil do solo na Beira Interior, que não é homogéneo. Os vinhos refletem o caráter da terra que os viu nascer: brancos, rosés e tintos firmes, sérios, elegantes e longevos.
Com as crescentes preocupações com o meio ambiente, a tendência dos Vinhos Biológicos tem vindo a crescer e a Beira Interior conta com as condições ideais para a produção destes vinhos. O clima muito frio funciona como um repelente para qualquer tipo de micróbio ou bactéria que, desta forma, não proliferam nas uvas. Além disso, com o clima muito seco que se faz sentir, algumas doenças da vinha, como o míldio, não são uma preocupação, ao contrário do que acontece noutras regiões do país.
Juntando os bons vinhos à gastronomia, hotelaria e todo o património paisagístico, cultural e material, há muito para descobrir na Beira Interior e é exatamente isso que a Rota dos Vinhos da Beira Interior pretende promover. A Rota conta com um mix de soluções, para além dos produtores de vinho. Conta com o apoio de 7 dos 20 municípios que fazem parte da região, além de restaurante, alojamento e, claro, as aldeias históricas que são um importante atrativo da região.
No Solar do Vinho da Beira Interior, sede da Comissão Vitivinícola Regional da Beira Interior, pode visitar a loja que conta com vinhos de todos os produtores da região. O espaço funciona também como welcome center, onde é disponibilizada informação aos enoturistas relativa à Rota de Vinhos da Beira Interior.
Além dos bons vinhos, a região é também conhecida pela sua gastronomia tradicional imperdível. No restaurante Colmeia, na Guarda, são servidos alguns dos pratos de referência regional, como é o caso da morcela da Guarda - servida com maçã caramelizada - e o Cabritinho das Terras Altas à Padeiro. Para sobremesa, não pode deixar de provar a Aletria Dourada. Junto à Sé da Guarda, pode também saborear o que de melhor se faz na região no restaurante e wine bar Nobre, vinhos & tal. Não deixe também de provar um D. Sancho, o doce da Guarda. Contém queijo da serra a acompanhar doce de ovos e é envolvido em massa folhada feita de farinha de centeio.
Publicado originalmente a 23 de setembro de 2020
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