Já conhecem a Vivien Afonso (@vivienafonso) e o Gonçalo Rodrigues (@goncalofrodrigues) das minhas entrevistas sobre o que eles fazem "fora de horas": exploração urbex. E têm novas viagens cumpridas neste primeiro trimestre de 2023. É disso que, hoje, se trata esta reportagem e sobretudo porque a Vivien abre o seu coração e revela que, apesar de limitações que tem, viaja como uma verdadeira exploradora do seu país. Aliás até o faz porque sente que é uma terapia.

Começa por "casa", ou seja, pela margem sul. O casal vive na margem sul e ela conta-nos: “eu e o Gonçalo somos da margem sul e todas as pessoas que são da margem sul devem conhecer o famoso Palácio Rei do Lixo. Encontrar o caminho até lá é que foi uma complicação, deve haver um caminho mais fácil, mas nós fomos pelo mais longo. E nesse dia eu não estava nada bem. Eu sou uma doente crónica, tenho esclerose múltipla então nesse dia estava com um 'pequeno surto', não tinha força nas pernas. Eu andava, mas não sentia as pernas. Muitas pessoas dizem que sou uma força da natureza por fazer o que faço. Isto para mim é uma terapia.”

Sobre este sítio, então, apesar do caminho sinuoso, ele já tem sido escrutinado pela marca socio-histórica que deixou no país: durante décadas o lixo de Lisboa foi colocado neste edifício majestoso. E tornou-se uma espécie de lixão onde viveu quem foi apelidado de ‘rei do lixo’. Mas este rei enriqueceu à conta das fragatas que vinham carregadas de artigos putrefactos da margem norte, Lisboa. Esse lixo enchia o dito palácio. Toda a história envolvente de ambição do então dono deste ‘palácio (não o é, mas parece um) confere ao espaço a própria vontade de o beliscar para ver se é de verdade. Um lugar que virou abandonado, com menos lixo, mas muitos segredos por contar.

Lugares abandonados em Portugal
Palácio do Rei do Lixo créditos: DR

Por outro lado, gostei muito de ouvir o otimismo da Vivien e poder partilhar o mesmo com os leitores, exploradores e viajantes. Viajar é terapia, seja qual for o destino. Mas explorar dentro do conceito urbex não é para todos. Identificam e mapeiam lugares abandonados, o que exige um real planeamento, tempo e algum dispêndio de dinheiro para viagens mais longas. Sempre com lanternas, câmaras e, neste caso, máscaras. Este casal usa sempre máscaras durante a exploração. O que torna o cenário ainda mais místico.

Portugal está repleto de lugares abandonados que merecem uma visita. Embora seja uma tristeza estarem abandonados pelas mais variadas razões (problemas na divisão de heranças; espaços propensos a atividades meliantes, etc). Sendo explorador urbex, nem a Vivien, nem o Gonçalo (nem ninguém da equipa de exploradores) podem revelar a localização concreta dos espaços. Para evitar visitas desavindas, curiosos intrépidos e vandalismo. Mas, desta vez, a cortina abriu-se um pouco mais.

Além do Palácio do Rei do Lixo, pedi uma lista para visitas urbex 2023, como se fosse um puzzle (jogue quem adivinhar). Os lugares de hoje são mais conhecidos e poderão tentar a exploração, mas falem com quem é expert. E eles, assim, reportaram:

“Prisão abandonada (…) bastante conhecida neste mundo de lugares de abandonados. Nesse dia fomos com um grupo que fazem lives para encontrar entidades [espíritos ou espetros paranormais] nos lugares abandonados. E encontrámos! Eu (Vivien) consegui filmar isso, está nos meus destaques do Instagram da prisão abandonada.

Barcos Mitrena: estes barcos também são muito conhecidos. Antigamente faziam a travessia para Tróia. A primeira vez que lá fomos ainda estávamos em pandemia, mas já podíamos circular na rua, mas ainda andávamos de máscara (…). Voltamos lá para tirar melhores fotos [agora].

Comboios no Barreiro: da primeira vez que fomos explorar esses comboios estavam completamente fechados, com as portas seladas. Só deu para tirar fotos cá fora. Na segunda vez já encontrámos algumas portas arrombadas e deu para ver o seu interior com muita coisa lá dentro. Desde das mesas, as cadeiras, algumas cabines ainda tinham alguns colchões.

Quinta de eventos: a exploração deste lugar foi engraçada porque ao sairmos fomos abordados por um pastor que lá estava. Perguntou-nos o que estávamos a fazer e explicámos-lhe o que fazíamos e ele percebeu e não levou a mal. Contou nos que a quinta estava à venda e que infelizmente já houve lá vários furtos.”

Acautelar a localização exata de certos locais é precisamente para evitar tais furtos e os arrombamentos. É importante preparar este tipo de viagens e visitas, mas não se preparam os sustos. Por isso, quem é fã, tem aqui o "ídolo de viagens" dentro de Portugal. Quem gosta de ler estes artigos como um thriller, sem sair de casa, fique atento ou visitem as páginas do casal, pois têm muito mais para ver.