Fotografia por Vivien Afonso
O tópico está relacionado com casas abandonadas e que foram visitadas e fotografadas por exploradores urbex (Vivien Afonso, Gonçalo Rodrigues e Sérgio Alcântara). Em Portugal, há muitas casas completamente deixadas ao abandono, mas que, por si só, são uma viagem em cada divisão e cada objeto. Tudo se resume a uma viagem no tempo e a uma quietude única.
A Vivien e o Gonçalo têm fotos de uma casa que me chamou particular atenção. Então perguntei que casa era aquela.
“A casa dos Vieira foi uma das casas que eu mais queria explorar, é uma casa completamente parada no tempo. Todas as divisões permanecem intactas. Infelizmente já com alguns sinais de furto. As casas com recheio é o que nos encantam mais (a mim e ao Gonçalo). Cada casa conta a sua história.”
Curiosamente, sobre casas paradas ou suspensas no tempo, o Sérgio Alcântara também assim me conta:
“Sempre me fascinaram os locais parados no tempo. Casas sobretudo. Adoro entrar numa casa onde parece que os habitantes saíram sem saber se voltavam... A fotografia surgiu primeiro. Depois vieram os textos ficcionados com base no que sentia nesses locais.”
Já leram as legendas das imagens do Sérgio, no IG e no seu Facebook? Não podem perder essa viagem. Quando volto a observar as casas do Sérgio, noto que há muitos objetos pessoais e outros religiosos. Há mesmo um cunho religioso que empodera o espaço e torna quase fatídico. Pergunto-me se eles fazem estas explorações de dia ou de noite (decerto a sensação do viajante é colhida de outra forma).
Se pudessem escolher um tema secreto, sem obstáculos na viagem, o que gostariam de visitar e fotografar durante 6 dias?
A Vivien preferiria extrapolar fronteiras, pois já têm uma experiência ‘secreta’ no estrangeiro e que os deixou fascinados. Já o Sérgio refere que gostava de focar as casas dadas as sensações acumuladas dentro delas por décadas.
Perguntei ao Sérgio se há algum tipo de 'linguagem' ou gíria com a qual apenas a 'equipa' de exploradores se identifica.
“Há grupos restritos que partilham locais. Com base na confiança. Porque há locais que acabam por se tornar públicos e, com isso, são vandalizados. Isso é o que menos se pretende. Tenho pessoas conhecidas que me perguntam como vou a certos locais e não trago este ou aquele objeto... Respondo sempre da mesma forma. Se todos os que lá vão trouxerem algo, em pouco tempo deixa de ter interesse...”
Quando fotografa, Sérgio, o que prefere focar nestes espaços e que ângulos?
Anotei sobretudo a palavra ‘alma’ nesta resposta: “Procuro enquadramentos dos espaços, algum jogo de luz e sombra se possível e sobretudo que as fotos captem a alma daquela divisão ou daquele objeto. Nem sempre é fácil.”
Fotografias que podem 'dar um livro'?
O Sérgio aqui toma a palavra: “O interesse por fotografar locais abandonados já existe faz muito tempo... Por piada escrevi sobre um conto sobre um local e teve bastante aceitação. Comecei a escrever assiduamente sobre alguns locais que me inspiravam. Isso chamou a atenção de uma editora que viu no que escrevia alguma qualidade e desafiou-me para editar um livro. Espero que saia em breve. Não por razões financeiras, mas por satisfação pessoal. “.
Este livro, decerto, será uma viagem adicional e que nos fará entrar numa máquina do tempo.
Os posts do Sérgio têm descrições muito cuidadas e uma linguagem muito própria (e lírica), como reagem os seguidores e viajantes?
“Quem me segue gosta do que escrevo. Dizem que os sei transportar para os cenários e fazer sentir o que descrevo, odores, sabores, sensações... Isso é muito gratificante para quem escreve. Para além disso, sempre gostei de escrever, para consumo próprio e como um exorcismo tendo em conta o que sinto e o que observo...”
E, afinal, o que é fazer urbex e conselhos a novatos?
A Vivien, o Gonçalo e o Sérgio definem o Urbex como a exploração de lugares abandonados “ou sem utilização prolongada”. Quanto a conselhos, os três concordam que as pessoas que queiram enveredar por esta descoberta, então devem ter respeito pelos espaços e pelas memórias das pessoas que ali habitaram. E o Sérgio ainda reitera: “Respeitem os locais. Por mais destruídos que estejam, por mais mexidos que os encontrem... Respeito."
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