Dentro de uma muralha de madeira e duas pequenas torres, que ladeiam um portão, Francisco e Susana Esteves construíram uma aldeia medieval.
Entre as árvores e a relva há edificações em madeira que acolhem as oficinas do carpinteiro ou do ferreiro, há um campo de areia para os torneios, há jogos e armamento, como as antigas catapultas, uma delas com sete metros de altura.
O “Covil do Lobo” estende-se ao longo de um hectare, numa das entradas na cidade de Valpaços, distrito de Vila Real.
São recriadores históricos ou animadores turísticos e, por ano, costumavam participar em cerca de 60 eventos, desde a viagem medieval de Santa Maria da Feira, à Braga Romana e várias feiras medievais do país e até em Espanha. Vestem-se à moda antiga e recriam os ofícios, os usos e costumes de antigamente.
“Há um ano veio o ‘bichinho’ [SARS-CoV-2, que provoca a covid-19] e o ‘bichinho’ manda e, por causa disso, tivemos que reinventar o nosso trabalho”, afirmou Francisco Esteves, 44 anos, à agência Lusa.
Por causa da pandemia de covid-19, as feiras e certames foram cancelados e, neste momento, ainda não há perspetivas de retoma.
O casal já tinha a ideia do parque a germinar há uns tempos, mas por causa do volume de trabalho, que se prolongava de março a janeiro, foi sendo sempre adiada.
A covid-19 foi o empurrão para o projeto. “Tivemos que nos reinventar para continuarmos a fazer aquilo que gostamos de fazer”, salientou.
Susana Esteves, 42 anos, contou que se recusaram a ficar parados, que investiram as economias que tinham e, segundo explicou, a ideia foi “criar um espaço físico para trazer as pessoas”.
“O que fazíamos nas feiras, fazemos agora aqui, num espaço seguro e ao ar livre”, salientou.
A responsável disse querer levar as pessoas “numa viagem ao passado” para que também conheçam um pouco a história dos povos que construíram Portugal.
A aldeia abriu portas em abril, funciona aos fins de semana e durante a semana com marcação e, nesta fase, o conteúdo é mais expositivo.
“Estamos, neste momento, a 10% do que vai ser o parque”, salientou Francisco Esteves.
O objetivo é aumentar as atividades, realizar espetáculos e também proporcionar, segundo Susana Esteves, o “dia experiência”, em que os visitantes podem vestir as roupas antigas e trabalhar como ferreiro ou carpinteiro. Mais tarde, vão ter também oficinas de tecelagem, olaria, de corda e de curtidor de couro.
A agência Lusa acompanhou a visita de um grupo de 14 utentes da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental de Valpaços (APPACDM) de Valpaços.
Francisco Esteves está vestido à época medieval, abre os portões e guia os visitantes, começando pela época dos povos galaicos, passando pelos romanos e pelo período medieval, mostra a exposição de armas, elmos, armaduras, escudos e, quem quiser, pode tocar e até experimentar.
Pelo espaço passeiam duas cabras anãs e, em alguns dias, estão também lá os dois cães checos, parecidos com lobos e que derem o nome ao parque.
A utente da APPACDM Patrícia disse que gostou muito dos jogos, porque “são divertidos”, e que este "é um bom sítio para estar”. A sua colega Stéphanie gostou do elmo, do espaço verde e também dos jogos.
Lucie Mendes, colaboradora da APPACDM, referiu que a ida ao “Covil do Lobo” proporcionou o contacto com a natureza e permitiu sair da rotina, tornando-se numa “boa experiência para todos”.
O responsável apontou o apoio da Câmara de Valpaços para a concretização do projeto e referiu que, como sócio-gerente da empresa, contou também com ajuda por parte do Estado.
O parque é uma das novas atrações turísticas de Valpaços, onde o município tem feito uma forte aposta no turismo de natureza, destacando-se a criação da Ecovia do Rabaçal, com 60 quilómetros de percursos e onde a subida da Via Ferrata tem destaque para os mais aventureiros.
Mas, neste município há ainda a praia fluvial do rabaçal, lagares de vinho cavados na rocha, o centro de observação de aves aquáticas e o centro hípico de Travancas.
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