O "delírio branco" do centro histórico
Antiga vila piscatória, a zona antiga de Olhão é hoje um labirinto de ruelas sinuosas, casas baixas e portas coloridas espraiado por dois bairros (Barreta a oeste e Bairro do Levante a este) até à Ria Formosa. Subir a um dos seus inúmeros terraços revela o que não se vê da rua. “É um delírio de branco”, escreveu Raúl Brandão, deslumbrado com o efeito do casario branco, exposto ao sol do meio-dia, contra o azul-cobalto do céu.
Aqui, as casas não abrem para pátios ou pequenos jardins nas traseiras, mas para o céu. A açoteia na cobertura da típica casa algarvia, antes usada para secar frutas e peixe, é agora sinal de status e característica diferenciadora no Airbnb. Nivelados mais ou menos à mesma altura, estes terraços criam a impressão de uma cidade rasgada pelos telhados e transformada num grande terraço comunitário, onde todos podem apanhar vislumbres dos convívios e banhos de sol uns dos outros.
As açoteias dominam de tal forma o horizonte que Olhão chegou a ser descrita como a “Vila Cubista”. O epíteto terá partido da semelhança identificada com algumas obras de Picasso pintadas em Horta de Sant Joan, uma localidade espanhola cujos contornos geométricos inspiraram o pintor a fundar o cubismo.
Mercado de Olhão
Os edifícios gémeos do mercado municipal de Olhão tornaram-se um ícone da cidade e o seu maior ponto de encontro. Está no centro da gastronomia local, que lá se abastece e o rodeia com uma grande diversidade de restaurantes, pastelarias e esplanadas.
É um dos maiores e mais animados mercados do Algarve, especialmente nas manhãs de sábado, em que os pequenos produtores do concelho vendem as suas colheitas ao ar livre.
Mesmo ao lado do mercado, vale a pena uma pausa para descanso no recém-renovado Jardim Patrão Joaquim Lopes, dedicado a um dos heróis locais. Dali podem acompanhar o curioso vaivém das muitas cegonhas que nidificam na cidade e voam até à ria em busca de alimento e material para os seus ninhos.
Quinta de Marim
A uma curta caminhada de 20 minutos do centro da cidade, fica a Quinta de Marim, onde funciona a sede do Parque Natural da Ria Formosa e é possível percorrer um pequeno percurso pedestre que proporciona uma amostra das paisagens e espécies que podemos encontrar ao longo dos 60km desta área protegida.
A Ria Formosa está separada do mar por um cordão de ilhas-barreira e é considerada a mais importante zona húmida do sul de Portugal. Com 17 mil hectares, o seu parque natural apresenta diversos habitats, entre dunas, sapais, vasas, áreas de pinhal e zonas agrícolas. Nos meses mais frios, recebe uma grande diversidade e quantidade de aves aquáticas migradoras.
O trilho circular da Quinta do Marim tem uma extensão de 3km e começa na recepção, onde pode ser adquirido o bilhete (2,80€), acompanhado de um pequeno mapa da zona. Fiquem especialmente atentos aos charnecos, uma ave da família dos corvídeos que pode ser observada ali ao longo do ano e se destaca pelo tom azul da cauda e asas.
O restaurante a que fomos e voltámos
Na esquina de uma tranquila praceta do Bairro do Levante, encontramos o Vai e Volta, um dos restaurantes mais recomendados de Olhão.
O conceito é simples e tira partido da proximidade da maior lota do Algarve: um restaurante que serve apenas rodízio de peixe grelhado (e é mesmo apenas isso, lembra o aviso à entrada: “não servimos outros pratos!”).
O rodízio convida a experimentar uma grande variedade de peixes frescos e típicos da costa algarvia, servidos com saborosos acompanhamentos e a boa-disposição do casal proprietário: “Com sorte, apanha-se boa disposição e brincadeiras, e com algum azar apanha-se uma pequena discussão. Tal como comer em casa!”, lê-se no site do restaurante, que reflete bem o seu ambiente descontraído.
O restaurante só serve almoços e não aceita reservas (nem multibanco), por isso convém chegar cedo.
Acima da açoteia, só o rooftop
Uma forma de apreciar de cima o aglomerado de açoteias que domina a parte antiga da cidade passa por subir ao topo do Hotel Pure Formosa, um dos mais modernos e altos de Olhão.
O bar no rooftop está aberto ao público entre as 12h e as 22h.
Como chegar (sem carro)
O SAPO Viagens viajou até à "cidade cubista" a partir de Lisboa num comboio Alfa Pendular da CP. A viagem dura sensivelmente 3h e já inclui o transbordo que é preciso fazer em Faro para um comboio regional. O trajeto até Olhão leva menos de 5 minutos e parece demasiado curto para a vista que proporciona da Ria Formosa. Chegados à estação de comboios de Olhão, ficamos a 10 minutos a pé do centro histórico.
Comentários