A cidade piscatória, que já foi a capital nacional da indústria conserveira, viu nascer há seis anos o seu primeiro hotel de cinco estrelas - edificado num terreno baldio que tinha sido ocupado por uma lixeira -, um cartão-de-visita que já levou milhares de turistas a descobrirem Olhão.
A par do novo hotel tem-se registado, nos últimos anos, uma nova vaga de residentes, sobretudo reformados europeus, que estão a comprar casas na baixa de Olhão e a restaurá-las, uma tendência que está a agitar a vida económica da cidade, permitindo a abertura de novos negócios, nomeadamente na área da restauração e dos passeios de barco.
Reconhecendo que a abertura do hotel é um "marco importante" no desenvolvimento da cidade, porque permitiu, de certa forma, publicitá-la, o presidente da Câmara de Olhão considera, contudo, que a dinâmica de procura nos bairros históricos não tem só a ver com o hotel, mas também com o facto de aquela cidade não ter ficado descaracterizada, como outros destinos no Algarve.
"O facto de termos das melhores praias do Algarve e do país, mas também das mais distantes e inacessíveis [na sua maioria, apenas acessíveis por mar], fez com que Olhão não tivesse despontado para o turismo, como o resto do Algarve, há 40 anos", justifica António Pina, em declarações à agência Lusa.
A abertura do hotel, por seu turno, espoletou a abertura de pequenas unidades de alojamento local, que triplicaram a oferta de camas no concelho, nos últimos quatro anos, estando previstas mais duas unidades hoteleiras para o centro da cidade, acrescenta.
Segundo o autarca, numa primeira fase, foram os ingleses a comprarem casas em Olhão, numa segunda fase começaram a chegar cidadãos franceses, para fugirem às elevadas cargas fiscais no seu país, tendo começado a aparecer, nos últimos meses, muitos reformados italianos, o que já levou a que um operador imobiliário transalpino se instalasse na cidade.
"A grande maioria está a comprar casas que estavam abandonadas e a requalificá-las, o que significa que os bairros históricos estão a ser novamente povoados", refere António Pina, observando que há dez anos "ninguém queria ir viver para esses bairros".
Nascido em Olhão há 55 anos, mas atualmente a viver entre Lisboa - onde trabalha no setor da auditoria financeira - e o Algarve, Manuel Brito vê com bons olhos a nova vaga de residentes na cidade, mas receia que esse fenómeno traga consigo outro problema: a saída da população local dos bairros históricos.
"Não sei se os organismos públicos têm noção do risco que se está a correr, porque o desafio agora é o de manter os bairros históricos com a dinâmica tradicional, para que esses locais não percam a alma", considera o também proprietário de uma editora algarvia, criada há um ano em Olhão.
O primeiro livro da sua editora foi justamente sobre a cidade de Olhão e a evolução urbana que sofreu entre o século XVIII e as primeiras décadas do século XX, uma obra da investigadora Sandra Romba, que adotou Olhão como cidade para viver e na qual trabalha, como funcionária no museu municipal.
A investigadora refere que o "boom" de estrangeiros que se regista desde há meia dúzia de anos veio alterar a dinâmica da cidade, onde agora se veem mais turistas, o que levou também à abertura de novos negócios e estabelecimentos comerciais, mexendo também com o mercado imobiliário, não só de compra e venda, como de arrendamento.
Na Barreta - o bairro mais antigo da cidade, que começou por ser um aglomerado de cabanas para os pescadores oriundos de Faro -, os estrangeiros que estão a restaurar as casas antigas têm tido a preocupação de manter a traça e arquitetura originais.
"As casas de Olhão têm a mesma base que a típica casa algarvia, mas, tendo em conta a ocupação do espaço, acabaram por crescer para cima, em vez de crescerem para os lados", o que valeu a Olhão o título de "cidade cubista", já que, vistas de cima, as casas assemelham-se "a uma sobreposição de cubos", conclui a investigadora.
Comentários