Dormir: sempre na mesma casa, na mesma cama, à mesma hora, com a mesma almofada, o mesmo cheiro à volta, a mesma rotina que antecede a hora de deitar e prepara o sono.
[É normal, é certo, é seguro, é estabilidade – Dizem].
Mas nós não estamos em casa, não trouxemos camas nem almofadas, por esta altura já conhecemos perto de umas 50: casas; camas; almofadas. Já trocámos tantas vezes as horas ao relógio – ora adiantando-as, ora atrasando-as. E os cheiros reinventam-se ao mesmo ritmo com que reinventamos e recriamos – todos os dias – a hora de deitar.
[É maravilhoso, é (tão) certo (em nós), é curioso, é crescimento – Dizemos].
Pode não ser o normal, mas isso já nós sabíamos de cor, antes de partirmos à conquista do mundo. Pode não ser o certo (para os outros), mas no dia em que seguirmos o ‘certo’ dos outros no lugar do nosso teremos deixado de ter o coração por bússola. Pode não ser seguro e estável, mas o que são segurança e estabilidade? Há quem as defina pelo tecto firme, pelo bolso cheio, nós acreditamos num outro tipo de estabilidade, essa que não é feita de cimento nem cabe em bolso algum: a estabilidade emocional – e essa trabalha-se no ouvir, no trazer pela mão, pelo colo, no beijo e no abraço, no ‘estarei sempre aqui’ - nisso sim terá de haver certeza, segurança, estabilidade.
Nesta noite a nossa casa, com as nossas camas lá dentro, percorreria mais de 500km, e acordaríamos já a norte da Tailândia, em Chiang Mai. A Mia não esconde o entusiasmo de dormir dentro do Thomas (a ‘locomotiva engraçada’, como diz a música daquele que na altura era o seu desenho animado preferido) e ficou encantada ao vê-lo na linha nº 5, lado a lado com os seus amigos comboios. Marcámos ainda melhor o momento, com um livrinho (do Thomas) para colorir com lápis de cera, afinal seriam mais de 12 horas de viagem e nem todas se passariam a dormir.
Boa noite. Vemo-nos em Chiang Mai.
Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.
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