Uma árvore com um tronco que rasga o chão, ali, no meio da cidade. Um passo e tropeçamos facilmente em templos, mais templos e mais templos (são centenas), cujo o único preço de entrada é o preto que se acumula nos pés descalços: estamos em Chiang Mai.
– Onde estamos, papázitos?
– Em Chiang Mai.
– Ciangmaiee, o que é?
– Era uma vez, no meio das montanhas verdes, um cidade onde crescia o medo pelos ataques de outros povos (birmaneses e mongóis). Então o rei, para deixar de sentir medo e proteger os seus, mandou construir uma muralha com a sua cidade e o seu povo lá dentro, ali, na margem do rio Ping [estávamos em 1296].
Chiang Mai, a Cidade Nova ou a Rosa do Norte, hoje é a segunda maior cidade do país e o centro cultural da Tailândia. Chegámos de comboio, como aqui vos contámos, mas poderíamos ter chegado de avião ou autocarro, os meios multiplicaram-se ao mesmo ritmo dos curiosos por esta cidade a Norte de Bangkok.
Chiang Mai é, actualmente, considerada a capital dos nômades digitais, apresentando como atractivos, entre outros: o seu baixo custo de vida, os muitos (e bons) cafés, os vários espaços de co-working, a excelente ligação à internet, o que atrai, todos os anos novos nómadas digitais, ou pelo menos aspirantes a.
Caminhámos – lado-a-lado – com as muralhas a lembrar-nos do medo (dos outros e dos outros tempos), a lembrar-nos a segurança (que ergueram em torno da cidade). Dentro da muralha: casas, restaurantes, hotéis, lojas, templos a perder de vista, feiras de roupa, de artesanato. Parece haver um jogo de equilíbrio entre cidade grande e vila pacata, onde todos os vizinhos se conhecem e todas as caras novas são facilmente identificadas. Descontracção, boa comida, preços baixos, é um bom escape ao turbilhão acelerado de Bangkok.
Uma, duas, três… são dezenas, centenas de lanternas espelhadas: pelo chão, junto aos templos, pelas árvores, pelas ruas. Branco, rosa, amarelo, laranja, vermelho, verde… são de todas as cores.
[A Mia quer correr com elas pelas mãos – Corremos ].
São ainda vestígios do Loy Krathong ou Yi Peng como se chama aqui, nesta cidade entre montanhas – a norte. Juntam-se os céus às águas e aos krathongs os Khom Loi (lanternas feitas de papel) e mesmo vendo-as no chão a vontade é fechar os olhos e imaginá-las ainda lá em cima, no céu, a afastar o lado mau das mãos que os lançam.
[E as mãos dela pegam-nas, como se lhes cuidassem dos males que guardam, com um simples sorriso].
Pelo caminho a Mia encontrou o pequeno homem-aranha, escolheu o jantar de forma corajosa – com o indicador na lista e foi amamentada num táxi partilhado com locais. Estreitou, ainda mais, a sua relação especial com os meninos de cor-de-laranja, e chegou ao final destes dias com os pés mais pretos, tão pretos, mas feliz por ter cabido inteira no centro de uma flor.
Foi em Chiang Mai que decidimos prolongar o visto de turismo para continuarmos a descobrir esta Tailândia do norte.
Este artigo foi originalmente publicado em Menina Mundo.
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