Não tinha planeado uma visita a Amarapura e à ponte, mas felizmente conheci um outro viajante que lá ia e portanto fomos juntos. Ele tinha um amigo birmanês, a trabalhar muito perto do nosso hostel, que nos guiou até ao sítio onde poderíamos apanhar um autocarro para a ponte. No entanto, não estava à espera que o conceito deles de autocarro fosse tão diferente do nosso. Era uma carrinha de traseira aberta com duas tábuas de madeira encostadas a cada lado que fazem os assentos. O autocarro já está cheio, portanto a solução foi ir para o topo. A mim, por ser mulher, não me queriam deixar ir no topo, mas isto porque supostamente ir no topo é o pior lugar. Já tinha homens a cederem-me o lugar na parte de baixo quando não o permiti. Ora para mim, ir no topo era mesmo o que eu queria.

Após muita insistência, deixaram-me subir as escadas para o topo do autocarro e lá fomos nós nesta viagem de meia hora por 20 cêntimos. Adorei esta viagem de autocarro! Como já se aproximava a hora do pôr-do-sol, ir no topo não era desconfortante por causa do calor, muito pelo contrário. A brisa que nos aconchega na viagem é muito reconfortante, só é preciso ter cuidado com os ramos das árvores e estar sempre atento a eles, caso contrário teremos uma surpresa nada agradável. Durante a viagem noto que somos vítimas de olhares risonhos por parte dos birmaneses na estrada que se cruzam connosco. Penso que não será suposto os turistas se sentarem nesta parte do autocarro. Eu pelo menos não vi nenhum fazê-lo em todo o tempo que estive no Myanmar.

Ninguém fala inglês no autocarro, mas eles sabem para onde nos dirigimos e avisam-nos quando temos de sair. Ao descermos as escadas notamos as risadas que as senhoras birmanesas davam assim que se deparavam com forasteiros a descer as escadas de acesso ao chão.

Ainda temos de andar um bom pedaço até alcançarmos a ponte mas é um caminho que se faz bem. Vamos perguntando na rua pela direção correta e chegamos ao local com pouca sorte. Chegamos tarde e estava tão nublado que nem o sol se via. Esse era o propósito maior da visita: ver o pôr-do-sol na ponte. Infelizmente não aconteceu mas ainda assim foi um agradável sítio para explorar. A ponte estava lotada tanto de birmaneses como de turistas, mas como a hora do pôr-do-sol já lá ia, cada vez fomos tendo menos companheiros, e quando de lá saímos éramos quase os únicos a circular na ponte. Esta ponte é super fotogénica, daí termos visto uma sessão fotográfica de casamento perto da emblemática árvore da ponte U-Bein.

A vista é linda e é possível um passeio de barco. Na altura do ano em que visitei a água estava muito baixa e acredito que o local seja ainda mais bonito com o lago cheio. Esta é a ponte de madeira de teca mais comprida e mais velha do mundo com 1,2 km de extensão que fizemos em ambas as direções. A ponte foi construída perto do ano de 1850, o que faz com que algumas estacas já tenham sido substituídas e que tenha agora alguns apoios em cimento, se não era demasiado assustadora a travessia.

U-Bein
U-Bein créditos: While You Stay Home

Para voltarmos a Mandalay fomos ter ao mesmo sítio onde o autocarro nos deixou. A verdade é que só tínhamos apanhado aquele autocarro com indicações de um birmanês, caso contrário não saberíamos onde o encontrar. Não há sinalizações de paragens, os autocarros não têm indicações, portanto não há como saber que autocarro apanhar. Tivemos de pedir ajuda a um senhor muito simpático que tinha um estabelecimento comercial em frente. Ele ficou lá connosco à espera de um autocarro cerca de 10 a 15 minutos. Já era plena noite há bastante tempo e nenhum autocarro passava.

Foi aí que ele disse que nos levava à cidade porque a casa dele também era em Mandalay. Não vejo nenhum carro estacionado e pergunto-me como nos levará pois éramos 3. Sermos 3 não é entrave nenhum a irmos de mota. No Sudeste asiático é normal ver os locais aos 3, 4, e até 5 numa única mota, não estava era à espera de andar eu também. Aceitamos a boleia e lá fomos nós os 3 durante meia hora de viagem naquela mota. Foi super divertido e nem por um momento me senti em perigo ou que algo de mal ia acontecer. Estava demasiado entusiasmada e mais preocupada em rir-me da situação. Este senhor birmanês não quis aceitar nenhum pagamento pela viagem, que senhor tão simpático! Tal como todos os birmaneses com que me cruzei.

Por Paula Carvalho, autora do blogue While You Stay Home