Ir ao Japão e não explorar (e não ficar hospedado) em Quioto é um lapso mental. Não obstante de ter sido a capital antiga do Império, é a região mais bonita do Japão. Encontra uma variedade de templos, florestas e de gastronomia em cada rua de Quioto. Sem luzes ofuscantes e o Pikachu. Se gostar de quimonos, então é só em Quioto que o deve comprar. Eu comprei vários e de diferentes feitios. O meu noivo também. Mas muitos são unissexo. Mitos já a erradicar: o quimono não tem de ser comprido ou larguíssimo como o das gueixas. Depois, há imensos tipos e também muitas lojas. Sabe qual a melhor e mais económica (com os mais bonitos!)? Então prepare-se e anote a morada: Bishamoncho, Higashiyama Ward, Kyoto (Quioto, em Português). É na região Gión.

De facto, é só esta que deve reter, pois eu percorri várias, com muito prazer ao dedilhar os tecidos e os relevos, mas com a mesma qualidade e muito mais estilo é nessa loja vintage que vai encontrar o “âmbar” dos quimonos. E não se confunda com as lojas, na mesma zona, que se intitulam ‘vintage’ – esta (acima) é a única vintage. Ou, pelo menos, a vintage económica. Refiro-me a preços desde 6 euros. Para quimonos especiais, ora veja alguns dos meus no meu Instagram (@sandra___figueiredo).

Aqui encontra ainda algo que acho fundamental trazer para o Ocidente: literatura mangá. Estou a falar da banda-desenhada que sempre nos cativou, aliás intemporal. Nesta loja também encontra e por um euro! Estes livros menos avultados são os do Dragon Ball, por exemplo. Trouxe muito mais coisas, mas acho que o essencial está reportado aqui.

Sobre mitos e ditos, ainda: atenção ao vestir o quimono. A parte esquerda do fato deve sobrepor-se à direita quando vestimos e colocamos o cinto (não precisa trazer os cintos das gueixas, aplique um lenço e vai brilhar aqui no Ocidente). Quem me alertou que eu estava com a indumentária erradamente vestida foi uma amorosa senhora japonesa (todos ali são amorosos) que me informou em jeito de alerta, pois me segredou literalmente ao ouvido: “Só um reparo “miss”, não pode vestir assim o quimono. Significa que está morta”. Eu, prontamente, renasci ao compor o quimono no meu coração. Faz todo o sentido e duvido que muitos saibam disto.

Morta por um dia no Japão: o caso do quimono de Quioto
créditos: Sandra Figueiredo

Outro mito: gueixa sem queixa! As gueixas são as mais instruídas que conheci, a começar pelo domínio de inglês e pela forma carinhosa de resposta à nossa abordagem. Uma educação em cada gesto, tudo parecendo resultado de um ensaio até doloroso. Mas o sorriso é um primor não aprendido. Depois, as gueixas não são prostitutas, bem… quem quiser pode sê-lo, mas para isso há outros nomes e em todo o mundo. Elas são mulheres que durante cerca de cinco anos aprendem as artes de dançar, de cozinhar, de saber vestir e de estudar. Nesse tempo de aprendizes, as crianças são “maiko”. Depois tornam-se “geiko”, vulgo "gueixas".

Ah, quando abordar as gueixas tenha cuidado em não o fazer debaixo do sol se elas não estiverem com os chapéus que as abrigam dos raios solares. Elas gentilmente vão pedir que se aproxime da sombra. Não se bronzeiam nunca, estão tapadas totalmente, sobretudo nos pés e mãos.

Em Quioto, senti que vivia a versão vintage corrigida do Diário de uma Gueixa.

Arigatô.