Viagens Soltas, crónicas de Rui Daniel Silva
Com um calor insuportável e abafado, decidimos parar numa pequena tasca para beber algo. Imediatamente somos recebidos com imensos sorrisos pelos nativos que estão a almoçar naquela tasca. Apesar de não percebermos minimamente a língua, uma criança mete conversa e passados alguns minutos volta toda orgulhosa com um caderno, para nos mostrar os trabalhos de casa.
De volta a Yogyakarta, partimos novamente num transporte público para Prambanan. As paisagens são simplesmente magníficas. A constante presença de arrozais, riachos e montanhas fazem-nos companhia até ao nosso próximo destino.
Com alguma fome, decidimos almoçar antes de visitar os templos. Quarenta cêntimos foi quanto custou o nosso almoço. Uma simples sopa, tipo canja de galinha, mas sem dúvida a um preço irrisório, como em toda a Indonésia. O único problema era, por vezes, a comida ser demasiado picante.
Uma breve descrição de uma simples refeição nossa numa tasca local seria desta forma: quatro lusos a lutarem contra o picante, enquanto os nativos se deliciavam com a comida. Por vezes aflitos, sem qualquer tipo de exagero, parecíamos uns autênticos bombeiros onde, após cada garfada os refrescos entravam em ação, como se fosse um extintor para não pegarmos fogo.
Caloiros na arte de saborear gastronomia neste arquipélago, a lição estava estudada. Nas próximas vezes iríamos pedir sem picante. A comida vinha para a mesa e depois da primeira garfada as nossas cores mudavam de imediato. Não adiantava de nada pedirmos sem picante. Mas vamos ao que interessa.
O templo de Prambanan é um conjunto de 240 templos e é o maior centro religioso hindu dedicado ao deus Shiva na Indonésia. Construído no século X, sofreu alguns danos e derrocadas devido à forte atividade sísmica e erupções vulcânicas. Ainda hoje em dia é bem visível esta destruição, com imensas pedras espalhadas ao longo de alguns templos.
Apesar de tudo, as suas ruínas não tiram qualquer tipo de encanto e beleza aos templos. Prambanan é um dos templos mais majestosos do Sudeste Asiático e por vezes fazia-me lembrar os famosos templos de Angkor Wat no Cambodja, devido às suas semelhanças.
Os três principais santuários são dedicados aos três deuses: Brahma (o Criador), Vishnu (o Guardião) e Shiva (o Destruidor). Mas sem dúvida que o mais importante e majestoso templo é o de Shiva, com os seus imponentes 47 metros de altura.
Após esta visita, decidimos voltar de táxi para Yogyakarta. Como tínhamos de nos deslocar a um balcão da AirAsia para trocar um voo, achámos que seria melhor ir imediatamente com algum taxista que conhecesse o local, em vez de andarmos perdidos.
Perguntamos ao taxista se sabia onde ficava e ele respondeu que sim. No carro, o nativo pegou no telemóvel e falou bem alto para o aparelho dizendo: “AirAsia”. Tinha uma aplicação de um GPS, o que iria tornar esta viagem ainda mais fácil.
Já de partida, as gargalhadas e a boa disposição continuavam. No meio de todo aquele trânsito caótico, ele mudava de direção de um lado para outro sem usar os piscas do carro. Ou seja, na Indonésia o pisca é um elemento supérfluo no automóvel. Está ali para nada. Ou melhor, até está. É simplesmente uma questão de estética e se formos a ver, até fica bem no carro, dando o seu ar de graça.
Mais importante do que o pisca era, sem dúvida, a buzina, que a cada instante entrava em ação e na maioria das vezes sem percebermos porquê. Com um uso constante e abusivo da buzina, por vezes, parecia que tínhamos acabado de sair de um casamento.
Finalmente em Yogyakarta, o taxista para o carro, dizendo que tínhamos chegado ao destino. Olhávamos para um lado e para outro e não vimos qualquer sinal da AirAsia. O nativo pegava no telemóvel e lá estava ele novamente a dizer “ AirAsia, AirAsia”. Perdido e sem saber o que fazer, o homem já transpirava, pegando em lenços e passando-os pela testa.
Após algum tempo, percebemos que não iríamos a lado nenhum e saímos do táxi ao pé da nossa pousada. Perdidos ou não, a verdade é que acabámos por encontrar mais facilmente a AirAsia sozinhos do que com o taxista.
Mas uma viagem é mesmo isto. É uma incógnita a cada passo, onde simplesmente aceitamos com algumas gargalhas e boa disposição o que cada destino nos pode proporcionar.
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