Quando embarquei nesta viagem de quase 4 meses pelo Sudeste Asiático, o único país que tinha receio de explorar sozinha era a Índia. Por todas as más ideias que, pelo menos em Portugal, se tem sobre o país, de que não é seguro e muito menos para mulheres: imaginem sozinhas. Fui chamada de maluca, alertada várias vezes para tudo o que de pior me poderia acontecer e claro que o tema violação também vinha sempre ao de cima devido às elevadas taxas que a Índia tem sobre este assunto.
É verdade que na Índia as mulheres não são muito valorizadas e elas próprias têm noção disso. Estudei bem sobre este assunto antes da partida. Vi muitos vídeos de testemunhas indianas sobre a insegurança que elas sentem nas ruas do próprio país, que se calhar não ajudaram a limpar esta imagem má. Estes preconceitos sobre o país fizeram-me ponderar muito se seria boa ideia visitar e ser o primeiro destino da minha primeira viagem sozinha. Decidi arriscar e tomar todos os cuidados para que tudo corresse bem: usar roupa adequada, ser apreensiva com comportamentos e não andar à noite, por exemplo.
Quando chego à Índia, realmente vejo uma taxa de 90% de homens nas ruas. O meu primeiro contacto com o país foi andar de metro no qual existem assentos reservados só para mulheres. Li que existem carruagens diferentes só para mulheres, mas não vi isso em nenhum dos comboios em que andei.
Em muitas das situações de aflição em que me vi envolvida, nada de concreto aconteceu, a não ser na minha cabeça que ia imaginando todos os cenários piores possíveis devido a estes preconceitos. Vi muitas mulheres a viajarem sozinhas, tantas como nunca teria imaginado.
Afinal a Índia não é assim tão assustadora como as pessoas pintam. Conheci pessoas muito simpáticas e o meu voluntariado permitiu-me ter um contacto com os indianos e a sua cultura, que penso nunca iria acontecer caso não o tivesse feito. Eles ensinaram-me muito sobre a Índia e fizeram-me aceitá-la como ela é e entendê-la a ponto de poder assimilar o quanto de maravilhoso tem este país que é tão diferente da nossa realidade. Se calhar o problema também reside aí. O diferente, por vezes, é assustador e causador de dúvida.
Não me arrependo um segundo de ter dado uma hipótese à Índia de se mostrar como é. Para mim, a Índia é um outro mundo dentro do nosso mundo que nem todos conseguem entender e interiorizar, daí achar que não é destino para todos os tipos de viajantes. É preciso ir com mente apta a abraçar o que vamos descobrindo. É claro que há facetas da vida indiana e dos próprios indianos que não gostei, ainda assim, o balanço é positivo.
Aconselho outras mulheres a irem sozinhas para a Índia pois a minha experiência, apesar de ter algumas peripécias, foi muito boa. Eu adorei conhecer o país e gostava de lá voltar para explorar novas cidades. A Índia é única e difícil, mas é um destino que te dá o que nenhum outro te pode proporcionar.
Por Paula Carvalho, autora do blogue While You Stay Home
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