Varanasi, Índia: a cidade fora do plano sobre a qual não sei muito mas na qual irei passar quatro dias. Mas que plano furado tão bom este. Fico muito feliz de o meu plano de cidades a visitar na Índia ter levado uma reviravolta nas primeiras horas no país, pois adorei esta cidade e foi a minha favorita depois de Agra e do meu voluntariado relacionado com o Taj Mahal.
Fui para Varanasi porque ficava a caminho de Calcutá e porque o senhor da agência me aconselhou.
Encontrar o meu hostel não foi pera doce, pois ficava mesmo perto dos Ghats (série de degraus que levam ao rio Sagrado Ganges), onde não circulam qualquer tipo de veículo. Sem GPS, nem qualquer tipo de orientação, demorei cerca de 30 minutos às voltas para o encontrar.
As ruas perto dos Ghats são tão estreitas e cheias de informação publicitária que fico fica tonta só de olhar para o lado. É demasiada informação para assimilar e não conseguia ver a sinalização do meu hostel no meio de tanto ruído visual. Já não comia há muitas horas pois a viagem de comboio que me trouxe à cidade atrasou cinco horas e estava cansada. Comecei a sentir-me tonta, por isso parei num café com internet para ver se conseguia decifrar onde era o hostel e até comer alguma coisa. Comer não era prioridade, só o fiz porque o corpo estava mesmo a acusar cansaço. A minha prioridade era encontrar o hostel que acabou por ser o meu top dois da viagem toda.
Realmente as pessoas que conheces em viagem são das coisas mais importantes para que gostes daquele sítio e queiras ficar mais um pouco. Conheci imensas pessoas neste hostel que já lá estavam há bem mais do que tinham programado, isto porque gostaram tanto da “vibe” do local que decidiram ficar por mais um pouco.
Os funcionários do hostel eram o máximo. Pessoas jovens, super simpáticas e acolhedoras. O hostel tinha um rooftop com vista para o Ganges e todos os dias a malta juntava-se ao final do dia para um “chai”- chá típico indiano- ao sabor do pôr-do-sol. A música é comercial tipicamente europeia. Vim aqui parar aconselhada por outros viajantes que eu tinha conhecido em Agra, e combinamos nos encontrar por aqui. O hostel tinha sessões de cinema na cave e cheguei a ver um filme todo em indiano mas que adorei: o Dangal.
Varanasi é uma cidade muito peculiar por ser banhada pelo Ganges, o rio sagrado que purifica os indianos que lá tomam banho. Tudo acontece neste rio, as pessoas tomam banho, os animais também; lava-se a roupa; bebe-se dessa água; atiram-se as cinzas dos mortos.
Todos os dias pilhas e pilhas de corpos chegam a Varanasi para serem cremados ao ar livre e atirados ao Ganges. Pelos vistos nem todas as famílias o fazem pois não conseguem “comprar” este serviço. Não cheira mal. Durante as cremações são colocadas ervas que não permitem maus cheiros no ar. Tinha curiosidade de ver ao certo o que se passava nestes locais, portanto um dia fui mais de perto assistir. Não se podem levar à mostra qualquer tipo de dispositivo que dê para tirar fotos. É desrespeitoso tirar fotos e expulsam-te do local se te virem a fazer algo que se assemelhe.
Vejo um corpo chegar embrulhado em cor de laranja e muitas flores por cima do cadáver. Os cadáveres são banhados no rio antes de serem cremados e, depois desse banho sagrado, esses ornamentos laranja desaparecem ficando o corpo coberto com um pano branco. Esse pano está molhado e a transparência que ele adquire em contacto com a água permite-me ver o corpo do falecido, o que me arrepiou imenso. Muito mesmo. Não fiquei muito mais tempo…
Em Varanasi o rio é mesmo a maior atração turística e ficar sentada nas escadas adjacentes simplesmente a admirar tudo o que se passa, faz do dia muito rico em conhecimento e surpreendente também. Nenhum dia é igual! Todos os dias consegues ver coisas surpreendestes e novas façanhas da via indiana são desvendadas.
Durante as noites ocorrem sempre cerimónias. Existem barcos no rio, montes e montes de barcos que se reúnem ao longo dos Ghats para assistir à cerimónia e ouvir as explicações dos seus guias sobre o que se está a passar. Fi-lo com o pessoal do hostel uma noite e é muito interessante ouvir o que têm para contar.
Varanasi está repleta de homens vestidos de cor de laranja que se pintam de branco. Eles são o equivalente aos monges. Um dia em que me sentei ao lado deles, vi como os indianos se ajoelham perante as suas figuras com preces, como se estivessem a ser abençoados.
Por Paula Carvalho, autora do blogue While You Stay Home
Comentários